[Resenha] O Colecionador — John Fowles - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
12

fev
2019

[Resenha] O Colecionador — John Fowles

Título: O Colecionador
Título original: The Collector
Autor: John Fowles
Tradução: Antônio Tibau
Editora: Verus
Número de Páginas: 352
Ano de Publicação: 2018
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“O Colecionador” é o primeiro livro de John Fowles, escrito em 1963. O romance narra a história de Frederick Clegg, um funcionário público que coleciona borboletas e, subitamente, se torna dono de uma fortuna. Ele então passa a ter uma ambição: seqüestrar a bela Miranda, seu amor platônico. A trama se desenvolve com a disformidade da personalidade de Clegg, que tem a seu favor apenas a superioridade de força, contra a vitalidade e inteligência de Miranda que, contando com sua superioridade de caráter, confunde e ofusca o medíocre seqüestrador.

O Colecionador, romance de estreia de John Fowles, ficou anos esgotado no Brasil, apesar de já ser considerado um clássico de sua época. Publicado pela primeira vez em 1963 e adaptado para o cinema dois anos depois, foi finalmente relançado pela Darkside Books em 2018 em uma primorosa edição que, além de belíssima, reúne a introdução de Stephen King escrita em 1989 e um posfácio de Antônio Tibau, tradutor da obra, com alguns apontamentos referentes às muitas citações artísticas que aparecem ao longo da trama.

Frederick Clegg é um homem solitário, que coleciona borboletas. Obcecado por Miranda Gray, jovem que ele acompanha e observa de longe, encontra a oportunidade de tê-la em sua vida quando ganha na loteria e passa a planejar o sequestro da moça.

O Colecionador não é angustiante apenas por ser o relato de um sequestro, mas sobretudo por toda habilidade com que John Fowles construiu cada detalhe do livro. O fato de só haver duas personagens na trama, ainda que outras sejam mencionadas pelos protagonistas, reforça a sensação de confinamento de Miranda, bem como demonstra a limitação do mundo de Clegg, voltado a sua obsessão pela jovem; a narrativa em primeira pessoa, primeiro dada por Clegg, depois por Miranda, não apenas demonstra as diferentes perspectivas de um e de outro, mas permite tanto ao leitor penetrar no mais íntimo de cada protagonista quanto permite à Miranda um mínimo de libertação, já que ela, dessa forma, tem direito à própria voz.

A tensão em O Colecionador, também, se dá em diferentes níveis. O primeiro é o mais aparente, ligado ao thriller em si e à expectativa pelo desfecho. Miranda conseguirá escapar? A que ela será submetida durante seu cárcere? Porém, John Fowles vai além, explorando a tensão dada pelo embate psicológico dos protagonistas: eles são sequestrador e vítima; homem e mulher — o que é relevante especialmente pelas muitas declarações machistas de Clegg e pelo fato de Miranda enfrentá-lo; indivíduos pertencentes a classes sociais diferentes. Da mesma maneira que o autoengano na narrativa de Clegg demonstra sua recusa em se aceitar como louco, as falas muitas vezes esnobes de Miranda não a permitem se admitir como pertencente à classe que ela critica, e sua erudição tanto confirma isso quanto a afasta ainda mais de seu carcereiro. Por fim, há também a tensão gerada no leitor em relação aos sentimentos criados pelas personagens em um jogo antagônico de encantamento e repulsa: é possível se afeiçoar a Clegg em certo grau, mesmo o odiando, fazendo com que compartilhemos com Miranda certa Síndrome de Estocolmo.

O que posso dizer é que, após finalizar a leitura, compreendi tudo que já havia ouvido sobre ela. O Colecionador me proporcionou uma experiência tanto frenética quanto perturbadora, e não apenas pela história propriamente dita, mas sobretudo pelo que ela revela: é perverso estarmos na situação de quem se delicia com o horror narrado. A Darkside merece também destaque pela edição produzida, demonstrando o quão enriquecedor é o ato de se incluir textos de apoio a uma leitura. Muito do que absorvi do livro foi graças a sua introdução e ao seu posfácio, que também me deixaram com a sensação de que, um dia, seria ótimo reler a obra para explorar suas muitas camadas, algo impossível de se fazer em uma primeira leitura.





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6 Respostas para "[Resenha] O Colecionador — John Fowles"

Angela Cunha - 13, fevereiro 2019 às (06:56)

Li este livro recentemente e ele jó foi para a lista dos meus favoritos. Como sou fã assumida do gênero, degustei cada página com uma ardor incrível.
O autor construiu um universo único, jogando o leitor dentro daquele porão. Sentindo o que Miranda sentia,mas também sentindo a perversidade e por muitas vezes, a inocência de Clegg.
O livro vai nos trazendo uma série de sentimentos que fica complicado explicar. Do amor ao ódio. Do querer entrar no livro, salvar Miranda e também de acariciar os cabelos de Clegg.
Uma leitura muito mais que recomendada e realmente, a capa é lindíssima!Todo o livro é perfeito em diagramação.
Beijo

Anna Mendes - 13, fevereiro 2019 às (09:53)

Oi Aione!
Amei a resenha!! <3
Nossa, a edição desse livro está realmente maravilhosa! A DarkSide sempre arrasa!
Eu já tinha ouvido falar dessa história, mas ainda não fiz a leitura do livro.
Parece ser uma história muito tensa e angustiante, e fiquei muito curiosa para conhecer a escrita do autor.
Já vou adicionar esse livro na minha lista de desejados! 🙂
Bjos!

suzana cariri - 20, fevereiro 2019 às (17:56)

Oi!
A Darkside fez um trabalho incrível na diagramação do livro ele está lindo, adoro esse cuidado que a editora tem com os livros, já ouvi falar desse livro, mas não é o tipo de historia que gosto de ler, mas achei interessante temos só dois personagens em todo o livro, realmente não lembro de ter lido um livro com tão poucos personagens pra conduzir a trama !!

Ana I. J. Mercury - 28, fevereiro 2019 às (21:07)

Oi, Aione.
Tenho muita vontade de ler O Colecionador, mas tenho medo também.
Um medo, uma angústia, é doloroso ler sobre algo tão grotesto e doentio como o que acontece com a Miranda.
vou tentar ler, mas sei lá, acho que não conseguirei, fico aflita só de pensar nessa história.
bjs

Teresa Cristina - 28, agosto 2020 às (16:43)

A primeira edição deste livro, eu ganhei do meu pai.
Ele foi lançado pela editora abril.
Eu li o livro duas vezes.

Isabel Ceristina Gonçalves - 26, outubro 2020 às (14:57)

Li esse livro, de uma edição de banca, com capa brochura, lá pelos anos 1980, nem lembrava mais da historia, mas a capa era igual, com essa borboleta. Vou tentar ler novamente.

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