Garota Exemplar tem sido considerado o melhor livro do ano para muitos leitores que entraram em contato com essa obra. Ao finalizá-la, não a classifiquei dessa maneira, mas não pude deixar de sentir o assombro por sua insana genialidade.
Devo dizer que esse foi o livro que mais demorei a ler em toda minha vida. Iniciei a leitura no final de abril e, após ler pouco mais de 100 páginas, precisei interrompê-la para dar seguimento a outras leituras. Assim, o livro ficou renegado em minha prateleira até esse mês, quando decidi que o finalizaria, mesmo com outras leituras pendentes me aguardando. Essa pausa certamente afetou meu envolvimento, embora eu não tivesse me esquecido dos principais pontos da história. Sinto que ela não me arrebatou com a intensidade esperada – ainda que desde o início ela tenha mais mexido com minha curiosidade do que me impactado, de forma propriamente dita.
Os capítulos são alternados entre a visão de Amy e Nick, e divididos em três partes. Na primeira parte, a visão de Amy é dada por seu diário e prevalece a pergunta sobre o que estaria por detrás de seu desaparecimento, principalmente por sua visão ser tão divergente da de seu marido, como se duas histórias opostas estivessem sendo contadas. Devo destacar o quanto a escrita da autora me agradou, pelas frases serem compostas para transmitirem com exatidão pensamentos e emoções, e por serem notáveis por isso. Sentia como se eu, de fato, estivesse na pele das personagens, e as frases de impacto foram um ponto mais do que positivo na narrativa.
Gillian Flynn, na verdade, construiu essa primeira parte para situar o leitor dos acontecimentos e começar a conduzi-lo a formar uma opinião. Nas demais partes, temos as respostas às perguntas inicialmente criadas, além do desenvolvimento de toda situação, e foi então que mais senti a angústia crescer. Ansiei por um final e, a cada página, ele me parecia mais improvável de acontecer.
Talvez, eu não tenha me sentido tão arrebatada porque solucionei parte do mistério na primeira parte antes dele ser revelado. O grande ponto de interrogação inicial acabou não sendo uma surpresa. Contudo, o que me admirou na obra não foi a surpresa em si das revelações feitas, e sim como as personagens foram construídas de forma tão brilhantemente assustadora. Esse é um thrillerpsicológico que faz jus ao gênero, tanto por explorar a insanidade da situação vivida quanto por abordar a temática dos relacionamentos de forma tão intensa. A autora soube como explorar a relação entre Amy e Nick porque soube abordar suas características separadamente. Ao criar suas características individuais, pôde combiná-las para explorar a relação desenvolvida entre eles.
Ao terminar a leitura, senti um imenso descontentamento, não por ter desaprovado o final, mas sim por ele ter me incomodado. O desfecho não foi aquilo que eu desejei, uma resolução ideal, mas sim um final real para aquela situação, e isso me atormentou. Gillian Flynn conseguiu construir uma obra insanamente admirável, algo que espanta pela loucura claramente presente, mas que causa admiração por ter sido tão bem arquitetada.
Garota Exemplar não se tornou minha melhor leitura do ano por não ter me envolvido e impactado como poderia, já que tinha potencial para isso. Contudo, certamente é um livro que merece destaque como um dos melhores representantes do gênero, e figurará entre minhas indicações. Esteja preparado para o paradoxo de mergulhar em uma loucura doentia e admirá-la por seu brilhantismo.
Compreendo exatamente o que vc diz, Aione. Esperei mais que qualquer outro leitor (pretensiosa!) por este livro… e com altas expectativas, me senti um tanto frustrada.
Concordo com vc que a trama foi muito bem construída e que a autora é habilidosa na criação das personagens, especialmente no lado psicológico – psicótico, rsrs, na dissecação de uma relação conturbada e fadada ao fracasso.
Mas uma coisa me incomodou demais: as personagens não têm qualquer empatia com o leitor! Nenhuma se salvou, na minha opinião! E foi frustrante seguir a leitura até o fim – pq a trama deixa a gente curiosa! – sem me envolver com ninguém.
Outro que li depois e que foi uma grata surpresa e que se tornou preferido – no mesmo estilo – foi No Escuro. Achei muito, muito melhor que Garota Exemplar. Indico.