Título: Outros Cantos
Autor: Maria Valéria Rezende
Editora: Alfaguara
Número de Páginas: 152
Ano de Publicação: 2016
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Numa travessia de ônibus pela noite, Maria, uma mulher que dedicou a vida à educação de base, entrelaça passado e presente para recompor uma longa jornada que nem mesmo a distância do tempo pode romper. Em uma escrita fluida, conhecemos personagens cativantes de diversos lugares do mundo e memórias que desfiam uma série de impossíveis amores, dos quais Maria guarda lembranças escondidas numa “caixinha dos patuás posta em sossego lá no fundo do baú”. Com sutileza e domínio da narrativa, Maria Valéria Rezende vai compondo um retrato emocionante dessa mulher determinada, que sacrifica a própria vida em troca de algo maior. Outros cantos é um romance magistral, sobre as viagens movidas a sonhos.
“O sertão não é mais sertão e ainda não virou mar. Fecho os olhos e minha memória recupera e estiliza a beleza despojada daquele meu outro sertão.”
página 22
Maria Valéria Rezende é um forte nome da nossa literatura nacional, vencedora do Prêmio Jabuti de 2015, é uma autora que merece destaque e atenção na cena atual.
Outros Cantos é um livro belíssimo, composto por uma reposição de memórias e reflexões sobre outros tempos, vidas e pessoas, que de algum modo, marcaram a vida da protagonista Maria.
É justamente Maria que durante uma viagem de ônibus relembra o período em que viveu em Olho D’Água, um pequeno município do sertão nordestino, há anos. Ela chegou àquele lugar através de um anúncio num diário oficial que listava os municípios onde se necessitavam de alfabetizadores para o Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização, criado no período do regime militar, e que tinha a função de alfabetizar jovens e adultos. Ela foi aceita rapidamente, já que nenhum outro educador estava disposto a tal empreitada e os políticos locais estavam sendo pressionados pelo pessoal de Brasília.
” Como hoje, uma palavra, uma imagem, um gesto bastavam para fazer ressurgir outros, lembranças, ao sabor dos acasos, como os vários rolos de um filme projetados fora de ordem, ajudando-me a reconhecer o desconhecido.”
página 26
Nota-se que a base histórica e política da narrativa é bastante forte, pois a trama remete ao período da ditadura militar e, desse modo, além das dificuldades existentes no cotidiano do sertanejo, há uma presença constante, porém sutil, dos resquícios dessa dura época.
” O vereador não dava sinal de vida. O trabalho que me tinha sido oferecido era de manter uma turma do Mobral. Até então, porém, nem contrato, nem material ou local de trabalho e, pior, nem a modestíssima ajuda de custo prometida. O pretexto para minha presença naquele lugar começava a perder consistência, o que não parecia ser um problema para o povo, eu já era parte deles, quase natural. Mas havia o Dono, seus prepostos e sabe Deus quem mais por trás deles, a indagar, talvez, quem era e o que viera ali fazer aquela mulher assim tão diferente e solta no mundo.”
página 104
A narrativa em primeira pessoa possui uma linguagem muito poética e sensível, além disso, por ser uma narrativa bastante descritiva, o leitor é capaz de vislumbrar paisagens, pessoas e acontecimentos junto com a narradora.
O livro é um belo apanhado de memórias que refaz um destino repleto de vívidas experiências e mistura diferentes tempos pela voz e protagonismo de uma mulher forte e batalhadora, que, além de muita sensibilidade, possui o dom da determinação para ir em busca dos seus sonhos e objetivos, que são muito maiores e valiosos do que qualquer obstáculo imposto pelos difíceis caminhos da vida.
Oi Clivia, olhando a capa do livro, ele parece ser um livro bem sem graça mas lendo a sinopse e a sua resenha mudei de ideia totalmente, gostei bastante da temática do livro com certeza vou le-lo obrigada pela dica bjs.