[Resenha] Pequena Coreografia do Adeus — Aline Bei - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
09

nov
2021

[Resenha] Pequena Coreografia do Adeus — Aline Bei

Julia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem escritora tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares.
Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Julia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis.
Escrito com a prosa original que fez de Aline Bei uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea, Pequena coreografia do adeus é um romance emocionante que mostra como nossas relações moldam quem somos.

 

Ficha Técnica

Título: Pequena Coreografia do Adeus
Autor: Aline Bei
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 282
Ano de Publicação: 2021
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Resenha: Pequena Coreografia do Adeus

Pequena Coreografia do Adeus é o segundo romance de Aline Bei, conhecida por O Peso do Pássaro Morto, e seu primeiro pela Companhia das Letras. Foi também meu primeiro contato com sua escrita — e pude compreender os tantos comentários mais do que positivos ao redor de suas obras.

Aqui, acompanhamos a vida de Júlia Terra em diferentes fases, da infância à vida adulta. O livro é dividido em três blocos temporais, conectados às faixas etárias da protagonista, em uma prosa constituída em versos. O romance de Aline Bei é poético, senão por sua estrutura experimental, por sua linguagem tão rítmica e simbólica. Cada palavra é usada com cuidado para transmitir não só seu significado específico, mas abraçar outros tantos — e os significados são ressignificados a cada página a depender de sua formatação na página. Nessa experiência de leitura, não lemos apenas os vocábulos, mas também seu contexto de aplicação.

Pequena Coreografia do Adeus traz como centro narrativo a busca de identidade de Júlia, entremeada a sua relação familiar, uma vez que quem Júlia é está diretamente ligado ao que ela vive. Temas como violência e abandono saltam a cada página e impressionam pela força com que são recebidos, especialmente na voz da narradora criança. É de se admirar, também, como as emoções e traumas que pouco a pouco vão constituindo a protagonista são somatizadas e trabalhadas por meio de seu corpo, seja pelas transformações que nele ocorrem durante a puberdade, seja pela forma de como Júlia procura uma forma de expressar os sentimentos em algo concreto, em seus odores, fluídos, pele, contornos.

Entre sonhos, traumas, dores e anseios, Pequena Coreografia do Adeus é um relato cru, doloroso, belo e poético da vida de uma mulher marcada, em iguais proporções, pela dor e pelo amor — senão o que efetivamente recebe, o que deseja em quase desespero. E é esse desespero que nos faz transitar pelas páginas, como se em busca de ar, na expectativa do alívio — que não se concretiza como almejado. Mas, se não desistimos da espera, é porque Júlia também não desiste: de compreender, de sonhar, de encontrar o que talvez ela nem tenha consciência. Assim, a poesia de Aline Bei se faz na tentativa de dar forma e significado ao que há de mais profundo em termos de sentimentos, e de incompreensível, em termos de ações. 

Foi uma leitura extremamente sensível e impactante, que me deixou ainda mais curiosa por conhecer mais do trabalho da autora. Li quase que de uma só vez, incapaz de interromper a fluidez que se dá quase que em uma triste coreografia, mas é também o tipo de livro que pode pedir para ser lido aos poucos, exigindo pausas para se recuperar o fôlego.





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2 Respostas para "[Resenha] Pequena Coreografia do Adeus — Aline Bei"

Carol - 10, novembro 2021 às (10:39)

Gosto de livros com mulheres que trazem um ponto de mudança em suas vidas, são inspiradoras. Obrigada pela indicação!

Maxwell F. Dantas - 14, janeiro 2022 às (08:05)

Estou no meio do livro. Este é real.ente um livro de afetos, sofrimentos e sensibilidade, que são elementos que precisam ocupar nossas reflexões, pelo menos de vez em quando, para que o autoconhecimento possa oferecer opções de reversão de cenários difíceis, porque que a vida é pesada, não temos dúvidas.

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