[Resenha] A Visita Cruel do Tempo - Jennifer Egan - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
12

fev
2016

[Resenha] A Visita Cruel do Tempo – Jennifer Egan

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Título: A Visita Cruel do Tempo
Autor: Jennifer Egan
Editora: Intrínseca
Número de Páginas:  333
Ano de Publicação: 2012
Skoob: Adicione
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Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última — e suicida — turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em garotinhas. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.

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Inteligente. Essa seria uma boa palavra para se aplicar ao, no mínimo, singular A visita cruel do tempo, um livro tão difícil de se resumir quanto de se explicar – embora essa dificuldade não esteja presente em sua capacidade de conquistar e de causar admiração.

Na obra de Jennifer Egan vencedora do Pulitzer, não há um enredo propriamente dito, sequer linearidade de acontecimentos ou uma mesma perspectiva dos fatos. Ao contrário, é como se diversos contos fossem narrados, sob diversas óticas e sobre diferentes personagens, pouco a pouco interligadas entre si através de saltos anacrônicos não especificados, mas identificados por meio das pistas dadas em cada um dos capítulos. E, acima de tudo, há o tempo, grande protagonista da obra, conectando e unificando as temáticas abordadas.

Em determinado capítulo, uma personagem aparece em destaque, e várias outras são mencionadas em maior ou menor grau de importância; no capítulo seguinte, aquela figura antes surgida em uma breve citação reaparece, agora ganhando a cena. Dessa maneira, pouco a pouco é formada a teia que interliga personagens, fatos e datas, algo que tanto pode ser considerado um ponto baixo do livro, na opinião de alguns, quanto seu grande trunfo, na visão de seus apreciadores.

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Em minha experiência, tive sim certa dificuldade, em alguns momentos, de acompanhar a leitura; contudo, ao mesmo tempo eu me via fascinada pela habilidade da autora em trazer tanto de cada personagem em meio a acontecimentos muitas vezes simples e quotidianos. A cada novo capítulo, há uma nova surpresa: que personagem será melhor apresentada; qual o momento na linha do tempo em que tal narrativa se dá; qual a conexão estabelecida na gama de eventos. Ainda, cada capítulo traz também uma diferente compreensão e uma diferente visão das personagens mencionadas, seja por estarem em papel de destaque, seja por serem vistas por uma diferente perspectiva, de acordo com a opinião das demais personalidades criadas por Egan.

É justamente pela multiplicidade de vozes, cenários e enredos que A visita cruel do tempo se faz tão admirável e engenhoso, considerando-se que seria exigido da autora um grande domínio e habilidade para construir a obra de maneira tão espetacular – algo alcançado por ela com maestria. Beira uma sensação atemporal na narrativa e, acima de tudo, há um toque de melancolia e nostalgia, crueldade e franqueza, simplicidade e realidade em cada uma das páginas que compõe a obra; pouco a pouco, acompanhamos as mudanças provocadas pela passagem do tempo, como a concretização e destruição de sonhos, ou tragédias inevitáveis e sucessos inesperados, além de simples detalhes e escolhas capazes de alterarem toda uma cadeia de eventos e rumos das personagens. O tempo, grande persona do enredo, é vilão e herói, agente e expectador, e acompanhar sua ação é tanto triste quanto interessante, algo dotado de uma estranha e mordaz curiosidade.

Certamente indico a leitura, mas deixo também algumas ressalvas. Esse não é um livro comum, sendo capaz de desagradar na mesma medida em que pode arrebatar, e leitores acostumados a narrativas usuais e mais comumente estruturadas podem encontrar certa resistência ao desbravar A visita cruel do tempo. Mais do que um livro para entreter, essa é uma obra para se apreciar.

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15 Respostas para "[Resenha] A Visita Cruel do Tempo – Jennifer Egan"

Aciclea Vieira - 12, fevereiro 2016 às (10:44)

Aione,só pelo título percebemos a complexidade do tempo .Achei bem interessante o ´´jogo“que faz com os personagens,onde o que é secundário em um capítulo torna-se principal em outro,formando pouco a pouco uma teia que interliga os personagens.Concordo admirável e engenhoso.Uma obra para se apreciar.Beijos!!!

Cristiane Oliveira - 12, fevereiro 2016 às (15:37)

Oi Aione! Eu gosto muito de histórias como essa em que várias histórias são narradas separadamente para se interligarem. E o livro me pareceu acima de tudo bem reflexivo.
Beijos

Fernanda Martins - 12, fevereiro 2016 às (16:19)

Oi Aione lendo a sinopse e a sua resenha a temática do livro não me chamou a atenção, mas como sempre sua resenha esta maravilhosa bjs.

