Esperando por um romance cheio de obstáculos, porém capaz de proporcionar uma leitura leve, me deparei com uma narrativa angustiante, embora não deixe o romance de lado uma página sequer. Narrado em terceiro pessoa, Esc@ndalo seria uma espécie de Romeu e Julieta dos dias atuais não exatamente pelos jovens Anthony e Amelia pertencerem a famílias rivais, mas sim pelos obstáculos enfrentados por ambos ao tentarem ficar juntos.
Algumas semelhanças podem ser notadas com o clássico, a começar pela obra ser dividida em atos, para aludir à Shakesperiana, e a narrativa ser bastante poética com características de uma tragédia, ainda que constitua um romance e não uma peça de teatro. Com relação ao enredo, percebe-se a figura imponente do pai de Amelia – além do statussocial e financeiro de sua família -; a presença de Cameron, melhor amiga de Amelia, como intermediária entre o casal, fazendo o papel da ama de Julieta no original; Anthony na posição de “criminoso”, como Romeu após matar Teobaldo em um combate nas ruas de Verona; entre outras.
“O vento frio o envolvia, e ele sentiu como se tivesse se tornado parte do universo de uma forma que nunca se sentira antes. Não era apenas o prazer do sexo – embora fosse isso. E não era apenas o prazer do amor – embora fosse isso também. Era, pensou ele, a combinação dessas duas coisas, juntamente com um sentido de atemporalidade e uma sensação de ser de algum modo minúsculo e ao mesmo tempo enorme. Como se ele, Anthony Winter, fosse uma simples centelha de energia, de modo de como as estrelas pareciam ser quando vistas da Terra, embora fossem, na verdade, extremamente potentes e fortes”.
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Confesso que o livro demorou um pouco a me conquistar. A escrita da autora se mostrou fluida e atraente, contudo, o excesso de romantismo presente principalmente no início da história acabou, por incrível que pareça, me afastando um pouco do casal ao invés de me aproximar deles, talvez pelo relacionamento de ambos ter soado um pouco idealizado aos meus olhos. Ainda assim, acredito que Therese Fowler desejou ser enfática no amor entre os jovens tanto para aludir às tragédias (me refiro ao gênero teatral, e não como um sinônimo de “desastre”) quanto para justificar suas ações e, então, apresentar os absurdos legais a que são submetidos – o real motivo para minha resistência em ser cativada pela história.
Um forte sentimento de indignação me tomou por todo o enredo. Eu me sentia injustiçada por Anthony e Amelia, sentia vontade de esbravejar pelo quanto tudo aquilo era desnecessário, questionando o real motivo por trás de todo o conflito. Cheguei, inclusive, a desdenhar da veracidade da história, como se a maneira de como ela se desenrola não pudesse ser possível, de tão absurda toda a situação. Essa desconfiança só foi abrandada ao ler a nota da autora sobre o enredo: embora fictício, foi baseado em fatos reais. Seu filho foi acusado de Sexting – como Anthony – aos 19 anos, e isso originou a premissa para Esc@ndalo, bem como as emoções e os questionamentos vividos pelas personagens envolvidas na história também foram baseados naqueles sentidos pela autora.
Também, o pai da protagonista foi um dos grandes responsáveis pelo meu sentimento de revolta. Sua hipocrisia e falso moralismo aumentaram meu sentimento de injustiça e, ainda que esse seja um sentimento desconfortável, é merecedor do reconhecimento do trabalho feito pela autora, uma vez que, provavelmente, foi exatamente essa a sua intenção.
Therese Fowler também foi feliz em combinar romance com suspense. Embora seja o primeiro a prevalecer na obra, todo o enredo é composto dessa carga dramática que mescla expectativa com ansiedade sobre o desenrolar dos fatos, e angústia e indignação pelos acontecimentos como um todo. São poucos os momentos de alívio; de um modo geral, o que se tem são um bombear de obstáculos, um após o outro, tornando cada vez maior o efeito dominó que um ato de descuido do casal acabou originando.
Achei interessante como são sugeridos fatos passados de algumas personagens, principalmente sobre os pais de Amelia, e que, em partes, justificam o momento presente vivido por elas. A autora, de maneira sutil, apenas os deixou subentendidos ou parcialmente contados, já que, caso se aprofundasse neles, perderia o foco da real história narrada. Ainda assim, eles foram suficientes para dar uma abrangência e uma complexidade maiores a essas personagens, possibilitando conhecê-las um pouco mais.
Esc@ndalo apresentou uma mescla interessante de tensão e forte romantismo do início ao fim do enredo e são essas suas características mais aparentes. Não atingiu o objetivo de ser uma leitura relaxante uma vez que, ao invés disso, me deixou agoniada e indignada pelos seus acontecimentos; entretanto, acabou tendo seu destaque exatamente por se diferenciar de minha expectativa. Aos que buscam um intenso romance, uma tragédia contemporânea, Esc@ndalo é uma boa sugestão.
Quero muito ler esse livro, pela capa eu meio que já imaginava que ele seria mais ou menos do jeito que você falou.
E falou que parece com Romeu e Julieta eu já me interesso logo kkkk
bjs
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