Movimento: Slow Reading - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
07

mar
2012

Movimento: Slow Reading

É sabido que vivemos em um período no qual o tempo urge.

Cada vez mais, nos deparamos com mais coisas para fazer e em tempos mais limitados. São poucas as ocasiões em que podemos nos dar o luxo de sentarmos e fazermos algo com calma, sem pressa, aproveitando cada momento. Ainda, o estilo de vida e as facilidades da internet só contribuem ainda mais com a constante correria. As redes sociais, como o Twitter e o Facebook, são grandes propagadores de mensagens curtas e rápidas, facilmente assimiláveis em curtos espaços de tempo.

Assim, diversas pesquisas surgiram e, com elas, os resultados não muito agradáveis: estamos perdendo nossa capacidade de concentração e de realizar longas leituras. A diversidade de informações ocorrendo ao mesmo tempo não nos permite mais realizar, por exemplo, a leitura de um longo artigo de maneira interrupta, com seu conteúdo completamente compreendido e assimilado. Não, o ato de ler acaba sendo interrompido por um email ou mensagem instantânea recebidos, ou simplesmente não há paciência ou tempo para que a leitura na íntegra seja concluída.

Surge, dessa maneira, o movimento Slow Reading, cujo objetivo é justamente o de incentivar a leitura lenta, detalhada, pacientemente e, assim, realmente aproveitá-la, a ponto de absorvê-la de uma maneira que não mais ocorre nos dias atuais. Outra característica do movimento é a da busca da compreensão da mensagem transmitida pelo autor. É fato que, quando o assunto é a comunicação, diversas interpretações são possibilitadas, visto que esse é um viés da própria linguagem, podendo ser compreendida conforme a experiência e a intenção de cada um. Uma mesma frase pode conter diversos sentidos, e o Slow Reading, segundo Lancelot R. Fletcher, o primeiro autor contemporâneo a popularizar o termo, busca a compreensão da criatividade do autor durante a leitura, ao invés de dar asas à criatividade do leitor.

Como, então, conciliar os objetivos do movimento a um estilo de vida contrário ao que ele propõe?
Antes de tudo, acredito que a leitura rápida não seja de todo um mal. É importante, também, desenvolvermos  a chamada leitura dinâmica que, embora rápida, não envolve perda de compreensão nem de informações. Porém, acredito que seja exatamente esse o x da questão: ultimamente, as leituras têm se tornado mais rápidas, mas não necessariamente de todo compreendidas. Realmente o excesso de informação tem ocasionado um detrimento na atenção e, dessa forma, prejudicado a captação das mensagens transmitidas durante a leitura.
Acredito que a chave de tudo esteja na intenção de se realizar uma leitura. Quem busca ler apenas para dizer que leu dificilmente compreenderá tudo o que ler, simplesmente porque o que valerá mais será dizer que a leitura foi concluída e não que sua essência foi captada. Portanto, ao se buscar ler a obra como um todo, independente de ser um livro, uma poesia, um artigo ou uma crônica, o que mais contará será a compreensão da mensagem e, logo, a atenção para a leitura é automaticamente estimulada. Quando buscamos algo, ficamos mais atentos a isso.

Um movimento análogo a esse é o Slow Food, contrário ao Fast Food, cujo objetivo é um maior aproveitamento das refeições, saboreando-as mais e trazendo de volta o prazer de se alimentar, ofuscado, atualmente, pelas refeições rápidas incorporadas, também, pelo menor tempo disponível devido ao estilo de vida vigente nos dias atuais. Em minha opinião, tanto o Slow Food quanto o Slow Reading tem um objetivo em comum: resgatar o prazer do ato e buscar um maior aproveitamento de cada um, focando na qualidade e não na quantidade.

Como tudo na vida, acredito que a chave seja o equilíbrio. Tanto é importante realizar leituras dinâmicas e aprendermos a conviver com um estilo de vida que prega a agilidade em tudo quanto é imprescindível não nos esquecermos de apreciar a vida, de um modo geral, bem como tudo o que fizermos nela. Enquanto a correria e a realização de mil tarefas nos proporcionam, em geral, um maior conforto material e satisfação profissional, são exatamente as pequenas coisas, mais calmamente apreciadas, que nos trazem a felicidade, o prazer e o relaxamento após uma incessante maratona contra o tempo.

