[Livros Na Telona] As Virgens Suicidas - Jeffrey Eugenides - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
05

nov
2014

[Livros Na Telona] As Virgens Suicidas – Jeffrey Eugenides

As Virgens Suicidas_filme

Sobre o Livro

As Virgens Suicidas
Título: As Virgens Suicidas
Autor: Jeffrey Eugenides
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 232
Ano de Publicação: 2013
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Em meio à Revolução Sexual no anos 70, a família Lisbon tenta manter vivo o conservadorismo, nadando contra a maré da sociedade. Nesse contexto, as cinco irmãs Lisbon – Cecília, Lux, Bonnie, Mary e Therese – vivem sob forte repressão de seus pais: a elas não é permitido sair de casa, garotos não podem visitá-las, suas roupas são as mais tradicionais o possível, entre outros aspectos. Todas essas características, aliadas à beleza e a aura de mistério que paira sobre elas, despertam a curiosidade de um grupo de garotos do bairro, narradores dessa história.

Quando Cecília, a mais jovem das garotas, tenta se suicidar, o casal Lisbon resolve amenizar parte da rigidez da educação dada as suas filhas e tentam integrá-las à comunidade, permitindo aos garotos, assim, um maior contato e mais informações sobre a família. Contudo, Cecília consegue finalmente dar fim a sua vida três semanas após sua primeira tentativa, iniciando uma série de outros acontecimentos ao longo do ano narrado na trama que culminarão com o suicídio de todas as outras meninas Lisbon.

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A primeira característica a chamar a atenção na obra é sua narração pela voz coletiva do grupo de garotos, construída por suas observações e por diversos depoimentos de outros envolvidos na trama. Dessa maneira, os fatos apresentados são influenciados tanto pelo fascínio sentido pelas Lisbon, quanto pela curiosidade originada de seus modos de vida e pelos suicídios, além do próprio tempo decorrido entre a narração e o ano em que a tudo aconteceu: a história é contada ao leitor muitos anos após os suicídios terem acontecido. Sendo assim, o que temos é a impressão dos garotos sobre a família e os fatos, e não necessariamente a realidade, principalmente sobre o motivo dos suicídios.

 

“(…) Segurando o queixo da menina com delicadeza, o médico perguntou: ‘O que você está fazendo aqui, meu bem? Você nem tem idade para saber o quanto a vida pode se tornar ruim’.
E foi então que Cecilia forneceu oralmente aquilo que seria sua única forma de bilhete de suicídio, e ainda por cima um bilhete inútil, porque ela sobreviveria: ‘É óbvio, doutor’, ela disse, ‘você nunca foi uma menina de treze anos’.”
página 11

 

Por termos as impressões dos garotos, a narrativa intercala momentos romantizados e idealizados, enaltecendo a feminilidade das garotas e da casa habitada por elas, com outros crus, quase fisiológicos, capazes de causar asco pela detalhada descrição.

Um ponto interessante sobre os suicídios, mais especificamente sobre o de Cecília, é o significado que toma na comunidade: aos poucos, os sentimentos de pena e assombro pela tragédia passam dar lugar à busca pelo motivo de ter acontecido, sobretudo responsabilizando a própria Cecilia, vista, de certa forma, como “maluca”, em uma tentativa de negar falhas no chamado sonho americano. Mais fácil acreditar que Cecília era quem tinha problemas do que o modo de vida americano – ou sua frustração por não vivê-lo – quem poderia gerá-los, de alguma forma.

Mesmo que o leitor tenha ciência dos acontecimentos que culminaram com os suicídios das Lisbon, em momento algum é realmente elucidado o motivo das meninas terem tirados suas próprias vidas, uma vez que não temos suas visões. Os garotos, apenas, podem supor motivos. Ainda que tenhamos, em alguns momentos, as falas das jovens, o que nos é reportado é apenas o que elas disseram, e não necessariamente o que queriam dizer ou pensavam sobre o assunto. Há uma distância entre os narradores e elas, e é impossível ultrapassar essa barreira para adentrar na mente das Lisbon, restando tanto aos garotos quanto aos leitores apenas suporem.

 

“(…) Tanto se escreveu sobre as meninas nos jornais, tanto foi dito em conversas de fundo de quintal ou relatado em consultórios psiquiátricos com o passar dos anos, que nossa única certeza é a insuficiência das explicações.”
página 230

 

Em minha experiência, a leitura foi extremamente fluida e rápida, e não demorei a me envolver com a trama apresentada. Junto dos garotos, senti curiosidade pela vida das Lisbon e lamentei por não ter tido uma resposta concreta sobre seus suicídios, não tanto para compreendê-los, mas sim por não ter sido possível me aprofundar nas mentes das garotas e conhecido seus anseios, sentimentos e reflexões. Contudo, esse não foi um ponto negativo da obra, mas sim um aspecto maior para admirá-la, principalmente pela influenciada e atípica narrativa.

