[Resenha] A Suavidade do Vento - Cristovão Tezza - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
10

jun
2015

[Resenha] A Suavidade do Vento – Cristovão Tezza

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Título: A Suavidade do Vento
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Record
Número de Páginas: 256
Ano de Publicação: 2015
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J. Matozo é um misterioso professor de português em uma pequena cidade paranaense. Na solidão de seu pequeno quarto no segundo andar de um sobrado, ele gasta suas horas livres naquilo que pode tirá-lo – ou ao menos destacá-lo – da mediocridade circundante: Matozo escreve um livro. A aspiração de Matozo vai levá-lo a enfrentar a difícil escolha entre alimentar o sonho de se tornar um escritor reco-nhecido e manter sua posição confortável na sociedade local. Publicado em 1991, A suavidade do vento é uma arguta recriação literária de uma sociedade de regras e pe-quenas pretensões, que equilibra a tradição realista de uma vertente da literatura brasi-leira com elementos de fantasia de uma fábula moral. Escrito com a segurança narrativa característica da prosa de Cristovão Tezza, este romance compõe um importante mo-mento na construção de uma das obras mais consistentes da literatura brasileira contem-porânea.

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Cristovão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, onde vive até os dias atuais. Configura-se como um dos escritores brasileiros contemporâneos mais premiados e traduzidos, com uma vasta obra que transita entre ensaio e ficção.

A Suavidade do Vento nos conta de modo muito sincero e convincente a história de Matozo, um professor de português que, em plena década de 70, vive numa pequena cidade à sombra do projeto da usina de Itaipu. Mora no segundo andar de um sobrado, onde se aninha com sua solidão e seus medos. Nosso personagem central não consegue se adequar à sociedade local e se sente um verdadeiro peixe fora d’água nos círculos sociais do pequeno lugar. No mesmo apartamento onde se entrega à solidão e amargura, ele se dedica a algo que parece ser a luz no fim do túnel, algo que lhe dará crédito e que poderá tirá-lo dessa mediocridade aparente: o professor está escrevendo um livro e encontra-se perto de finaliza-lo.

 

“Só então a correria. Sem olhar para ninguém, o professor junta as folhas, cadernos e livros, apaga o quadro com método, avança pelo corredor evitando cuidadosamente esbarrar em alguém, e entra na sala dos professores para o ritual do cafezinho”.

página 15

 

Narrado em terceira pessoa através de um narrador carismático e que conversa tanto com o leitor quanto com o próprio personagem, a história nos leva de modo muito singelo a conhecermos as angústias de um homem com mais de trinta anos que vaga por uma rotina morna e sem muito sentido para ele. Além disso, o mesmo não consegue ser muito sociável pelo simples fato de não se identificar com as pessoas que o cercam. Leitor de Clarice Lispector, detesta o próprio nome (o que é compreensível por se chamar Josilei Maria Matôzo) e vive fugindo das pessoas sempre que pode. Essas são algumas das principais características desse personagem tão singular, mas que, se formos refletir um pouco, se equipara a muitos de nós na busca constante por algo a mais para as nossas próprias vidas e rotinas.

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“Querida…Não. Prezada Clarice Lispector. Sou seu leitor há muitos anos e sua literatura me transformou. Tudo que você escreve me toca e me cala. Sou escritor porque li você”.

página 96

 

O que mais me agradou no livro foi justamente o fato do personagem ser tão real e nos dizer tanto com sua trajetória de vida. A trama levanta várias reflexões e nos dá a impressão de já ter conhecido alguém parecido com o professor Matozo, uma figura tão peculiar e ao mesmo tempo tão comum que nos desperta sentimentos contraditórios e tensos. Outro ponto positivo é que a centralidade do livro está no processo de escrita, na arte de escrever e no quanto esse processo é importante, marcante e surpreendente.

O personagem exala uma melancolia familiar e por vezes nos faz pensar nas durezas e amarguras da vida pelo simples fato de se configurar como alguém que sofre na pele a rejeição das pessoas que não se aproximam dele por achá-lo esquisito. Ao longo da narrativa acompanhamos seus pesares, suas escolhas e renúncias e seu modo de enfrentar o mundo.

