Título: Corações de alcachofra
Autor: Sita Brahmachari
Editora: Galera Júnior
Número de Páginas: 256
Ano de Publicação: 2015
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Mira Levenson tem 12 anos e raros momentos de tédio. Mas não imaginava que seria obrigada a lidar com um sentimento totalmente novo e possivelmente o mais difícil de sua vida em meio a todo esse turbilhão: sua avó, Josie, uma excêntrica e animada pintora, está com câncer, e pretende encarar a última fase da vida como sempre encarou tudo, de cabeça erguida e com bom humor. Enquanto tenta lidar com o que está por vir (com a ajuda de seu presente de aniversário, um diário), Mira vai descobrindo que não é a única com segredos e, aos poucos, compreende que, assim como um coração de alcachofra, nosso próprio coração sempre tenta proteger a parte mais preciosa.
Embora de autoras diferentes, Corações de alcachofra despertou minha atenção por me lembrar de Jeremy Fink e o sentido da vida, também publicado pela Galera Júnior e um dos meus favoritos de 2014: ambos trazem jovens na mesma faixa etária, tendo de lidar não apenas com a transição para a adolescência, mas também com lições mais difíceis, originadas da perda. Apesar disso, são histórias bem diferentes, que me conquistaram cada uma a seu modo.
Com uma escrita muitas vezes beirando a coloquial, Sita Brahmachari dá voz à Mira, que narra a história por meio de seu diário. Ainda que a narrativa seja fácil e leve, é permeada por inúmeras reflexões capazes de enriquecê-la e de contribuírem ainda mais para sua capacidade de envolver o leitor.
“Quando alguém está morrendo, tudo o que você diz ou faz significa mais do que normalmente. Quando alguém está morrendo, você percebe coisas… na verdade, tudo. A vida toda fica em câmera lenta.”
página 53
Confesso que, inicialmente, a história demorou um pouco a me prender, principalmente, talvez, pela quantidade de cenas rápidas iniciais mais descritivas, cujo intuito consiste em apresentar ao leitor a vida e a rotina da protagonista. Contudo, conforme os personagens foram se tornando mais familiares, fui me apaixonando por eles, pela história e pela escrita da autora.
Mira precisa encarar muitas mudanças e seus significados: a primeira menstruação, a primeira paixão e, a mais difícil de todas, a iminente perda de sua avó, que aguarda serenamente por sua morte devido ao câncer após uma vida plenamente vivida. Em meio a tudo isso, a protagonista passa a ter aulas com Pat Print, uma escritora de papel fundamental nesse processo de transição de Mira: é ela quem sugere à jovem, por meio de uma tarefa, usar um diário, e é ela quem possibilita à Mira um olhar mais atento sobre as pessoas e situações. Pat Print não é a única, porém, a fazer parte desse processo de amadurecimento: vovó Josie e Jidé Jackson são, além de altamente cativantes, imprescindíveis na transformação de Mira, contribuindo, cada um de sua forma, com a aprendizagem da protagonista.
“Vovó pinta o passado com tanta clareza que quase parece que é parte da minha própria memória… ela tem uma maneira de levar você para dentro das cenas… fazendo com que você sinta que é a única pessoa que importa no mundo.”
página 102
Sita Brahmachari foi muito feliz em desenvolver sua obra: há nela a leveza esperada para um livro a cuja faixa etária se destina, trazendo temáticas pertinentes a fase de forma não superficial, ao mesmo tempo em que se aprofunda em questões mais complicadas sem que haja um abuso delas. O tópico da morte não é tratado de forma sensacionalista, explorando-se o sofrimento; ao contrário, há uma valorização da vida por meio do foco na plenitude da vivência de vovó Josie, que busca uma visão positiva na última etapa de sua vida.
Foi impossível não me envolver e não me emocionar com a leitura desse belíssimo trabalho de Sita Brahmachari. Foi um prazer acompanhar o crescimento de Mira em um espaço tão curto de tempo e vê-la compreender o que seria um coração de alcachofra, sem, acima de tudo, se esquecer da principal parte existente entre as duras camadas impostas pela vida. Um livro que não apenas pode ser lido pelo público infanto-juvenil, mas que pode ser muito bem apreciado por qualquer um que a ele se abra.
Aione,esse tipo de leitura me envolve duplamente, não apenas por ser uma história que aponta de forma direta na vida de uma jovem,mudanças aos quais ela certamente não irá esquecer…também me conduz aos meus onze anos,quando minha avó acometida de câncer teve seus dias interrompidos…as palavras que ficam são SAUDADES e CRESCIMENTO.Beijos!!!