#MeusQuarentextos | Política e politização

#MeusQuarentextos é um projeto dos #EscritosDaAione sobre o período de quarentena. Esse é o 5º texto da série.

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Política e politização

“Não vamos politizar a doença” circula como o vírus. “Não vamos politizar”, aliás, não é inimiga de agora.

Completar 10 anos produzindo conteúdo na internet me faz pensar na minha trajetória e no quanto me politizar foi importante. Lá no começo, eu não gostava de política. Lá, eu defendia o que hoje critico e criticava o que agora defendo.

Minha politização foi tardia, assumo sem orgulho. Havia uma voz latente, mas eu a calava por puro conforto. Porém, quando a gente estoura a bolha e realmente vê o mundo, não consegue voltar atrás.

Me politizar foi essencial porque me tornou mais consciente, inclusive de mim. Para quem tende a querer agradar, foi um brado de identidade. Me posicionar é um ato pelo coletivo; mas, no particular, é uma forma de me afirmar, mesmo que signifique me afastar do que não mais me identifico. Não é fácil, mas é pior não viver minha verdade.

De qualquer maneira, foi crucial compreender que tudo é político. Se abster é apenas uma ilusão, porque você continua fazendo parte do jogo — do lado onde está o poder. Quando não sentimos necessidade de lutar é porque estamos satisfeitos. Mas realmente acreditamos que o mundo é igual para todos? Queremos um que só funciona para alguns? E realmente somos a parcela beneficiada num sistema tão seletivo?

É impossível não politizar a doença. Estamos assim porque os responsáveis por gerir a empresa chamada Brasil falharam — por negligência, incompetência ou interesse. Voltamos à linha da fome. Vivemos um dos piores momentos de desemprego. Mas o PIB aumentou. Perceberam a rima entre vacina e propina e promoveram uma chacina. A morte na base da pirâmide social ainda sustenta o topo.

A vida é política, e todo dia podemos escolher entre continuar ingerindo as pílulas azuis da Matrix ou não. Para mim, o vermelho é, cada vez mais, nossa única opção.