[Resenha] Pachinko — Min Jin Lee - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
15

dez
2020

[Resenha] Pachinko — Min Jin Lee

No início dos anos 1900, a adolescente Sunja, filha adorada de um pescador aleijado, apaixona-se perdidamente por um forasteiro rico que frequenta a costa perto de sua casa, na Coreia. O gàngster cuja fala emula um sotaque japonês e cujas roupas se distinguem das de todos na região promete a ela o mundo. Então Sunja engravida e descobre que ele já é casado. A jovem se recusa a ser comprada como amante, e sua vergonha e desonra em dar à luz um criança fora do casamento se amainam no último minuto, com o pedido de casamento de um pastor religioso que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de abandonar o lar e rejeitar o homem poderoso de quem engravidou dá início a uma saga dramática que se desdobrará ao longo de gerações por quase cem anos, acompanhando os destinos daquela criança ilegítima gerada na Coreia e de seu futuro irmão, filho do pastor.

No romance movido pelas batalhas enfrentadas pelos imigrantes, os salões de pachinko – o jogo de caça-níqueis onipresente em todo o Japão – são o ponto de convergência das preocupações centrais da história: identidade, pátria e pertencimento. Para a população coreana no Japão, discriminada e excluída – como Sunja e seus descendentes -, os salões são o principall meio de trabalho e a chance de tentar ascender financeiramente. Como no jogo, em que bilhas metálicas ricocheteiam aleatoriamente entre pinos e alavancas, a escritora Min Jin Lee lança seus personagens de encontro aos acontecimentos, à paixão e ao sofrimento, em uma narrativa que várias vezes muda de direção, e mesmo assim, ressoa intimamente em quem lê. Porque o que encontramos em Pachinko é, a bem da verdade, um panorama da vida como a vivemos, caótica e imprevisível.

Na trilha dos grandes romances que conhecemos, a saga escrita por Lee resiste a qualquer tentativa de resumo, porque a história em si é um personagem. A cada vez que a narrativa mergulha no que poderíamos chamar de sua espinha dorsal – a colonização japonesa na Coreia, a vivência da Segunda Guerra naquela porção da Ásia, o cristianismo, as relações familiares, o papel da mulher ao longo das décadas – o livro se torna algo ainda maior. Das movimentadas ruas dos mercados aos corredores das mais prestigiadas universidades do Japão, passando pelos salões de apostas do submundo do crime, os personagens complexos e passionais – mulheres fortes e obstinadas, irmãs e filhos devotados, pais abalados por crises morais – sobrevivem e tentam prosperar, indiferentes ao grande arco da história.

 

Ficha Técnica

Título: Pachinko
Título original: Pachinko
Autor: Min Jin Lee
Tradução: Marina Vargas
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 528
Ano de Publicação: 2020
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Resenha: Pachinko

Pachinko foi o 25º livro enviado pelo Intrínsecos. Escrito pela sul coreana Min Jin Lee, a obra retrata a vida de uma família de imigrantes coreanos que luta para superar as injustiças e ganhar seu espaço em um país que rejeita sua humanidade.

Em 1900, Sunja, uma adolescente adorada por seus pais, se apaixona perdidamente por um rico e misterioso forasteiro. Ao se encantar com a promessas de mundo dele, Sunja se entrega ao amor e gera dentro dela o fruto dessa relação. O problema é que seu amado é casado com outra mulher e tem três filhas no Japão. Ressentida pela traição, Sunja recusa as diversas propostas dele ao garantir estabilidade, mas não casamento. Em vez disso, para salvar sua reputação  e de sua família, aceita se casar com um gentil e doente pastor, Isak. Contudo, esse mesmo homem está apenas de passagem pelo seu vilarejo, rumo ao Japão, e promete dar o melhor para sua jovem esposa e o filho que adotou como seu. Decidida a abandonar o lar e rejeitar o verdadeiro pai da criança, a saga de reconhecimento em outro país se inicia, um roteiro dramático que se desdobrará em gerações por quase cem anos.

