Mergulhar nos pecados do passado pode ser uma viagem só de ida.
O solitário Daniel é um jornalista negro que escreve para a seção investigativa de uma revista independente. Ao saber da trágica morte de Romeu, seu melhor amigo de infância, ele decide voltar à sua cidade natal, Ubiratã, para investigar o caso, o qual a polícia prontamente concluiu ter sido suicídio.
Após dez anos longe, Daniel se vê de volta à pequena cidade onde cresceu. Seu regresso à casa é problemático. Bissexual, ele sempre se sentiu deslocado naquele bairro separado do resto da cidade por um rio. A nova companhia de teatro, figuras políticas da cidade, os membros de uma seita religiosa e famílias que não querem ser incomodadas são viradas de cabeça para baixo com a presença do jornalista e sua investigação criminal.
Há, também, algo do passado de Daniel de que ele não consegue – ou não quer – lembrar. Em vez de memórias, tem visões de um menino, que aparece para ele com mensagens indecifráveis. Agora, quanto mais se aproxima da verdade, mais visões tem e mais ele deve descobrir sobre si mesmo.
FICHA TÉCNICA
Título: O Beijo do Rio
Autor: Stefano Volp
Editora: HarperCollins Brasil
Número de Páginas: 336
Ano de Publicação (nova edição): 2022
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RESENHA: O Beijo do Rio
O Beijo do Rio foi meu segundo contato com a escrita de Stefano Volp e se mostrou exatamente o thriller que eu procurava. Publicado pela editora HarperCollins e primeiramente enviado pelo clube de assinatura TAG Inéditos, me proporcionou uma leitura voraz, que devorei em um só dia.
Daniel é um jornalista que se afastou da família e dos traumas na cidade natal para reconstruir a vida em São Paulo. Contudo, ao saber da morte de um amigo de infância, ele se sente impelido a retornar à pequena cidade para investigar, já que não acredita que Romeu tenha se suicidado. Quanto mais se inteira do caso, mais Daniel é assolado por alucinações com um garoto, colocando em risco sua estabilidade mental.
Por meio de capítulos curtos e uma escrita ágil, que contextualiza bem o leitor sem se perder em descrições que interrompem a história, O Beijo do Rio foi um livro que não consegui parar de ler. A narrativa em terceira pessoa traz principalmente a perspectiva de Daniel, fazendo uso do discurso indireto livre para aproximar o leitor da mente do protagonista, mas apresenta também o ponto de vista de outros personagens, quando é necessária uma visão mais ampla dos fatos. Embora o enredo apresente a investigação de um caso policial, o fator psicológico é também de suma importância, não apenas abordando com sensibilidade questões de saúde mental, mas impactando diretamente a narrativa, que apresenta sobretudo impressões.
— Quando a gente mora no fundo de uma cisterna por muito tempo e depois vai até a superfície, o lado de fora parece tão perfeito que a gente sente falta do escuro.
Se elas, nada nítidas, são essenciais na compreensão do todo, as personagens são muito bem delineadas e construídas; em geral, fora de uma dicotomia entre bem e mal. As personalidades são complexas e definidas também a partir das críticas que O Beijo do Rio faz ao ultraconservadorismo, às questões de raça e de sexualidade.
O final foi de tirar o fôlego. Ainda que eu tenha adivinhado partes dele, a narrativa se torna cada vez mais frenética nos últimos capítulos. Ao finalizar, senti a compreensível angústia pelo conteúdo que O Beijo do Rio denuncia, mas estava também em êxtase pela leitura ter sido tão proveitosa e nada cansativa. Embora tenha devorado o livro em poucas horas, mal senti o peso das páginas, tamanha habilidade de Stefano Volp com as palavras.
Não vejo a hora de ler outras obras do autor, já que minha experiência com O Beijo do Rio e Nunca Vi A Chuva foram extremamente positivas — o que também é digno de nota, já que as obras são bastante diferentes entre si. Stefano Volp é um autor versátil, cuja escrita é capaz de envolver e causar identificação, ingredientes poderosos em leituras marcantes. Fica apenas o aviso de gatilho para menção à suicídio e à abuso infantil.