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Sobre o Filme

 

É sempre gratificante assistir a uma adaptação fiel à obra original, e As Virgens Suicidas não deixa nada a desejar no quesito fidelidade.

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Fiquei impressionada em como até detalhes foram incorporados, como a descrição de gestos que facilmente poderiam passar despercebidos. Falas e trechos da narrativa também se fazem presente, tornando o filme de Sofia Copolla extremamente representativo do livro de Jefrey Eugenides. Poucas foram as alterações e/ou omissões.

O elenco também foi muito bem escolhido, trazendo atores condizentes com as descrições presentes no enredo, algo que nem sempre acontece com adaptações. Mais do que a aparência física, o elenco captou a essência de seus personagens, transmitindo ao espectador a atmosfera exata do livro. Merece destaque Kirsten Dunst, que incorporou Lux, a segunda Lisbon mais nova, com maestria.

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Achei interessante, ainda, a maneira de como o ar dos momentos românticos e idealizados da narrativa foram incorporados: através de cenas que remetem aos sonhos e ao imaginário. Vale ressaltar a trilha sonora que não apenas enalteceu esses momentos como ainda ajudou a dar o toque certo de drama quando necessário, mas sem exagerá-lo. Por mais tristes que sejam os acontecimentos, não é a intenção do filme ou do livro fazerem deles um sensacionalismo ou causar um apelo emocional.

De modo geral, o filme, em termos de adaptação, configura como uma das melhores que já assisti por sua extrema fidelidade. Além disso, vale a pena conferi-lo mesmo se a leitura não foi feita previamente: ele é plenamente capaz de transmitir a essência da orba de Eugenides.

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Assista ao Trailer!

 





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19 Respostas para "[Livros Na Telona] As Virgens Suicidas – Jeffrey Eugenides"

Rayme - 05, novembro 2014 às (10:03)

quem não gosta de assistir à um filme que seja super fiel ao livro né…
já comprei o DVD deste filme, mas estou enrolando para ver porque quero ler o livro primeiro
não tinha visto ninguém comparando os dois ainda, e fiquei super animada em saber que é tão fiel assim! *-*
semana que vem entro em férias, ai que sabe eu consiga comprá-lo para ler e assistir ele logo!!!
adorei este tipo de post Aione. não sei se você já tinha feito outros assim, mas é o primeiro que eu vejo aqui no seu blog, e gostei bastante!!! *-*

Aione Simões - 05, novembro 2014 às (12:24)

Oi Rayme!
Essa, na verdade, é uma coluna daqui do blog, é que fazia tempo que eu não a atualizava!
Se quiser conferir, tem vários outros posts, só acessar aqui: http://minhavidaliteraria.com.br/category/livros-na-telona/
Beijão!

Gabriela C. - 05, novembro 2014 às (10:20)

Eu ainda não li o livro, mas assim como comentei no seu vídeo, esse filme é maravilhoso.
A Sofia Coppola arrasou na direção, e é ótimo saber que ela foi fiel ao livro em todos os detalhes. Acho que, por mais que sejam meios diferentes, filmes baseados em livros teriam por obrigação serem fieis ao livro, tornaria tudo muito mais interessante.
Quanto a esse filme, já assisti várias vezes, e agora quero ansiosamente ler o livro <3

DeebAmorim - 05, novembro 2014 às (12:17)

A premissa, obviamente, é bem diferente dos livros usuais, e isso é muito bom! Mas eu não gosto do tema suicídio, isso me deixa bem mal, dá uma angústia. Mas pelo que cê falou, acho que o fato de ter sido narrado pelos meninos acaba sendo melhor do que ter tido explicações reais pros suicídios, pq talvez o leitor poderia sair decepcionado ou até mesmo não compreender, então supor as vezes é melhor, porque se tem um leque de possibilidades.

Edilza - 05, novembro 2014 às (12:20)

Apesar desse detalhe negativo na minha opinião, sobre o porque das garotas terem se suicidado não ter sido apresentado, ainda fiquei bem curiosa pra ler e ver o filme! Ainda pelo último ter sido fiel até nas falas, e isso é incrível!

