Título: Todo Mundo Merece Morrer
Autor: Clarissa Wolff
Editora: Verus
Número de Páginas: 168
Ano de Publicação: 2018
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Treze vidas que se cruzam por acaso e se tornam ligadas por um assassinato. O massacre planejado é impedido por um corajoso jornalista. O padre ali presente logo chama socorro e abençoa a alma altruísta que ajudou a evitar a tragédia.
Um pobre medico morreu, vítima de um crime sórdido, que acabou com a vida de um homem de bem. Felizmente os demais passageiros estão a salvo.
A narrativa padrão, habitualmente construída pela sociedade, é deixada aos pedaços por Clarissa Wolff nesta história em que ninguém é o que parece. Neste grupo heterogêneo de pessoas, uma coisa é certa: não há possibilidade de salvação.
Todo Mundo Merece Morrer é o romance de estreia de Clarissa Wolff. Ambientado na cidade de São Paulo, o livro percorre cenários e realidades alternativas para revelar as faces mais sombrias das personagens através da narrativa crítica e versátil da autora.
Um crime acontece dentro de um metrô da Linha Verde paulistana. As poucas pessoas presentes no vagão trazem cada uma sua própria vivência, e são essas histórias individuais que serão retratadas ao longo das páginas. Por detrás da narrativa, constrói-se aos poucos a questão respondida no próprio título do livro: quem merece viver?
A noite já tomou as ruas da cidade, e as luzes dos carros criam caminhos coloridos alguns palmos do chão. Ele respira fundo, tragando o ar poluído do Centro, os odores de mijo, gordura de restaurante e gasolina se misturando. Tenta sorrir e recuperar a sensação de contentamento e poder que o dominou logo antes de pegar no sono, mas, enquanto se dirige para a estação do metrô, percebe que não vai voltar tão cedo: se perdeu ao fechar os olhos.
página 40
Mais do que um romance típico, diria que Todo Mundo Merece Morrer é uma coletânea de contos, uma vez que cada capítulo traz a história de uma personagem diferente. A única coisa que as une é o assassinato no metrô; nem mesmo há um narrador em comum, uma vez que alguns capítulos são apresentados em primeira pessoa, outros em terceiro, e a narrativa em todos varia de acordo com as características de cada personagem. Dessa maneira, a versatilidade da escrita não está apenas na multiplicidade de vidas narradas, mas especialmente na pluralidade de vozes presentes. A escrita ora é mais formal, ora mais coloquial, muitas vezes carregada de gírias, expressões e construções tipicamente paulistanas, e o mais interessante não é como a linguagem aparece simplesmente para criar contrastes entre as personalidades das personagens, mas para reforçar onde estão posicionadas no mundo.
A habilidade narrativa de Clarissa Wolff é incrível. Em poucas páginas, ela consegue tragar o leitor, despertar os mais diversos sentimentos e fazer de cada personagem alguém bem delineado, complexo e consistente. Alguns capítulos me deixaram completamente indignada, enojada ou com raiva, enquanto outros me despertavam pena. Independentemente da sensação suscitada, o que está presente em todos os contos é um olhar acurado e crítico que revela tudo o que se esconde por detrás de status e aparências: contradições, preconceitos, egoísmos, maldades, receios, limitações. E, ao mesmo tempo em que constrói cada retrato, a autora toca em temáticas atuais e de extrema relevância, mas sem discuti-las, porque esse não é o intuito: Todo Mundo Merece Morrer expõe os problemas e deixa ao leitor a tarefa de lidar com eles. Não cabe ao livro trazer resoluções; ele apenas aponta as questões e, inevitavelmente, incomoda através daquilo que externa. Em consequência, é esse incômodo que faz com que o leitor reflita sobre o que está lendo.
E agora estava eu aqui, no Paraíso, recém-saída da Liberdade. E, de lá, parei na Consolação.
O metrô de São Paulo é todo poesia.página 105
Também, vale dizer que São Paulo não aparece apenas como um cenário da trama, mas quase que como uma personagem — senão a protagonista. As diferentes localizações da cidade não são meramente citadas, mas construídas em conjunto das personagens que por elas passam. Hábitos e pontos turísticos paulistanos estão presentes em cada virar de página e dão vida à terra da garoa. Todo Mundo Merece Morrer é, também, uma ode à capital mais populosa do Brasil.
Em linhas gerais, posso dizer que finalizei a obra de Clarissa Wolff completamente impactada. Cada capítulo trouxe um diferente “tapa na cara” e me afetou de forma única, além da leitura em si ter sido envolvente ao extremo. Todo Mundo Merece Morrer é daqueles livros em que nada é como parece ser, porque nada é simples: aqui, bem e mal se misturam em um jogo de interesses particulares, no qual cada realidade é quem dita suas próprias regras.
Olá Aione,
O livro tem um título bem sugestivo, já começa a curiosidade por ai, gosto também da ambientação, amo São Paulo, mas um crime dentro do Metrô é algo bem real na cidade.
O legal da história é como a autora desvenda todos os protagonistas, nos dá a primeira impressão deles, e depois as quebra mostrando as verdadeiras faces, não tem como conter esse misto de sentimentos.
Bom ver que além de incrível, é um livro nacional, só me agrada mais!
Beijos