Título: Daqui Pra Baixo
Título original: Long Way Down
Autor: Jason Reynolds
Tradução: Ana Guadalupe
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 320
Ano de Publicação: 2019
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Aos 15 anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está à espreita no dia a dia de seu bairro, nos avisos para que não volte tarde para casa, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Dessa vez, os sussurros são sobre seu irmão mais velho. Shawn foi assassinado na rua onde a família mora.
Contado do ponto de vista de Will, Daqui pra Baixo é uma narrativa ágil que se passa em pouco mais de um minuto — o tempo que o elevador do prédio leva para chegar ao térreo. Esse é o tempo que Will tem para descobrir se vai seguir as regras de sua comunidade ou se é possível não perpetuar o ciclo de violência.
A regra número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar alguém. A terceira, a crucial: se fazem algo com você ou com os seus, é preciso se vingar. A curta trajetória do elevador é ritmada pelas paradas em cada andar e por aqueles que aos poucos ocupam a cabine e os pensamentos de Will. Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.
Originalmente escrito em prosa, depois em verso, Daqui Pra Baixo faz a emoção — a confusão, a revolta, o medo — de um garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.
Romance em versos, Daqui Pra Baixo chama a atenção por sua premissa e se destaca por sua qualidade. Primeiramente enviada no clube Intrínsecos, a obra de Jason Reynolds chegou às livrarias pela Intrínseca em agosto deste ano.
Um jovem de 15 anos viu seu irmão ser morto em consequência da violência do bairro periférico onde mora. Ciente das regras do lugar, que incluem a vingança, ele decide ir atrás do assassino de seu irmão. Então, ao entrar no elevador de seu prédio, começa a refletir sobre sua escolha, e todo o livro será desenvolvido nessa viagem de dois minutos, do andar em que ele mora até o térreo.
Peguei o livro apenas para folheá-lo e, quando dei por mim, tinha terminado a leitura, em um processo que levou menos de uma hora. Como Daqui Pra Baixo é uma poesia em linguagem simples, lê-lo é muito rápido e fácil. Inclusive, fiquei encantada pela habilidade de Jason Reynolds em envolver o leitor, especialmente por construir com maestria todo o cenário da narrativa, bem como as relações entre os personagens, em uma linguagem tão concisa. E, justamente por essa concisão, a potência das palavras é intensificada ao máximo, fazendo com que a história — forte por si só — se torne ainda mais impactante.
Apesar do livro ser considerado Young Adult, a temática nele abordada não se resume a essa faixa etária. Ao contrário, arrisco dizer que, de jovem, ela não tem nada, a não ser que se pense nos tantos jovens obrigados a amadurecer precocemente, como é o caso do protagonista aqui. Daqui Pra Baixo trata da desigualdade sócio-racial e reflete uma realidade injusta, ainda que represente a de muitos, na qual a violência muitas vezes se faz meio de sobrevivência. E se o que a obra reproduz é denúncia, ela como um todo é esperança, é grito de quem viveu uma realidade semelhante para quem ainda vive, dizendo “é possível”. Jason Reynolds transformou resistência em arte e fez dessa arte uma luta.
A edição brasileira merece destaque. Além da belíssima diagramação fazer da experiência de leitura mais atraente e imersiva, é a tradução de Ana Guadalupe que torna essa experiência de fato possível, uma vez que a tradutora conseguiu imprimir, no português, ritmo e fluidez à poesia. Mais do que tudo, há passagens formadas por anagramas e outros trocadilhos, aspectos complicadíssimos de serem reproduzidos na transposição de um idioma para outro, uma vez que às vezes abre-se mão da forma das palavras para manter o sentido delas. Não tive acesso ao texto original, mas o traduzido apresenta as duas características unidas, o que me fez soltar diversas exclamações de admiração ao longo da leitura.
Finalizei Daqui Pra Baixo sem fôlego e com o peito apertado, como se tivesse levado diversos golpes no decorrer das páginas. A escrita de Jason Reynolds é gigante, não só por sua poesia, mas por aquilo que ela se dispõe a tratar. Vale dizer que o final ligeiramente aberto me levou a fazer diferentes interpretações da leitura, o que torna a obra ainda mais literária. Sem dúvidas, um dos melhores livros do ano a que tive o prazer de ler.
Quando vi do que se tratava essa história e na forma com que ela foi escrita, o coração já ficou todo animado de vontade ler.
Por conta disso, olha a magia, você apenas ia folhear o livro e o terminou num tapinha. E oh, não é um livro pequeno não.
A forma com que foi escrito, os segundos de agonia, decisões, dor..tudo ali, exposto, cru e real.
Quantos garotos passam por este tipo de dilema diariamente???
Uma criança tendo que aprender a crescer e na forma mais cruel possível.
Capa maravilhosa, escrita linda, diagramação perfeita.
Quero muito ter esta obra em mãos!!!
Beijo