Textos de referência:





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19 Respostas para "Movimento: Slow Reading"

Eduarda Menezes - 07, março 2012 às (22:39)

Oi Mi! Também acho que tudo tem que ter um equilíbrio, mas não posso deixar de concordar com os adeptos do Slow Reading, pelo fato de que a maior parte das pessoas hoje em dia estão sendo levadas a encarar um texto um pouco mais longo, ou mesmo a leitura de um livro mais complexo, de modo tão superficial, que de certa forma acaba tornando-se algo preocupante!
Ainda mais alarmante é quando a questão é encarada em âmbito nacional. Além de existir um número exorbitante de analfabetos no Brasil, dentre os que são considerados alfabetizados há uma grande quantidade de “analfabetos funcionais”, que conseguem na teoria ler um texto, mas que não assimilam o seu significado!
Acho que muitas pessoas não tem mais o hábito de dedicar o mínimo de atenção a um texto um pouco mais longo e isso pode ser facilmente encontrado até mesmo em nossa blogosfera literária, onde é possível notar várias pessoas que comentam numa postagem, sem ao menos ter lido o texto contido nela, muitas vezes apenas passando os olhos por cima!
Para que a leitura dinâmica seja desenvolvida, acho que o indivíduo primeiro de tudo tem que ter passado por uma longa fase do slow reading – que geralmente acontece na infância, mas nem sempre – para com a prática, acostumar-se a assimilar textos mais complexos com mais facilidade! Você tocou num ponto essencial da questão, o que mais importa é a intenção, o interesse! Deve-se estimular a leitura como algo bom e prazeroso, o que infelizmente é pouco propagado, levando a compreensão errônea de que quanto mais rápido e mais ágil você for, mais qualificado estará para exercer as suas funções! Agora vou parar, já falei demais hehehe! (eu me empolgo fácil, sorry) ^^
Beijos!!

Aione Simões - 07, março 2012 às (22:47)

Simplesmente amei seu comentário!
Acho que você tem toda a razão: analfabetismo funcional é o que mais existe hoje em dia e as leituras, infelizmente, estão cada vez mais superficiais, o que é uma pena. Quando falei sobre “ler apenas por ler” foi exatamente nos comentários nos blogs que pensei, a quantidade deles que vemos de pessoas que nem ao menos se deram o trabalho de ler todo o post.
Slow Reading primeiro, e depois Leitura Dinâmica. Acho que seria a chave!
Obrigada pela participação, querida!
Comente sempre que quiser e o quanto quiser! Pode se empolgar à vontade ^^
Beijão!

Bruno Miranda - 07, março 2012 às (22:58)

Disse tudo. Enquanto lia seu texto conferi o twitter/email/facebook umas trinta vezes! suhsauh Eu não leio correndo (um livro, claro), mas também não teria paciência pra ler beeem de vagar, pra “apreciar” a leitura. Na internet eu tento fazer tudo o mais rápido possível. Eu tenho pouco tempo livre, se ficar muito na internet meu dia acaba e não fiz nada. Apesar de eu tentar fazer tudo rápido, a internet tem uma enxurrada de informação tão grande que eu sempre acabo saindo quando não posso MESMO mais ficar online. Eu ODEIO isso, todo dia digo: hoje vou desligar o computador mais cedo… Mas não dá! :S Principalmente por causa das redes sociais! Mas enfim, eu quero organizar minha vida, redistribuir as prioridades porque olha… O negócio tá feio! Beijos!

@minha_estanteMinha Estante

Geovanna Ferreira - 07, março 2012 às (22:59)

Concordo com essa ideia! As vezes 1 livro lido de maneira correta, sem pressa vale mais do que 50! Ler deve ser um prazer, não um ato mecânico! Temos mais é que ficar atentos para não cair no vício de leitura rápida, sem qualidade! Quer coisa mais triste do que ler e não entender nada??? Não há!

Beijinhos minha Mí!!

Vanessa - 07, março 2012 às (23:12)

De qualquer maneira eu não sei ler rápido mesmo, tanto que as minhas leituras não rendem de jeito nenhum, eu costumo voltar várias vezes na leitura para reler algo que passou batido…e sem falar que vou anotando tudo paralelamente, é quase um ritual, é um tal de lê e escreve que chega a cansar….

Vanessa – Balaio

Nana - 08, março 2012 às (05:42)

A Duda disse tudo.
Mas sou da parte que quando um livro é interessante pode levar um piscar de olhos para lê-lo.

Eu gosto de ler com calma, mas acho que enrolo demais.. as vezes quando não lembro de alguma coisa, volto algumas páginas…
Fato que as redes sociais distraem minha leitura.

Antigamente eu tinha internet nesse ‘lance’ do fast.. nossa entrava de manhã e ia… hoje em dia entro a noite ou tarde.. assisto algumas coisas.. leio e durmo haha porque está sempre ali, não é?