Aione Simões - 05, novembro 2014 às (12:25)

Oi Edilza!
Na verdade, essa não elucidação dos motivos dos suicídios não é um ponto negativo, mas sim uma característica da obra. Foi a intenção mesmo do autor fazê-la assim!
Beijão!

Nessa - 05, novembro 2014 às (12:57)

Oi Mi

Fiquei bem curiosa para ler o livro, aliás eu tenho o e-book, mas acabei postergando a leitura.
Não sabia da existência do filme e isso me deixou com mais vontade de ler e assistir.
Adorei sua resenha e seus comentários sobre.

Beijinhos

Rudynalva - 06, novembro 2014 às (00:48)

Aione!
Bem intrigante, né? O tema suicídio é conflituoso e não sei se não saber a razão dos suicídios me satisfaria.
Fiquei um tanto confusa apenas com a questão de o livro ter sido lançado em 2013, porém o filme me parece bem mais antigo, falo porque os atores principais estão bem mais jovem do que na atualidade e se o filme foi baseado no livro, a meu ver deve ter sido escrito há mais tempo. Estou enganada?
cheirinhos
Rudy

Larissa Pinheiro - 06, novembro 2014 às (00:50)

Olá, Aione!
Nossa, que coluna interessante, ainda não havia visto nenhum post dela. Parabéns pela resenha, tanto quanto do livro quanto do filme, você sempre sabe usar as palavras certas para atiçar nossa curiosidade. ^^
Fiquei bem curiosa à respeito do livro, que premissa interessante e diferente. Com certeza irei procurar lê-lo. Quanto ao filme, é muito bom quando um filme retrata tão fielmente o livro, assim, nossa imaginação pode finalmente se concretizar. Quero assistir em breve, assim que ler o livro. ^^

Abraços literários!

Crislane Barbosa - 06, novembro 2014 às (15:52)

Oi!
Assisti ao filme faz um bom tempo. Não lembro de muita coisa, mas me pareceu um filme bem feito. Porém não tenho curiosidade de ler o livro.

beijos!

Amanda Couto - 06, novembro 2014 às (19:11)

Não sabia que tinha o filme deste livro!! Fiquei curiosa.
Eu ouvi bastante gente falando bem desse livro, mas a sinopse dele me decepcionou, aí meio que desisti, vou assistir o filme e ver se repenso meu conceito.
Beijos

Desbravadores de Livros - 07, novembro 2014 às (01:01)

O fato de intercalar sentimentos e ideologias. Achei muito interessante o livro e o filme, parece uma história emocionante e que pode ser considerada como um exemplo. Afinal, tudo devemos reter o que é bom e o que nos prejudicaria, de alguma forma.
Adorei.

thayna ta - 09, novembro 2014 às (13:31)

As garotas da foto são praticamente iguais, a opressão com que elas vivem ser poder fazer nada como uma garota comum, na linha é claro. Não entendi muito bem os motivos de suicídio, me deu alguns beps na mente, não encaixou muito bem. Vi o trailer, e pelo jeito a família parece ser bem rígida, e as garotas claro, querendo aproveitar a adolescência de um modo não muito legal, ainda mais para a época.
Beijos Aione, ThaynáQ.

Oliveira - 09, novembro 2014 às (13:44)

É um livro que não tive muito interesse na época e até hoje nem o livro e/ou filme me atraem. Mas, agradeço a dica.

Cristiane Oliveira - 11, novembro 2014 às (14:04)

Oi Aione. Não conhecia a história do filme e nem o livro. Acho que deve ser um drama bastante emocionante. Que ótimo que você gostou da adaptação. Poucos filmes conseguem ser fiéis aos livros.
Beijos

Fernanda Bizerra - 17, novembro 2014 às (09:32)

Oi.
Vi este livro há um tempo atrás e fiquei bastante curiosa em lê-lo. Ainda não vi o filme, pois nem sabia que o tinha, mas ainda vou decidir se leio antes para ver o filme ou faço ao contrário.

Beijos
http://www.amorliterario.com

Aline Rodrigues - 22, novembro 2014 às (15:20)

Estou procurando o filme em toda parte e até o atual momento não encontrei em lugar algum, gostaria muito de ter para poder assistir assim que acabasse a leitura.

samara - 23, novembro 2014 às (14:34)

oi mi depois dessa resenha de filme e livro estou super curiosa para ler o livro apesar de eu n gostar muito desse tema .

vc poderia me dar dicas de livros que vc gostou com esses tema?

bjs!!!

Aione Simões - 23, novembro 2014 às (15:52)

Oi Samara!
Preciso pensar em alguns pra indicar, mas, eu pensando, aviso você 🙂
Beijão!!

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