Dois rivais, uma Copa do Mundo.
O 7×1 não tinha nada a ver com Luiza não gostar de Mario. Ter perdido aquela aposta idiota era só um detalhe. Não gostava de Mario porque ele era um piá metido a besta e se achava superior a ela, sendo que os dois tinham o mesmo cargo na empresa (tecnicamente, o cargo dela era superior ao dele, já que era secretária executiva do Diretor de Operações, enquanto ele era secretário executivo do Diretor Financeiro). Mario era grosso e arrogante, e, ao contrário de todo mundo, ela não caía naquela desculpa esfarrapada de que “era o jeito alemão de ser”. Não gostava de Mario, e o sentimento era recíproco.
O Brasil tinha sido completamente humilhado oito anos antes, mas agora a Copa do Mundo era na Alemanha. Com a empresa em que trabalhava patrocinando o evento (afinal, futebol e cerveja andavam de mãos dadas), Luiza ia viver o hexa de perto. Ao vivo e a cores, em cada estádio por onde a seleção passasse. Infelizmente, Mario também. Hospedados no mesmo hotel, mas não no mesmo quarto. Nada de “só tem uma cama, e agora?”. Nada disso. Cada um no seu canto. Brasil de um lado, Alemanha do outro.
FICHA TÉCNICA
Título: Um amor de revanche
Autor: Paula Vivian
Editora: Publicação Independente
Número de Páginas: 306
Ano de Publicação (nova edição): 2022
Skoob: Adicione
Compre: Amazon
RESENHA: Um amor de revanche
Um amor de revanche é o primeiro romance de Paula Vivian, cuja escrita conheci através da trilogia Sétimo Andar, formada por três novelas e publicada de maneira independente na plataforma KDP da Amazon. Por ter me apaixonado pelas histórias, estava ansiosa por um texto mais longo da autora — que agora definitivamente é um dos destaques nacionais, para mim, entre os romances contemporâneos.
Luiza trabalha na filial de uma empresa de cerveja alemã em Santa Catarina, onde conheceu Mario, que veio da Alemanha. A inimizade entre os dois foi a primeira vista e só piorou depois do 7×1 em 2014. Agora, depois de oito anos, a copa do mundo será na Alemanha, para onde terão que viajar a trabalho. Por um erro do RH da empresa, terão que dividir quarto em todos os hotéis onde se hospedarem, o que força a convivência entre eles e, pouco a pouco, muda as perspectivas.
Narrado em terceira pessoa, Um amor de revanche alterna os pontos de vista entre Luiza e Mario, permitindo ao leitor conhecer a personalidade de cada um para além das impressões que um nutre pelo outro. A dinâmica do romance cão-e-gato deixa a história divertida e a autora trabalha com desenvoltura os diálogos, além de evoluir muito bem o romance. Foi impossível não me sentir próxima do casal, por quem torci até o fim.
Um dos pontos que mais me agrada na escrita de Paula Vivian é como ela é direta e ágil, capaz de desenvolver o enredo e as personagens envolvendo o leitor e sem se perder em minúcias desnecessárias. E mesmo que a escrita em si não tenha floreios, são várias as passagens muito bonitas e sensíveis. Por exemplo, Paula Vivian aborda com naturalidade as diferenças culturais entre brasileiros e alemães, estendendo esses aspectos à língua e à comunicação como um todo. É bonita a leitura que a autora faz das diferentes nacionalidades e como trata com carinho cada uma delas. Por isso também, é comum encontrar diversas referências populares em suas obras, o que não é diferente em Um amor de revanche. Vale dizer que como eu e ela temos idades parecidas e a mesma formação universitária, é muito fácil que eu me identifique com a bagagem que ela traz.
Outro motivo que fez da leitura tão deliciosa foi tê-la lido durante a Copa do Mundo, já que é parte do universo de Um amor de revanche. Aliás, achei muito inteligente como Paula Vivian fez a copa da história ser ficcional, tendo a liberdade de construir cada fase a seu próprio modo, sem preocupações em como a Copa do Catar realmente aconteceria. E mais do que um pano de fundo, ela também ajuda a reforçar a mensagem deixada pelo livro: alegria e tristeza podem coexistir.
Não sei dizer o que mais me encantou em Um amor de revanche, se a escrita gostosa e envolvente, se a dinâmica entre Luiza e Mario, se as referências que confortam pela identificação que proporcionam, se foi tê-la lido em época de Copa do Mundo ou se o sabor levemente agridoce que a leitura deixa, embora também seja leve e feliz. O que sei é que Paula Vivian novamente entregou uma história na qual amei imergir, com personagens que senti como meus amigos. Sem dúvidas, uma autora que seguirei acompanhando, ansiosa por cada novo lançamento.