Título: A Visita Cruel do Tempo
Autor: Jennifer Egan
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 333
Ano de Publicação: 2012
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Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última — e suicida — turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em garotinhas. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.
Inteligente. Essa seria uma boa palavra para se aplicar ao, no mínimo, singular A visita cruel do tempo, um livro tão difícil de se resumir quanto de se explicar – embora essa dificuldade não esteja presente em sua capacidade de conquistar e de causar admiração.
Na obra de Jennifer Egan vencedora do Pulitzer, não há um enredo propriamente dito, sequer linearidade de acontecimentos ou uma mesma perspectiva dos fatos. Ao contrário, é como se diversos contos fossem narrados, sob diversas óticas e sobre diferentes personagens, pouco a pouco interligadas entre si através de saltos anacrônicos não especificados, mas identificados por meio das pistas dadas em cada um dos capítulos. E, acima de tudo, há o tempo, grande protagonista da obra, conectando e unificando as temáticas abordadas.
Em determinado capítulo, uma personagem aparece em destaque, e várias outras são mencionadas em maior ou menor grau de importância; no capítulo seguinte, aquela figura antes surgida em uma breve citação reaparece, agora ganhando a cena. Dessa maneira, pouco a pouco é formada a teia que interliga personagens, fatos e datas, algo que tanto pode ser considerado um ponto baixo do livro, na opinião de alguns, quanto seu grande trunfo, na visão de seus apreciadores.
Em minha experiência, tive sim certa dificuldade, em alguns momentos, de acompanhar a leitura; contudo, ao mesmo tempo eu me via fascinada pela habilidade da autora em trazer tanto de cada personagem em meio a acontecimentos muitas vezes simples e quotidianos. A cada novo capítulo, há uma nova surpresa: que personagem será melhor apresentada; qual o momento na linha do tempo em que tal narrativa se dá; qual a conexão estabelecida na gama de eventos. Ainda, cada capítulo traz também uma diferente compreensão e uma diferente visão das personagens mencionadas, seja por estarem em papel de destaque, seja por serem vistas por uma diferente perspectiva, de acordo com a opinião das demais personalidades criadas por Egan.
É justamente pela multiplicidade de vozes, cenários e enredos que A visita cruel do tempo se faz tão admirável e engenhoso, considerando-se que seria exigido da autora um grande domínio e habilidade para construir a obra de maneira tão espetacular – algo alcançado por ela com maestria. Beira uma sensação atemporal na narrativa e, acima de tudo, há um toque de melancolia e nostalgia, crueldade e franqueza, simplicidade e realidade em cada uma das páginas que compõe a obra; pouco a pouco, acompanhamos as mudanças provocadas pela passagem do tempo, como a concretização e destruição de sonhos, ou tragédias inevitáveis e sucessos inesperados, além de simples detalhes e escolhas capazes de alterarem toda uma cadeia de eventos e rumos das personagens. O tempo, grande persona do enredo, é vilão e herói, agente e expectador, e acompanhar sua ação é tanto triste quanto interessante, algo dotado de uma estranha e mordaz curiosidade.
Certamente indico a leitura, mas deixo também algumas ressalvas. Esse não é um livro comum, sendo capaz de desagradar na mesma medida em que pode arrebatar, e leitores acostumados a narrativas usuais e mais comumente estruturadas podem encontrar certa resistência ao desbravar A visita cruel do tempo. Mais do que um livro para entreter, essa é uma obra para se apreciar.
Aione,só pelo título percebemos a complexidade do tempo .Achei bem interessante o ´´jogo“que faz com os personagens,onde o que é secundário em um capítulo torna-se principal em outro,formando pouco a pouco uma teia que interliga os personagens.Concordo admirável e engenhoso.Uma obra para se apreciar.Beijos!!!