Mas pessoas não obedecem esse tipo de regras, para comer deveria mastigar os alimentos por 10 vezes até 30, quem faz isso?

beijos – Feliz dia Internacional da Mulher.
Nana – Obsession Valley

Anna Carolina Schermak Alves - 08, março 2012 às (09:34)

Eu considero a minha leitura rápida, mas mesmo assim minha média de ler um livro é 3 dias, pela quantidade de tempo que eu consigo pegar em um livro, é só na volta ou ida de faculdade e trabalho. E são meia hora cada vez que pego o onibus.
Esse mundo cada vez exige mais tempo da gente.

http://www.pausaparaumcafe.com.br

Mariana Ribeiro - 08, março 2012 às (13:12)

Olá, Mi!!
Também concordo que cada vez mais o tempo fica limitado para as atividades diárias, mas é preciso saber administrar o nosso tempo da melhor maneira possível para não comprometer uma determinada tarefa que não foi executada porque não conseguiu tempo hábil.
As minhas leituras tem sido feitas de maneira bem lenta mesmo, mas não tem sido produtivo, pois o ritmo tende a diminuir cada vez mais devido a correria do dia a dia. :/
Adorei o texto!
Bjos.

Mariana Ribeiro
Confissões Literárias.

Érica Patricia Lopes - 08, março 2012 às (14:15)

Conheço várias pessoas que odeiam ler, fico perplexa quando ouço algum comentário do tipo! É uma realidade triste!

Seria um sonho vê boa parte da população lendo mais, pode ser um sonho distante. Mas, a esperança é a única que morre, não é mesmo?

Realmente falta estimulo, e nós como bons leitores, devemos incentivar a leitura para que ela vire um hábito, ao invés, de um dever de casa chato!

Referente as minhas leituras, elas costumam ser lentas. Quase não tenho tempo para ler e não quero “engolir” o livro só para dizer que li.
Ler tem que ser prazeroso e não maçante!

Amei o texto, ele tem que ser passado adiante!
Beijokas

Danzinha - 08, março 2012 às (15:41)

Amei o posto Mi, é exatamente o que vem acontecendo conosco hoje em dia, as pessoas usam pretextos para não uma bula de remédio se quer, e quando leem apenas passam os olhos e não se importam em compreender. Acho que é possível – e preciso – se arranjar tempo para tudo, por mais corrida que seja a sua rotina é possível separar alguns minutos para uma leitura. Acho que esse movimento veio em ótima hora, e espero que ele renda bons frutos.

Beijos

Amigas entre Livros

leitoracompulsiva - 08, março 2012 às (17:30)

Oi Aione,
Adorei o texto de hoje. E pode ter certeza que eu li inteirinho e com calma, prestando atenção em cada detalhes!! Mas isso não significa que eu li devagar! hehehehe
Hoje em dia, depois de tanto ler (por prazer e por profissão!), desenvolvi uma capacidade de ler mais rápido, sem perder os detalhes. Não tenho idéia de como o meu cérebro funciona, mas simplesmente olho para um texto e sei o que está escrito ali, sem precisar ler palavra por palavra! É um troço bem estranho, mas é o que acontece!
Acho que o importante não é a velocidade com que lemos e sim o quanto conseguimos extrair daquela leitura!!
Beijos
Camis – Leitora Compulsiva

Lucas Martins - 08, março 2012 às (20:42)

Tem muita gente que se orgulha de ler voando e mais de 5 por semana (ééééé!)
Eu sou daqueles que demora um pouco para ler, mesmo que seja um livro de 200, assim como um de 500. Depende da forma como eu me envolvo com a história.
Gosto de absorver as palavras e a mensagem que o livro quer passar.
Enfim, bacana o texto, Mi!
Vou dar uma olhada nos que você linkou, também!
Bjão!
P.S.: Um jóinha pro comentário da Duda; falou tudo!

Milena Liebe - 08, março 2012 às (21:04)

Livros?
Se o problema fosse ler os livros mais devagar, estava fácil.
O problema mesmo é a nossa cultura. Fazemos tudo cada vez mais rápido! Temos que produzir, ganhar mais, subir na vida!
Um estudioso, uma vez disse que nascemos devendo um milhão de reais. Veja, você nasce e obrigatoriamente, tem que estudar, trabalhar, comprar uma casa, um bom carro, pagar impostos e vai por ai. Já começa estudando aos dois anos e logo o dia inteiro. E quanto ao trabalho?
É triste dizer que não tem freio. Piso nele todos os dias e sempre me vejo correndo. Isso se reflete na leitura, simplesmente não consigo ler livros que descrevam muito. Eu tenho que chegar ao fim!!!
Pisem no freio, pois correndo, iremos chegar mais cedo sim, ao caixão.
beijos!
Denir.

