Título: Carta à Rainha Louca
Autores: Maria Valéria Rezende
Editora: Alfaguara
Número de Páginas: 144
Ano de Publicação: 2019
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Mesclando linguagem histórica e uma crítica profundamente atual, Maria Valéria Rezende cria um romance sem par na literatura contemporânea, no qual mulheres mostram sua força frente às mais impensáveis repressões. Olinda, 1789. Isabel das Santas Virgens, presa no convento do Recolhimento da Conceição, escreve à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca. Em suas cartas, ela, tida por muitos como também lunática, conta os destemperos cometidos pelos homens da Coroa – e por aqueles que galgaram tal posto – contra mulheres, escravizados e todos os que se encontravam mais vulneráveis. Por meio dos tormentos passados por ela e por sua senhora Blandina, nossa narradora expõe o pano de fundo da colonização brasileira e da situação da mulher que ousava desafiar. Com uma pesquisa histórica ímpar e usando o vocabulário próprio do setecentos mesclado a uma linguagem moderna, Maria Valéria Rezende recria com maestria a história de duas mulheres em um período conturbado do passado brasileiro. Como promete à rainha, Isabel conta “toda a verdade sobre o que em Vosso nome se faz nestas terras e a mim me fizeram.”
Carta À Rainha Louca é a obra mais recente de Maria Valéria Rezende, autora laureada diversas vezes com o Jabuti. Nesse romance epistolar, Isabel das Santas Virgens, confinada em um convento, escreve à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca, narrando sua trajetória e as dificuldades sofridas por mulheres, escravos e vulneráveis no final do século XVIII no Brasil.
De tal modo agarrou-me o costume de viver no escuro que, mesmo quando não tinha cópias a fazer, ali entre os papéis e livros me metia pelas noites adentro, a ler tudo que me inspirava a fantasia e me permitiam os restos de vela roubados dos altares ou mesmo algumas brasas vivas que trazia do fogão numa concha de ferro. Aprendi assim a criar dentro de mim mesma lugares de uma vida livre, protegida pelas trevas, da qual ninguém mais podia suspeitar.
pág. 16
O livro se divide em quatro partes, que se referem aos anos de 1789 a 1792, os momentos em que Isabel escreve sua carta. Durante os quatro anos que ela leva para compor a correspondência, sofrendo inúmeras interrupções, ela vai também passando por transformações que ora permitem uma maior organização daquilo sendo dito e ora permitem ao leitor compreender não só sua trajetória anterior ao confinamento, mas aquilo que ela vive enquanto confinada.
As duas primeiras partes do livro aparentam uma maior confusão. Aparentam, pois a confusão é o que se deseja transmitir, não que seja, de fato, algo estrutural da obra. Isabel inicia a carta com o desespero de quem quer falar e, por isso, suas palavras saem quase em um jorro, em um fluxo de pensamentos desordenados que mais são um desabafo do que uma narrativa. Nessas duas primeiras partes, podemos já captar vislumbres do que ainda será contado, passando pelo desafio inicial de desbravar essa escrita convulsa.
Já a terceira parte — a mais longa do livro — traz uma maior organização dos pensamentos e fatos, permitindo enfim ao leitor compreender quem é Isabel e sua trajetória de vida. É aqui que a história, de modo geral, é contada, antes de atingirmos a quarta e última parte, quando então encaramos qual o fim de Isabel.
Carta À Rainha Louca me despertou inúmeras sensações. Apesar da minha confusão inicial no início da leitura, fui impactada pelos tantos relatos de injustiça, tão pertinentes e importantes inclusive em nosso momento atual; afinal, as desigualdades que ainda presenciamos, seja entre gêneros, seja entre raças, têm suas raízes no passado. Ao mesmo tempo, foi impossível não me envolver com a escrita de Maria Valéria Rezende, que consegue ser tanto corrente quanto capaz de se mesclar ao vocabulário do período, muito bem retratado pela autora graças a sua excelente pesquisa histórica.
Peço-Vos benevolência para com esta que Vos escreve uma carta assim desordenada, na qual muitas rasuras haverá, qual delas não me poderei furtar por andarem-me as ideias à roda, de tal modo que eu mesma por vezes me suspeito insana. Como poderia eu, de outro modo, conceber as estranhezas que penso e jamais ouvi pronunciar por outrem?
pag. 11
O que mais me encantou na leitura não foi apenas encontrar a denúncia de uma mulher subjugada de tantas formas possíveis, especialmente por ousar ir além do que a ela era permitido. Carta À Rainha Louca me cativou por ser a luta de uma mulher por sua própria sanidade, porque é através das palavras e do exercício de organização mental que Isabel é capaz de manter um pouco de si. O romance de Maria Valéria Rezende é daqueles que faz encantar e sofrer: encantar, pelo belo trabalho desenvolvido pela autora; sofrer, por tudo que a obra expõe. Leitura recomendadíssima!
Acho válido o contexto do enredo, porque as desigualdades tem as raizes no passado, sei que avançamos muito mas essa luta vai ser eterna … e manter a sanidade será sempre o caminho… gostei dos trocadilhos apesar de não ter lido o livro, achei interessante 🤔