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Assim como o título com sua suavidade do vento, esse livro trouxe suavidade à minha tarde, me proporcionou momentos de entrega a uma leitura muito prazerosa de um escritor ao qual tive a honra de ler pela primeira vez e concluir o quanto sua escrita é rica, envolvente e repleta de elementos que a tornam única e inesquecível.





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12 Respostas para "[Resenha] A Suavidade do Vento – Cristovão Tezza"

Larissa Oliveira - 10, junho 2015 às (11:35)

Oi, Clivia! O livro parece bem interessante, com um personagem diferente, mas, ao mesmo tempo, tão comum. Eu, pelo menos, já me senti como Matozo. Aliás, quem nunca se sentiu assim, né, um peixe for d’água, como você mencionou na resenha. Não conhecia o livro, mas fiquei muito curiosa para ler e poder absorver todo o sentimento que a história transmite.

Aciclea Vieira - 10, junho 2015 às (12:23)

Esse livro parece ser bem introspectivo devido ao seu personagem principal,um professor que foge de todos e enquanto isso em seu quarto escreve para finalizar seu livro,não gosta de seu nome,Josilei Maria Matôzo,e escreve por que leu Clarice Lispector,história realmente interessante e ao mesmo tempo fascinante.Merece ser lido Beijos!!!

Filipe Mateus - 10, junho 2015 às (15:53)

Oi Clivia!
Sinceramente, não tenho nenhum preconceito com livros brasileiros, mas este definitivamente não me agradou.
Acho que eu posso dar uma chance para ele mais tarde.
Mas mesmo assim, acho que não vou ler. Pelo menos não por agora.

Thais Belarmina - 11, junho 2015 às (12:05)

Oi Clivia, tudo bem?
Esse é um nacional? Adorei conhecer mais um autor, e pelo o que vc falou desse livro é tipo THE BEST! o.O kkk
Espero ter a oportunidade de ler e apreciar essa leitura pois também gosto de livros assim!
Bjos!

The Nice Age - 12, junho 2015 às (00:26)

Oi Clivia!

a Sinopse do livro não me prendeu, apesar de que o personagem parece ser engraçado e a leitura parece ser sim, prazerosa. No momento procuro uma leitura mais leve, quem sabe mais para frente.

Beijos!

Cintia

Tamara Costa - 12, junho 2015 às (19:40)

Gosto de livros com personagens que parecem tão simples mas tão reais, porém o livro parece muito denso e eu ultimamente estou fugindo de livros assim rs

Francielle Moreira - 12, junho 2015 às (20:46)

gSTEI DA RESENHA, AFINAL QUEM NUNCA SE SENTIU COMO SE FOSSE UM ET KKKK

Thays Suenaga - 21, junho 2015 às (09:56)

O final… Nossa! Tão bom que me deixou estático por belos dez minutos, olhando pro nada, pensativo.

Cristiane Oliveira - 23, junho 2015 às (12:10)

Oi Clivia. Sempre gosto das suas resenhas por você mostrar tantos autores pouco conhecidos , especialmente os nacionais.Este me deixou bastante curiosa porque mostra um pouco deste processo da escrita, que deve ser bem interessante.
Beijos

Rebeca Kelly - 23, junho 2015 às (23:07)

É um livro nacional com uma proposta bem diferente do que comumente temos encontrado. Melancólico, introspectivo, com certeza deve mexer muito com as emoções mais profundas do leitor. E como já foi apontado, quem nunca sentiu-se como Matozo? Apesar de não ser fã desse tipo de romance, o leria pela experiência que me proporcionaria.

Mirian Caroline Rodrigues - 28, junho 2015 às (14:55)

Olá Clivia, tudo bem?
O livro é parece bem interessante, mas não é o tipo de leitura que me agrada, Beijos

Mariana Póvoa Cavalcante - 16, julho 2015 às (20:18)

Me interessei pela capa que é linda. Mas depois que li a resenha pretendo ler o livro certeza! Simplesmente ameiiiiiiii a parte do livro que você trouxe onde ele diz para Clarice Lispector: “Sou escritor porque li você.” Maravilhosooooooooo!

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