Título: A Suavidade do Vento
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Record
Número de Páginas: 256
Ano de Publicação: 2015
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J. Matozo é um misterioso professor de português em uma pequena cidade paranaense. Na solidão de seu pequeno quarto no segundo andar de um sobrado, ele gasta suas horas livres naquilo que pode tirá-lo – ou ao menos destacá-lo – da mediocridade circundante: Matozo escreve um livro. A aspiração de Matozo vai levá-lo a enfrentar a difícil escolha entre alimentar o sonho de se tornar um escritor reco-nhecido e manter sua posição confortável na sociedade local. Publicado em 1991, A suavidade do vento é uma arguta recriação literária de uma sociedade de regras e pe-quenas pretensões, que equilibra a tradição realista de uma vertente da literatura brasi-leira com elementos de fantasia de uma fábula moral. Escrito com a segurança narrativa característica da prosa de Cristovão Tezza, este romance compõe um importante mo-mento na construção de uma das obras mais consistentes da literatura brasileira contem-porânea.
Cristovão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, onde vive até os dias atuais. Configura-se como um dos escritores brasileiros contemporâneos mais premiados e traduzidos, com uma vasta obra que transita entre ensaio e ficção.
A Suavidade do Vento nos conta de modo muito sincero e convincente a história de Matozo, um professor de português que, em plena década de 70, vive numa pequena cidade à sombra do projeto da usina de Itaipu. Mora no segundo andar de um sobrado, onde se aninha com sua solidão e seus medos. Nosso personagem central não consegue se adequar à sociedade local e se sente um verdadeiro peixe fora d’água nos círculos sociais do pequeno lugar. No mesmo apartamento onde se entrega à solidão e amargura, ele se dedica a algo que parece ser a luz no fim do túnel, algo que lhe dará crédito e que poderá tirá-lo dessa mediocridade aparente: o professor está escrevendo um livro e encontra-se perto de finaliza-lo.
“Só então a correria. Sem olhar para ninguém, o professor junta as folhas, cadernos e livros, apaga o quadro com método, avança pelo corredor evitando cuidadosamente esbarrar em alguém, e entra na sala dos professores para o ritual do cafezinho”.
página 15
Narrado em terceira pessoa através de um narrador carismático e que conversa tanto com o leitor quanto com o próprio personagem, a história nos leva de modo muito singelo a conhecermos as angústias de um homem com mais de trinta anos que vaga por uma rotina morna e sem muito sentido para ele. Além disso, o mesmo não consegue ser muito sociável pelo simples fato de não se identificar com as pessoas que o cercam. Leitor de Clarice Lispector, detesta o próprio nome (o que é compreensível por se chamar Josilei Maria Matôzo) e vive fugindo das pessoas sempre que pode. Essas são algumas das principais características desse personagem tão singular, mas que, se formos refletir um pouco, se equipara a muitos de nós na busca constante por algo a mais para as nossas próprias vidas e rotinas.
“Querida…Não. Prezada Clarice Lispector. Sou seu leitor há muitos anos e sua literatura me transformou. Tudo que você escreve me toca e me cala. Sou escritor porque li você”.
página 96
O que mais me agradou no livro foi justamente o fato do personagem ser tão real e nos dizer tanto com sua trajetória de vida. A trama levanta várias reflexões e nos dá a impressão de já ter conhecido alguém parecido com o professor Matozo, uma figura tão peculiar e ao mesmo tempo tão comum que nos desperta sentimentos contraditórios e tensos. Outro ponto positivo é que a centralidade do livro está no processo de escrita, na arte de escrever e no quanto esse processo é importante, marcante e surpreendente.
O personagem exala uma melancolia familiar e por vezes nos faz pensar nas durezas e amarguras da vida pelo simples fato de se configurar como alguém que sofre na pele a rejeição das pessoas que não se aproximam dele por achá-lo esquisito. Ao longo da narrativa acompanhamos seus pesares, suas escolhas e renúncias e seu modo de enfrentar o mundo.
Assim como o título com sua suavidade do vento, esse livro trouxe suavidade à minha tarde, me proporcionou momentos de entrega a uma leitura muito prazerosa de um escritor ao qual tive a honra de ler pela primeira vez e concluir o quanto sua escrita é rica, envolvente e repleta de elementos que a tornam única e inesquecível.
Oi, Clivia! O livro parece bem interessante, com um personagem diferente, mas, ao mesmo tempo, tão comum. Eu, pelo menos, já me senti como Matozo. Aliás, quem nunca se sentiu assim, né, um peixe for d’água, como você mencionou na resenha. Não conhecia o livro, mas fiquei muito curiosa para ler e poder absorver todo o sentimento que a história transmite.