[Resenha] Baixo Esplendor — Marçal Aquino - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
03

dez
2021

[Resenha] Baixo Esplendor — Marçal Aquino

O ano é 1973, um dos períodos mais duros da ditadura militar no Brasil. É num ambiente contaminado pela paranoia que se move Miguel, um agente do setor de Inteligência da polícia civil cuja especialidade é se infiltrar em quadrilhas sob investigação. Numa das operações, ele se aproxima de um grupo de ladrões de carga, tornando-se íntimo de Ingo, o chefe, que não só apadrinha sua entrada no bando como lhe apresenta a irmã, Nádia, com quem Miguel inicia um relacionamento que tem no sexo seu ponto de combustão.
Profissionalmente vaidoso, Miguel acredita que, na hora adequada, não terá dificuldades para romper os laços surgidos durante a operação. Mas as coisas não saem como ele imagina: apaixonado por Nádia, o policial se vê surpreendido por dúvidas sobre de que lado irá ficar quando o cerco se fechar sobre a quadrilha.
Com uma prosa ágil e intensa, Aquino confirma seu nome entre os melhores da ficção brasileira contemporânea. O mundo do crime nunca foi tão sensual quanto em Baixo esplendor.

 

Ficha Técnica

Título: Baixo Esplendor
Autor: Marçal Aquino
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 264
Ano de Publicação: 2021
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Resenha: Baixo Esplendor

Baixo Esplendor marca o retorno de Marçal Aquino aos romances adultos, após 16 anos de publicação do renomado Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Jornalista e roteirista, o autor assina diversos títulos policiais na coleção infanto-juvenil Vagalume, gênero que agora retoma, porém destinado a um público mais velho.

O livro se passa no início da década de 1970, durante um dos períodos mais violentos da Ditadura Militar. Traz a história de Miguel, policial que trabalha infiltrado e, não apenas desenvolve laços de amizade com os criminosos que investiga, como também se apaixona por Nádia, irmã de um deles.

Violência, paixão, sensualidade e ação se misturam em uma trama intensa, marcada por um forte apelo sinestésico, sobretudo visual, tátil e olfativo. A escrita de Marçal Aquino é direta, muitas vezes crua, que, muito habilmente, faz o leitor mergulhar no cenário do submundo do crime. Há, também, diversas menções e descrições relativas ao corpo, seus fluidos e cheiros, o que contribui para os aspectos sensoriais da obra; aliás, os aspectos de adrenalina, romance e brutalidade aparecem simbolizados nas três diferentes partes nomeadas da obra: Suor, Sêmen e Sangue. Também, da mesma maneira que violência e paixão aparecem misturadas em Baixo Esplendor, quase que indissociáveis, o mesmo ocorre com a narrativa em terceira pessoa e os diálogos, que, embora marcados por separação de parágrafos, não são sinalizados por aspas ou travessão. Há momentos, ainda, em que certa repetição de passagens simbolizam a característica circular dos eventos nos quais Miguel está envolvido.

Muito me chamou a atenção a característica sensível que permeia a leitura, quebrando parte da agressividade do cenário policial. Os laços que Miguel desenvolve, seja por Nádia, seja por Ingo e Moraes, seja pela cadela Bibi, humanizam ainda mais o personagem e trazem mais camadas para a leitura, inclusive possibilitando discussões morais e éticas a partir delas. Também, há o paradoxo de, embora sentirmos conhecer o protagonista em sua essência, termos a noção de ser essa apenas uma impressão: assim como Nádia ao longo de boa parte da narrativa, sequer sabemos de fato seu nome real, o que vem prenunciado desde a primeira página do romance. Dessa maneira, o que Marçal Aquino mostra é que Miguel permanece um mistério não solucionado para nós.

Em linhas gerais, Baixo Esplendor proporciona uma leitura rápida, uma vez nela imersa, e impactante, seja por seu vocabulário tanto áspero quanto sensível, seja pelos próprios rumos tomados pela trama. Certamente me deixou ainda mais curiosa para conhecer a obra de maior sucesso de Marçal Aquino.





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