Título: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios
Autor: Marçal Aquino
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 232
Ano de Publicação: 2005
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No momento em que narra os fatos de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, o fotógrafo Cauby está convalescendo de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará que algum tempo antes fora palco de uma corrida do ouro. Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico. A trajetória do fotógrafo, dado a premonições e a um humor desencantado, vai sendo explicada por meio de pistas – a história de Chang, mor-to num escândalo de pedofilia; o mistério de Viktor Laurence, jornalista local que pre-para uma vingança silenciosa; a vida de Ernani, que no passado tirou Lavínia das ruas e das drogas. Mesmo diante de todos os riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos. Nunca acreditei no diabo , diz ele, apenas em pessoas seduzidas pelo mal .
Um livro intenso, com personagens dinâmicos e nada previsíveis e com um toque poético que o torna único e inesquecível.
A trama se passa numa cidade no interior do Pará – um lugar repleto de hostilidades e de uma constante nebulosidade, que paira sob a vida dos moradores locais. Existe um forte conflito na área entre garimpeiros e os donos de uma mineradora, sem contar o caos constante que ronda o lugar, mas já transformado em rotina e normalidade.
Em meio a esse cenário, conhecemos o fotógrafo Cauby, um quarentão charmoso que aprecia música clássica, bons livros e que tem como animal de estimação um tatu, fato, no mínimo, interessante. Nosso fotógrafo é praticamente um forasteiro nessa cidade, sua intenção era passar nela pouco tempo para concluir um trabalho, mas acaba se instalando por lá durante um período de tempo um pouco maior do que o planejado. Isso ocorre, sobretudo, quando ele se apaixona perdidamente por Lavínia, uma mulher de beleza ímpar e de personalidade um tanto quanto instável. Essa paixão arrebatadora o tira do eixo e muda completamente a vida de Cauby, só que há um detalhe: Lavínia é casada com o pastor da cidade e esse é só um dos aspectos que torna essa história de amor proibida e perigosa.
A história é narrada em primeira pessoa por Cauby e a trama é incrivelmente dinâmica e fluída. Na medida em que se passam os capítulos, percebemos que a história mescla acontecimentos do presente e do passado fazendo com que o leitor capte a essência de cada um dos personagens, e todos eles foram genialmente bem construídos, de modo que nenhum segue um padrão de certo ou errado, de bom ou de mal, cada um tem seus defeitos e qualidades; eles são humanos, são reais e parecem estar sempre caminhando na beira de um precipício, causando em quem lê sensações das mais variadas, como torcer por alguns, ignorar certas características de outros, despir-se de preconceitos ou julgamentos antecipados e até mesmo de nos fazer imaginar o sofrimento consequente dos dissabores vividos por eles, que parecem tão palpáveis.
Desse modo, dentro dessa história, além dos nossos personagens centrais Cauby e Lavínia, que vivem um amor visceral e arrebatador, há outros personagens interessantes e peculiares que também tiveram destaque, como o Careca, homem que passa o resto dos seus dias lembrando de um amor platônico que viveu na juventude. Este e tantos outros personagens demonstram a habilidade da escrita do autor que, a cada página, surpreende e promove em nós leitores um turbilhão de sentimentos, sendo o maior deles a vontade de não desgrudar do livro até saber como essa história termina.
Para deixar o livro ainda mais perfeito e poético, o autor colocou na trama um elemento chave muito interessante: um livro de um terapeuta que fala sobre amor, suas dores, consequências e teorias, e Cauby o consulta durante toda a narrativa e cita várias passagens no decorrer dos capítulos, passagens essas que tem tudo haver com as situações pelas quais ele estava passando e que, de um modo ou de outro, se encaixava perfeitamente naquele momento da narrativa.
O livro é repleto de reviravoltas do tipo que, quando mal terminamos de nos surpreender com um fato, ocorre outro mais incrível ainda e isso é fantástico. Prova mais uma vez o quanto a escrita de Marçal Aquino é brilhante, ele sabe o que faz e faz de forma plena e bem feita. Foi uma leitura envolvente, ágil, poética e surpreendente. A literatura nacional está muito bem representada por esse autor e por seu romance de título esplendido e de valor inestimável.
Nãi li o livro mas vi o filme tem algum tempo. Suponho que sejam um pouco diferentes (como quase sempre acontece) mas gostei do filme só o achei incompleto…
O livro parece lindo e tenho muita vontade de ler, agora fiquei mais ainda.