Contudo, por qual razão o livro se chama Pachinko? Os caça-níqueis que faziam muito sucesso em todo o Japão se tornam um ponto de convergência para a história dessa família, onde questões de identidade, pátria e pertencimento são fichas de aposta no jogo de azar que é a vida. Com a frase marcante: “A História falhou conosco, mas isso não importa.”, Pachinko abre as portas para a dura realidade dos Coreanos em meio à discriminação e exclusão da própria humanidade. Essa é uma leitura envolvente, com personagens carismáticos e ao mesmo tempo odiosos, com seus defeitos e virtudes sobressaindo conforme as decisões são tomadas em prol do futuro. Chorei, me apaixonei e aprendi muito mais em quinhentas páginas do que nos vinte e oito anos de vida.

A intolerância emerge nas linhas narrativas com cenários de fome e miséria, abandono e fé, superação ainda que diante da desigualdade. Quando li Pachinko, me lembrei de outro livro fantástico e que também trabalha questões sociais. O Diário de Anne Frank apresenta uma família reclusa que precisa permanecer escondida para sobreviver. O livro de Min Jin Lee, apesar de trabalhar Sunja e seus descendentes de maneira mais liberta, aponta o preconceito em formas muitas vezes velada, na qual recusar empregar imigrantes pode ser uma coisa banal para quem o faz, mas que deixa claro a falência do caráter humano.

Com todos os personagens me transmitindo uma espécie de identificação, a protagonista Sunja é quem mais me despertou empatia. Ela e seu marido Isak tinham um relacionamento que começou por conveniência, mas foi crescendo, enraizando um amor e respeito profundo. Isak em nenhum momento deixou de reconhecer o primogênito da esposa como seu filho, ao contrário, sabia que seus dois meninos o deixariam orgulhoso. Mesmo que na sociedade da época fosse o homem quem ditasse as regras dentro do lar, percebi momentos de decisão por parte de Sunja que necessitou não apenas de coragem, mas a garra de uma mãe pensando na sobrevivência da própria família. Personagens femininos colocando sua voz para defender seus direitos é algo que prezo muito na literatura e Pachinko me permitiu ter vários momentos de vitória contra a submissão da mulher.

Eu poderia passar o dia falando desse tributo à superação, mas encerro apontando o quanto é necessária essa leitura para o desenvolvimento do nosso caráter e percepção das injustiças que ainda nos cercam. É uma obra universal e que se encaixa de forma perfeita com o leitor de qualquer gênero. E para quem ama uma adaptação, Pachinko já foi anunciado para as telonas com grandes atores coreanos. Ansiosa para conferir.





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4 Respostas para "[Resenha] Pachinko — Min Jin Lee"

eliane - 15, dezembro 2020 às (20:34)

que trama hein? estoria de superaçao ,recomeço ,força e respeito . A literatura tem trazido para nos historia desse povo que tanto sofreu e que a gente nem tinha conhecimento , .Acho importantissimo trazer para nós leitores tudo que se passou com as mulheres ,mas tambem trazer a sua incrivel capacidade de superaçaõ .desejo ler sim

RUDYNALVA CORREIA SOARES - 16, dezembro 2020 às (00:23)

Francine!
Acredito que esse livro tem vários incentivos a leitura: primeiro, a cultura asiática que é totalmente diferente da nossa ; segundo, a época, início do século XX; terceiro, fala sobre a imigração e por último, a voz feminina que é exaltada aqui; deve ser um livro que traz grande conhecimento e muita reflexão.
cheirinhos
Rudy

Angela Cunha - 16, dezembro 2020 às (06:53)

Que resenha mais completa!!!Tá, eu admito que havia lido algumas resenhas desse quase calhamaço,mas nenhuma que trouxesse com tanto sentimentos o que essa família passou.
A tradução praticamente perfeita do que muitos enfrentam até hoje. Emocionada somente de ler e espero de coração, poder ter essa lindeza de história em mãos o quanto antes!!!
Beijo

Anna Mendes - 16, dezembro 2020 às (09:29)

Oi Fran!
Gostei demais da resenha!
Nossa, o Clube Intrínsecos vem arrasando no lançamento de obras tão únicas.
Nunca li nada de um autor ou autora sul coreano. Na verdade, sei muito pouco sobre a cultura e a história coreana como um todo.
Pachinko parece ser uma história muito envolvente e com personagens marcantes.
Muito interessante, e também importante, as questões sociais que a autora insere na história, principalmente a questão do preconceito e do papel da mulher.
Que legal que vai ter uma adaptação!
Já vou colocá-lo na minha lista de desejados, porque fiquei realmente com vontade de fazer a leitura.
Bjos!

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