Marcada por uma tragédia na infância, Natasha acredita ter superado suas infelicidades ao chegar na fase adulta com uma bem sucedida carreira como professora universitária
e um casamento estável. Entretanto, o tempo revela que alguns traumas do passado não estão enterrados, e é no exercício da maternidade que a protagonista vai descobrindo fantasmas ainda vivos em seu subconsciente influenciando sua maneira de pensar e agir.
A relação visceral com a filha Gabriela, epicentro do conflito, desenvolve-se em uma crescente tensão psicológica, escancarando todas as fragilidades da protagonista, muito bem captadas e exploradas pela menina, obrigando Natasha a enfrentar suas maiores dores e trilhar a necessária jornada de autoconhecimento.
Distraída em uma fase mais feliz e tranquila, ela não se dá conta dos perigos ocultos que a rodeiam e acaba envolvida em uma inesperada hecatombe familiar, cujas consequências trágicas e surpreendentes vão sendo pouco a pouco reveladas, aniquilando suas convicções e impondo-lhe uma difícil escolha moral que sela o destino de todos os envolvidos.
O Rio de Janeiro é o cenário principal desse drama psicológico contemporâneo, romance de estreia do autor, que também é ambientado incidentalmente em Havana, Sarajevo, Paris e Provence.
Ficha Técnica
Título: Natasha
Autor: Felipe Cuesta
Editora: Publicação Independente
Número de Páginas: 154
Ano de Publicação: 2020
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VÍDEO RESENHA: Natasha
RESENHA ESCRITA: Natasha
Natasha é o romance de estreia de Felipe Cuesta. Publicado de maneira independente na Amazon, a obra tem um caráter psicológico através do qual são desenvolvidos os conflitos da trama.
Natasha é uma mulher marcada pela ausência. Perdeu os pais muito criança em um trágico acidente, o que moldou sua personalidade. Casou-se com o primeiro namorado e nem sempre encontrou na relação uma entrega no mesmo nível em que se doava. Enfrentou a depressão pós-parto, o que culminou na falta de vínculos profundos com a filha, Gabriela. A partir de todos esses fatores, chega-se à meia-idade de Natasha e aos eventos que se desdobram a partir de tais condições — para ela e para aqueles que a rodeiam.
A narrativa em terceira pessoa se dá ora no passado, ora no presente, a depender do impacto que se quer causar em cada situação. Inicialmente, há saltos cronológicos entre os eventos, pontuando-se aquilo que é necessário para a formação da personagem sem que haja um vácuo de incompreensão ou desconhecimento do que ocorre entre esses episódios.
A partir da constituição psicológica de cada personagem, Felipe Cuesta cria muito bem a tensão crescente na história, que culminará nas reviravoltas finais. Aqui, não é apenas a estrutura de Natasha que importa, mas também de sua família, uma vez que a trama é centrada nesse núcleo. O embate principal entre os personagens está nos conflitos nascidos das necessidades e ausências de cada um, constantemente em choque entre si. E, para além desse núcleo principal, a história também abraça parte da família do marido de Natasha, trazendo um extra para o romance em termos de eventos e cenários. Embora o pano de fundo principal seja o Rio de Janeiro, há passagens também em Cuba e na França, por exemplo.
A leitura como um todo foi bastante fluida e me agradou principalmente pela narrativa do autor. Contudo, os diálogos destoam do restante da escrita por soarem menos naturais e apresentarem muito da consciência psicológica de cada personagem, o que diminui parte do impacto da trama — seria mais interessante que essas características fossem perceptíveis na construção do enredo, sem que necessariamente os protagonistas tivessem noção disso. A reviravolta final, também, me causou certo incômodo por representar uma situação que, ainda que possível, é exceção em termos estatísticos, o que acaba por reforçar um discurso de desvalidação dos demais casos. Aqui, vale dizer que Felipe Cuesta partiu de sua experiência como Promotor de Justiça e se baseou em um caso no qual ele atuou. Por último, acho importante ressaltar um problema de representatividade na obra, já que o único personagem descrito como negro é criminoso. Mesmo que haja criminosos brancos no livro, é sintomático de um problema estrutural que a única possibilidade de uma figura não-branca no romance tenha sido essa.
Em linhas gerais, Natasha foi uma leitura fluida e bastante interessante pela maneira de como Felipe Cuesta encaminha os eventos ao clímax final a partir da constituição psicológica de seus personagens. É um livro bastante humano nesse sentido, por representar falhas e acertos de cada pessoa, especialmente em como esses aspectos estão conectados às faltas, traumas e reforços que desenvolvemos ao longo de nossas trajetórias.
Oi Aione!
Interessante a premissa de Natasha!
Faz um tempo que não leio um romance psicológico nesse estilo, mas gosto de histórias assim.
Parece ser uma trama emocionante também, principalmente pelas relações familiares que você comentou e das perdas que a personagem sofre.
Mais uma boa indicação nacional! 🙂
Bjos!