Cristiane Dornelas - 12, fevereiro 2016 às (17:17)

Não é um livro que se leia querendo passar o tempo. Essa foi a minha ideia da experiencia, porque se você não se jogar a engenhosidade pode passar despercebida e é uma narrativa um pouquinho confusa, mas quando você chega ao fim entende porque daquilo ou isso. Adorei o que autora criou com esse livro. O personagem constante é o tempo e ela faz você vê-lo de uma maneira que naturalmente não veria. A vida em si, as pessoas, sentimentos…ela criou uma trama tão densa e bem feita que acabar o livro é até triste! Queria reler assim que cheguei ao final, de tão bom que foi. Vale muito a pena, não é mesmo? =D

Pamela Miranda - 12, fevereiro 2016 às (18:04)

Oiii, sua resenha ficouu otima como sempre rsrs Mas não me interesso muito por esse tipo de livro. Mas para quem gosta, esse e um otimo livro *-*

Dan Igor - 12, fevereiro 2016 às (19:58)

Parece ser um livro um tanto quanto complexo, mas também reflexivo e bem escrito, narrado, enfim, de um jeito peculiar e nada comum! Não sei se apreciarei ao máximo, mas com certeza irei tentar quando for ler. Só você mesmo pra me instigar a ler um livro que eu sequer pensaria em ler *-* Abraços, amei a resenha 🙂

rudynalva - 12, fevereiro 2016 às (20:43)

Aione!
O título é bem sugestivo e convidativo à leitura.
Embora seja um tanto confuso, como você mesma falou.
Ainda assim, fiquei bem curiosa por conhecer essa ‘nova forma’ de escrita, onde os protagonistas se revezam em conceito de importância.
“A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena.”(Augusto Cury)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Lara Cardoso - 13, fevereiro 2016 às (22:57)

Esse é um dos melhores livros de 2012, sem dúvida. Causou um grande impacto em mim quando o li, além de ter uma estrutura arriscadíssima e Egan conseguiu se sair magistralmente. Boa resenha!

Micheli Pegoraro - 14, fevereiro 2016 às (13:19)

Olá Aione,
A primeira impressão que tive ao terminar de ler a resenha foi: que livro mais engenhoso! Um livro tão complexo, narrado de um jeito tão peculiar e inovador deve gerar certa dificuldade na leitura, mas sem diminuir sua grandeza. Com certeza vou dar uma chance e tentar apreciar tudo o que essa obra tem a oferecer. Fiquei fascinada com a resenha, mais um livro que vai pra lista.
Beijos

Rhoana Lersch - 15, fevereiro 2016 às (17:04)

Oi Aione!!
Amei a capa desse livro e vou procurar saber mais sobre ele, parece ser bem diferente do que eu estou acostumada a ler, quem sabe me identifico né, beijos!!

Giovanna Jocronis - 15, fevereiro 2016 às (20:45)

Já li outro livro da autora, O Torreão, e concordo com ser livro pra apreciar, e não entreter. Quero muito ler esse, que é o mais famoso. Me encantei com a autora 🙂

Maria Alves - 16, fevereiro 2016 às (11:01)

Parece ser uma leitura difícil, mais complexa, um livro para ler com calma e muita atenção para poder entender melhor. Mas parece ser interessante um livro que fale das mudanças do tempo, muita coisa acontece com o passar do tempo, umas para melhores e outras para piores, mas como diz o ditado o tempo é o melhor remédio.

Jessica Lisboa - 18, fevereiro 2016 às (16:36)

Sinceramente no momento essa historia não me chamou atenção, acho que é pelo fato da ressaca literária, então passo essa leitura.

Rafaella Abreu - 20, fevereiro 2016 às (16:55)

O livro parece ser maravilhoso, fiquei curiosa pra saber como a autora fez algo tão incrível como vc citou!! Espero gostar tbm =)

Ana I. J. Mercury - 28, fevereiro 2016 às (13:32)

Comecei a ler O Torreão também da Jennifer, mas não gostei, e não terminei a leitura, não sei se lerei algum outro livro dela.
Mas como você gostou do livro, vou anotar aqui, quem sabe não vale dar uma chance à ele algum dia, né não? rs
bjos

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