Vanessa Tourinho - 09, março 2012 às (00:12)

“Tanto é importante realizar leituras dinâmicas e aprendermos a conviver com um estilo de vida que prega a agilidade em tudo quanto é imprescindível não nos esquecermos de apreciar a vida, de um modo geral.”
Concordo em gênero, número e grau, Mi.
Já cheguei a ler 11 livros em uma quinzena, mas logo me dei conta de que esse consumo exagerado me cansava, e que o interesse pela leitura ia desvanecendo. Hoje eu procuro ler com mais calma, com mais cuidado, procurando refletir sobre a leitura. E fazendo isso percebo que a leitura tem se tornado mais agradável.
Ótimo post, Mi.

Beijos.

Jonathan Henrique - 09, março 2012 às (22:48)

Oi, Aione! Primeiramente eu quero pedir desculpas por não “alimentar” o Minha Vida Literária com comentários. Estava um pouco saturado e desmotivado, mas graças a Deus tudo voltou ao normal!
Parabéns pelo excelente texto. Não conhecia o movimento, mas agora que estou por dentro, apoio com certeza.
Concordo que trabalhar a leitura dinâmica é algo importante, mas “saborear” um livro com mais calma, certamente nos proporcionará uma leitura mais prazerosa e que nos permita compreeder tal obra nas entrelinhas. Afinal, as vezes um escritor leva meses ou anos para concluir um trabalho e nada mais justo lê-lo moderamente.
Mais uma vez, parabéns!!

Beijos!
@Jonathan_HGF

Ana Ferreira - 10, março 2012 às (16:12)

Mi, assim como outros disseram, acho que a Duda foi absoluta em seu comentário, e muito correta. Quero dizer, todo leitor dinâmico também tem um pouco do slow reading em si, pelo próprio costume que vai se adquirindo com o tempo. De tanto lermos lentamente, o hábito, sem que notemos, torna-nos mais vorazes e capazes de assimilar um texto em um espaço de tempo sempre menor, o que também não quer dizer que resultará em uma incompreensão futura.

Em uma das minhas últimas postagens sobre incentivo à Literatura, li em alguns textos dados assombrosos. Segundo uma reportagem da revista Nova Escola, apenas 28% dos jovens e adultos brasileiros são capazes de ler um texto longo e compreendê-lo, analisar gráficos e dados sem haver confusão e problemas interpretativos. Chega a ser um absurdo, não? Analfabetismo funcional está aí, o tempo todo.

Um beijo!
Ana – Na Parede do Quarto

Carolina Mello - 10, março 2012 às (17:55)

Oi, Aione!
Eu já tinha lido algumas matérias que falavam que o uso abusivo de internet e redes sociais acabava diminuindo a capacidade de concentração de uma pessoa e, eu acredito que isso aconteça comigo. Lembro que, quando não usava internet com tanta frequência, eu conseguia guardar informações por mais tempo. Minha memória está péssima atualmente e ela não era assim :/

Apesar de tudo, ainda sou a favor do uso de redes sociais e da internet de modo geral; assim como apoio a leitura de revistas, jornais e livros, claro. Mas acredito, assim como você, que deve haver um equilíbrio entre as duas coisas. Pois, se usadas de maneira adequada, ambas podem trazer benefícios.

Gostei muito dos projetos e da sua postagem!

Beijos, Carol.

http://www.perdidanaestante.blogspot.com

Ni - 12, março 2012 às (16:34)

Oi, Mi! Adorei o post, não conhecia esses movimentos, achei MUITO interessante. É triste, mas verdade, né? Felizmente sinto que tenho uma leitura dinâmica (rápida e que consegue “pescar” o que o autor passou), mas em compensação minha memória… Achei super super super interessante essa coisa do Slow Food, só que quando pensamos no mundo atual… Parece que a solução é fugir para o campo então! É tanta coisa ao mesmo tempo! Equilíbrio, é isso o que a gente vive buscando, né? É difícil, mas não impossível!

Beijãaaaaaao!

Aline - 13, novembro 2020 às (20:33)

Adorei!! Já havia pensado nisso algumas vezes mas não tinha ideia que já existisse um movimento.

Vou te acompanhar sempre que puder. Adorei teu blog.

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