[Resenha] Reflexos do Passado — Paola Aleksandra

Em um dos momentos mais intensos da sua vida, Cecília decide permanecer em São Paulo e enfrentar os desafios da maternidade longe da família.Contudo, a distância física ganha um novo nome quando um vírus surge para prendê-la em casa. Preocupada com a saúde do filho, ela passa os dias lutando contra a ansiedade, o medo e a solidão. Mas tudo muda no dia em que o destino a presenteia com palavras, fotos e memórias repletas de fé.
Ao olhar para o passado, Cecília descobrirá quantas lutas foram travadas para que as mulheres da sua família sobrevivessem.
E, inspirada por tamanha força, desafiará o presente ao dar vida à esperança.

Ficha Técnica

Título: Reflexos do Passado
Autor: Paola Aleksandra
Editora: Outro Planeta
Número de Páginas: 60
Ano de Publicação: 2020
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Resenha: Reflexos do Passado

Reflexos do Passado é o primeiro trabalho contemporâneo de Paola Aleksandra, autora dos romances de época Volte Para Mim e Livre Para Recomeçar. Publicada pela editora Planeta em formato digital, a novela faz parte de uma coletânea de histórias curtas que retratam diferentes experiências durante o período de isolamento social.

Cecília está nas semanas finais de sua gestação. Quando descobriu a gravidez, ela havia optado por permanecer em seu apartamento em São Paulo, longe da família em Goiás, sem supor que uma pandemia estava por vir. Agora, sozinha, ela lida com as dificuldades e receios próprios de sua fase de vida, intensificados pelos medos trazidos com a pandemia.

Reflexos do Passado tem uma leitura rápida não apenas por sua estrutura em si ser menor do que a de um romance, mas principalmente pela capacidade de envolvimento que a leitura proporciona. A narrativa de Paola Aleksandra em primeira pessoa é ágil e fluida, apesar de sua bagagem emocional, fazendo com que navegar pela história seja agradável e convidativo. Os detalhes da rotina e do ambiente de Cecília se mesclam às reflexões de maneira natural, de forma que é muito fácil se sentir próxima da personagem. Mesmo sem viver o que ela passa — a gravidez —, me identifiquei com muitas das suas emoções, já que elas estão intrinsecamente conectadas à experiência da quarentena: o distanciamento das pessoas próximas de nós, o medo do vírus desconhecido, a tristeza pelas mortes, o receio de um futuro incerto. Também, gostei demais da personalidade de Cecília que, mesmo assertiva, ainda assim abriga tantas fragilidades, soando real e extremamente humana.

Algo que ajuda Cecília a lidar com sua interioridade é a leitura do diário de sua avó, Helena, narrando como foi se descobrir grávida anos antes, em meio ao período de ditadura militar. Mesmo que a trajetória de Helena apareça de forma mais resumida, já que não é o foco da novela, ainda assim aponta aspectos importantes da história do país, o que funciona tanto como um lembrete dessa época sombria — e que não pode, em hipótese alguma, ser diminuída — quanto demonstra uma possibilidade de esperança e recomeço futuros, o que se faz extremamente necessários em momentos tão instáveis e incertos como o nosso atual.

Mas mais do que um registro histórico, o diário de Helena é um lembrete para Cecília de suas origens. Ao encarar a trajetória de sua avó, a protagonista é lembrada da continuidade da vida, de que sua existência só foi possível através da vivência de seus antepassados. Com isso, Cecília se enxerga como parte de um todo, carregando em si toda uma linhagem — que será continuada com o nascimento de sua filha. Esse foi, para mim, o ponto mais emocionante da leitura, sendo a cena do parto uma das mais lindas de toda a novela.

O que posso dizer é que eu amei a leitura, seja por ter sido tão gostosa, seja por aquilo que Reflexos do Passado apresenta, com destaque para a habilidade de Paola Aleksandra em ter ido além do isolamento de Cecília sem que perdesse o ritmo da narrativa. Foi como se Cecília tivesse me convidado para conhecer seu apartamento e minha estadia tivesse sido extremamente aconchegante e acolhedora. Vê-la travar uma batalha interna tão cheia de altos, baixos e diferentes nuances me emocionou por ser algo tão próximo do que cada um de nós tem vivido a seu próprio modo. Mais do que tudo, vê-la sair vitoriosa de suas lutas foi inspirador.