Título: Os Segredos Que Guardamos
Título original: The Secrets We Kept
Autor: Lara Prescott
Tradução: Alessandra Esteche
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 368
Ano de Publicação: 2020
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Inspirado em uma missão real da CIA durante a Guerra Fria, Os segredos que guardamos mostra, de maneira romanceada, como a Agência de Inteligência americana apostou em Doutor Jivago, uma das obras-primas do século XX, para mostrar aos soviéticos o poder de mudança da literatura.
O plano era simples: imprimir no exterior Doutor Jivago em russo e contrabandear exemplares da obra que teve sua publicação proibida na União Soviética por ir contra a ideologia do Estado. Para tanto, a experiente e glamorosa espiã americana Sally Forrester deve treinar a novata Irina, uma simples datilógrafa da Agência, a fim de infiltrar o texto no país natal de seu autor, Boris Pasternak, vencedor do Prêmio Nobel com esta obra, porém obrigado por seu governo a rejeitá-lo.
Apesar de todo o potencial revolucionário, Doutor Jivago é também uma brilhante história de amor. A inspiração por trás de Lara, a icônica heroína da trama, é Olga Ivinskaia, musa de Pasternak. Os dois mantiveram um caso por décadas, uma relação intensa que sobreviveu à passagem do tempo, às ameaças de um regime autoritário e até aos anos de Olga em um gulag.
Assim, mulheres de ambos os lados da Cortina de Ferro protagonizam essa obra que mostra que, embora a história seja escrita pelos vencedores, é nos bastidores que o destino do mundo é forjado. Amantes, espiãs, datilógrafas. Fortes e corajosas, essas personagens ganham vida nessas páginas e são exemplos de que determinados segredos não devem ser guardados.
A história da autora é tão interessante quanto o livro, por essa razão eu começo falando um pouco sobre Lara Prescott, formada em jornalismo, que entrou no mundo da literatura com Os Segredos Que Guardamos, um manuscrito muito disputado para publicação nos EUA. Hoje, traduzido para mais de 28 idiomas, sua adaptação para o cinema já está confirmada.
Lara tem esse nome por causa da protagonista de Doutor Jivago, livro que rodeia toda a premissa de seu romance e que foi considerado antipatriótico pelo governo soviético na década de 1950. Ela começou a escrever em 2014, quando a CIA divulgou documentos que detalhavam a missão da agência para levar a obra de Boris Pasternak para seu território de origem, utilizando esse conteúdo como arma contra a URSS. Com o prêmio Crazy Horse Fiction Prize de 2016 por uma versão dos primeiros capítulos, já é possível esperar que Os Segredos que Guardamos se tornaria um marco nos lançamentos de 2020.
Um livro escrito no país e considerado antipatriótico se torna a maior arma que os EUA tem contra a URSS. O problema está em trazer esse conteúdo além da Cortina de Ferro e, após sua impressão, inserir a obra em sua terra natal, novamente. É com base nessa premissa que encontraremos mulheres envolvidas em segredos perigosos, informações que podem causar a própria morte. Na Rússia, temos Olga, a amante e musa de Bóris Pasternak. É com ela que vamos conhecer os campos de trabalhos forçados e o poder de um amor completamente dedicado ao autor de Doutor Jivago. E, dividido por três visões importantes, nos EUA conheceremos as Datilógrafas e seu trabalho de ouvinte dos segredos da missão Jivago, além de duas outras mulheres com suas histórias paralelas, seja com a veterana agente secreta Sally ou com Irina, a novata. Indo a campo, ouvindo através de fofocas, não tem como se desprender dos segredos dessa missão, o cerne da obra.
Sempre gostei muito de livros que se baseiam em fatos reais, não sei explicar, mas meu afeto pelo personagem acaba surgindo com maior facilidade e peso. E foi o que aconteceu aqui. Olga, a musa e amante de Bóris, foi uma mulher, mãe, que ao invés de esperar que o tempo resolvesse seus problemas, ela arregaçou as mangas e mostrou o motivo de ser tão forte e inquebrável. Irina, ainda que toda a sua pessoa fosse um exemplo de sutileza, de alguém que esconde seu verdadeiro poder como mulher, ela transpassa um senso de coragem e lealdade através de suas pequenas ações e seus pensamentos intensos. Ainda temos Sally, que é o oposto de Irina, que tudo nela berra, grita: “Olhe para mim”, quando por dentro ela só quer parar de ter de guardar tantos segredos, coisas que pesam em sua alma.
É uma obra sobre mulheres para o mundo, provando mais uma vez com os capítulos das Datilógrafas que não se deve subjugar a mente e a capacidade feminina em resolver problemas, em enfrentar coisas, em criar planos, em descobrir segredos Nossa força está guardada na capacidade de sabermos quando e como agir. Quando vejo um livro representando tão bem essa característica da qual me orgulho ter, sinto uma imensa gratidão e respeito, afinal, assim como Os Segredos que Guardamos aponta, demorou muito para a sociedade perceber esse valor.
Ao concluir a última página fiquei triste, não pelo final ou por ter em algum momento me decepcionado. Na verdade, o sentimento que me preencheu foi de um adeus doloroso, pois quando penso nele sei que encontrei de alguma forma uma casa debaixo dessas palavras, da escrita primorosa da Lara Prescott. É difícil deixar algo assim ir embora.
Um desenvolvimento como esse, que te prende, que dá a sensação de estar naquele lugar e ser preenchido pela força das reflexões, das paixões proibidas, dos segredos devastadores faz com que seja impossível não se emocionar. É a luta desesperada pela sobrevivência!
Quando comecei a ler Os Segredos que Guardamos senti que tinha encontrado um livro especial e não foi para menos, essa é uma das experiências literárias que, posso dizer, entrou para as melhores que tive na vida.
Ainda não sei se a sensação de virar a última página de um livro incrível é boa ou angustiante. Por um lado é maravilhoso terminar a leitura com a certeza de que foi 5 estrelas, mas por outro é muito triste precisar dar adeus aos personagens que se tornaram pessoas do nosso convívio… Eu sou apaixonada pelo filme Doutor Jivago, nunca li o livro, o que é um grande erro… Também sou aficcionada em tramas que se baseiam em fatos reais, elas prendem a minha atenção do início ao fim. Eu gostaria muuuuito de poder ler este livro. Parabéns pela resenha!!!
Van Meiser