Após a Segunda Guerra Mundial, graças a uma conjugação de sorte e senso de oportunidades, Cyril Conroy entra no ramo imobiliário, criando um negócio que logo se torna um império e leva sua família da pobreza para uma vida de opulência. Uma de suas primeiras aquisições é a Casa Holandesa, uma extravagante propriedade no subúrbio da Filadélfia. Mas o que ele imaginou que seria uma surpresa incrível para a esposa acaba por desencadear o esfacelamento da família.
Quem nos conta essa história é o filho de Cyril, Danny, quando ele e a irmã mais velha – a autoconfiante Maeve – já não moram mais na casa em que cresceram, onde cada centímetro um dia ocupado por eles, pela mãe e o pai agora pertence a madrasta e suas duas filhas. Danny e Maeve aprenderam muito cedo que eram a única certeza na vida um do outro. Eles e a Casa Holandesa.
A construção – erguida na década de 1920 pelos Van Hoebeeks, um casal que fez fortuna comercializando tabaco e cujos retratos em tamanho real ainda estão acima da lareira, na sala de estar – exerce certa aura mágica sobre todos os habitantes da trama, não apenas Maeve e Danny. Foi um troféu para o pai deles, um fardo para mãe, uma ambição concretizada para madrasta. Apesar de suas conquistas ao longo da vida, Danny e Maeve só se sentem verdadeiramente confortáveis quando estão juntos e repetidas vezes voltam aquele endereço, observadores externos da própria vida.
Ficha Técnica
Título: A Casa Holandesa
Título original: The Dutch House
Autor: Ann Patchett
Tradução: Alessandra Esteche
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 345
Ano de Publicação: 2020
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Resenha: A Casa Holandesa
Uma ficção envolvendo cenas domésticas que conhecemos tão bem, A Casa Holandesa é mais que uma obra sobre o cotidiano, trata-se de um retrato pincelado por vidas. Ann Patchett é uma livreira independente e bem sucedida, premiada com o PEN/Faulkner e o Orange Prize, foi traduzida para mais de trinta idiomas e também assina Bel Canto, outra publicação pela Intrínseca. Em uma entrevista, ela disse que escreveu A Casa Holandesa com intuito de falar sobre a maternidade que não gostaria de vivenciar.
Cyril Conroy entra no ramo imobiliário após a Segunda Guerra Mundial, criando um antro de oportunidades e opulência que o levam à aquisição da famosa Casa Holandesa, uma extravagante propriedade da Filadélfia. O que ele não imaginou é que isso destruiria por completo sua família. A história narrada por Danny, filho de Cyril, transita pelo passado e presente, desde quando moravam na casa de sua infância, e discorre sobre o troféu que ela significava ao seu pai, o fardo para a sua mãe e a ambição concretizada da madrasta, Andreia. Danny e sua irmã, Maeve, não têm certeza sobre muitas coisas, mas seguem juntos e repetidas vezes até seu endereço antigo, a Casa Holandesa, tornando-se, por algumas horas, observadores externos da própria vida.
Passado e presente são intercalados sem uma forma padrão na narrativa, mesclando um fluxo de pensamento inconstante que não chega a atrapalhar a leitura, ao contrário, trouxe uma sensação de fluidez diferente. Era como estar sentada em uma mesa tomando café da tarde enquanto ouvia sobre a vida de Danny e de Maeve, antes e depois da Casa Holandesa. Ann Patchett tem uma voz empática quando escreve e isso atravessou meu coração, era impossível não me importar com os personagens. Eles estavam vivos, presentes e reais na minha cabeça.
Ao longo do livro somos arrastados pela vida e sentimentos dos irmãos: o ódio que eles sentem de Andreia e o rancor que os move por longos anos são os temas principais do romance. Contudo, ele não trata apenas da dificuldade de dois jovens em esquecer o passado, mas também do fim e começo de outras duas gerações, o que cria raízes nas páginas e uma importância absoluta para o desenvolvimento dos protagonistas.
Personagens esses, inclusive, trabalhados por Ann Patchett de uma forma tão primorosa que se movem com habilidade entre os papéis de herói, vilão e mentor durante toda a narrativa. É fácil perceber quando estão nessas funções, quando a moral desses personagens entra em conflito com o desejo e, mesmo não sendo algo da personalidade apresentada por eles inicialmente, são tomados pelo ódio e sofrem a consequência de suas decisões. É um livro que nos faz refletir bastante sobre isso, pelo modo como o narrador nos influencia através de sua narrativa tendenciosa, visto que nós temos acesso apenas a informação que ele próprio tem.
A Casa Holandesa, na minha opinião, é uma aula de desenvolvimento de personagens, desde suas personalidades até suas transições. Não é uma obra de reviravoltas impressionantes; na verdade, é fácil o leitor esperar o que vem a seguir, mas ler o que aconteceu dá a sensação de que a casa e seus moradores realmente existiram por conta do aspecto de realidade impresso na narrativa — o que faz tudo valer a pena. Recomendo muito esse livro.
Francine!
Sou madrastra, mas as meninas me chamam de Mãedrasta, nem todas são ruins:(
Nós temos algo inerente em nossa personalidade que nos abala profundamente quando ‘achamos’ que perdemos algo para uma pessoas que talvez não a merecesse… e em algumas pessoas, isso se torna mais evidente e marcante, trazendo uma melancolia profunda, e acredito que o livro traz esse sentimento tão arraigado de perda.
Gostaria de conhecer essa escrita carregada de camadas que vamos desvendendo aos poucos esse drama familiar.
cheirinhos
Rudy