[Resenha] O Milagre — Emma Donoghue - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
29

jan
2019

[Resenha] O Milagre — Emma Donoghue

Título: O Milagre
Título original: The Wonder
Autor: Emma Donoghue
Tradução: Vera Ribeiro
Editora: Verus
Número de Páginas: 300
Ano de Publicação: 2018
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Irlanda, 1859. Anna O’Donnell, de onze anos, se recusa a comer e, apesar disso, sobrevive há meses, aparentemente sem graves consequências físicas. Um milagre, dizem os habitantes do vilarejo profundamente enraizado na fé católica. Mas quando Lib Wright, uma jovem e cética enfermeira inglesa, é contratada para vigiar a menina noite e dia, os acontecimentos seguem um rumo diferente.
Anna começa a definhar, diante da passividade de todos e da impotência de Lib. E assim cresce o mistério ao redor dessa família pobre de agricultores, que parece envolta em mentiras, promessas e segredos. O que o mundo está testemunhando é uma fraude sofisticada, ou uma revelação do poder divino?
Escrito com a tensão que fez de Quarto um best-seller mundial, O milagre é uma história sobre duas estranhas que transformam a vida uma da outra, além de um poderoso thriller psicológico e uma narrativa sobre como o amor pode vencer o mal em suas mais diversas formas.

O que despertou minha atenção para a leitura de O Milagre, mais do que sua premissa, foi o fato de já ter me encantado com a escrita de Emma Donoghue em Quarto, livro que originou o filme Quarto de Jack. Agora, mesmo com uma experiência bastante diferente, já que as obras se estruturam de formas distintas, ainda assim me deparei com uma história sensível e impactante, que estabelece pontos de contato com a outra obra da autora.

No final da década de 1850, Lib, uma enfermeira inglesa, é contratada para fazer vigília à Anna, garotinha irlandesa de 11 anos que há 4 meses não se alimenta. Os rumores indicam que o fato é um milagre; Lib, porém, tem certeza de que há algum tipo de fraude na história e está decidida a desvendá-la.

Por ser essa uma ficção histórica, chama a atenção, desde o início de O Milagre, a maneira de como personagens e cenários são retratados. Emma Donoghue traz ao leitor uma narrativa que se constrói sobretudo pelo choque entre as culturas representadas — inglesa e irlandesa —, de forma a demonstrar muito dos conflitos da época em relação a ambas nações. O olhar cético de Lib em relação à Anna não se deve somente a ela desconfiar da situação, mas também ao preconceito inglês em relação ao irlandês. Ainda, especialmente ao se chegar ao fim da leitura, fica clara a importância da narrativa em terceira pessoa: mesmo que ela se aproxime da perspectiva de Lib, o distanciamento decorrente de uma voz externa e onisciente garante mais fidedignidade ao que está sendo narrado, o que não seria possível se a narrativa fosse construída em primeira pessoa, já que abriria-se margem para se duvidar daquilo retratado por Lib.

Embora eu tenha feito uma leitura mais lenta na maior parte do livro, principalmente por conta dos capítulos muito longos e pelo início da trama ser mais descritivo do que permeado por acontecimentos, foi impossível não notar o esmero da escrita da autora, muito bem percebido pelo trabalho de tradução de Vera Ribeiro. Ainda que a nota da tradutora indique o que se perdeu na passagem de um idioma para outro, é perceptível ao longo da leitura as exigências que a tradução demandou mesmo sem se ter acesso à versão original do texto. Como Lib é uma inglesa em um meio irlandês, as divergências entre o inglês falado em cada um dos países acabam por aparecer em diversas situações, e Vera foi habilidosa ao trazê-las para o português.

Sendo assim, por boa parte da leitura me vi mais encantada pela escrita e pela contextualização histórica do que pela trama de O Milagre em si. Contudo, bastou atingir a parte final do enredo para que eu passasse a fazer uma leitura muito mais voraz; conforme as peças do quebra-cabeça passam a se encaixar, nos vemos tanto ávidos por mais quanto completamente desolados pelo que as respostas indicam. A obra de Donoghue me despertou sobretudo revolta, já que me vi indignada com o posicionamento de diversas personagens e completamente destroçada pelos segredos da história.

Dessa maneira, O Milagre é uma leitura que começa lenta, mas que culmina em um final aterrador, indicando o esmero com que a autora construiu toda a trama até seu clímax. Essa é uma história que questiona muito do fervor religioso, bem como o significado de família, trazendo personagens complexas e marcadas por suas próprias cicatrizes. E, assim como em Quarto, Donoghue cria um efeito paradoxal no leitor ao colocar uma criança no centro da obra: se por um lado a voz de Anna suaviza o peso dos temas abordados, é justamente a sua inocência que faz de tudo ainda mais “desolador”, como definido pelo jornal The New York Times em nota presente na capa do livro.





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6 Respostas para "[Resenha] O Milagre — Emma Donoghue"

Angela Cunha - 30, janeiro 2019 às (06:53)

Antes mesmo de começar a ler a resenha, já pensei:Uma história com um fundo religioso. Até pelo título né? rs
Mas não a religião sendo usada de forma positiva,mas sim, como fanatismo e exageros!Apesar que ainda não sei o desfecho disso tudo. Se é tudo uma encenação ou algo de fato, mais sobrenatural.
Não conheço as letras da autora, e só o filme O Quarto de Jack(maravilhoso), por isso, adorei ler sobre este trabalho dela.
Com certeza, o livro vai bem além de culturas divergentes e vai para a lista de desejados com certeza.
Beijo

Anna Mendes - 30, janeiro 2019 às (13:31)

Oi Aione!
Amei a resenha!! <3
Nossa, a capa desse livro é maravilhosa! E a edição parece estar bem caprichada!
Eu assisti ao filme Quarto de Jack e gostei muito! Ainda não li o livro Quarto, mas tenho muita curiosidade de conhecer a obra que inspirou a adaptação.
E também fiquei muito curiosa para ler O Milagre! Gostei muito da premissa e já fiquei curiosa para saber o que realmente acontece com os personagens e descobrir o mistério da trama.
Já vou adicioná-lo na minha lista de desejados! 😉
Bjos!

RUDYNALVA - 30, janeiro 2019 às (21:56)

Aione!
Já gostei de saber que a ambientação é na Irlanda e que é mais histórico, porque isso atrai muito na leitura, embora tenha achado um tanto lenta e arrastada.
cheirinhos
Rudy

sara santos - 31, janeiro 2019 às (10:39)

Amo mistérios!!
Já estou mega curiosa pra ler esse livro. Parece ser bastante intrigante, aqueles livros que não me deixam descansar sem saber como acaba. Não li nenhuma obra dessa autora, já assiste o Quarto de Jack, mas nunca o livro, e nem tenho muita curiosidade em ler, mas esse me chamou a atenção.

Ycaro Santana - 31, janeiro 2019 às (11:11)

Sinceramente a trama de O Milagre não me encantou tanto, gostei mais de alguns pontos relatados por você que pela própria história principal, por exemplo a autora ser a Emma Donoghue, existir um conflito de culturas Irlanda x Inglaterra e o pequeno. O fato de a trama não ter me impressionado unido a uma leitura lenta contribui total pelo meu desinteresse pelo livro.

Lara Caroline - 31, janeiro 2019 às (18:12)

Olá Aione.
Estava ansiosa por essa resenha, eu queria muito saber a sua opinião a respeito do livro. Eu não cheguei a ler Quarto, mas assisti ao filme e gostei bastante. Fiquei super curiosa para conhecer este livro e desvendar os mistérios e segredos da história.
Beijos

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