Algo que muito me agrada nos livros de Emily Giffin é a sua sensibilidade em escrevê-los, em criar personagens de dentro para fora, tão reais e próximas que torna impossível, para mim, não me envolver com elas. Com Uma Prova de Amor, não foi diferente.
É surpreendente a forma de como Giffin sempre consegue me manter atrelada as suas palavras até a última página. Mais do que curiosa pelos acontecimentos, me vejo encantada pelas reflexões feitas por suas personagens, pelas situações que me fazem pensar em minha própria vida. Apesar das diferentes mulheres que compõe o enredo, me vi refletida em cada uma delas, mesmo não sendo semelhante a nenhuma. Cada uma apresentou uma particularidade – ou várias – que me causou identificação, e essa proximidade certamente é um ponto mais do que positivo, já que torna sua obra universal.
Característica marcante de seus livros, Giffin novamente trouxe um assunto polêmico, embora comum. Contudo, pela primeira vez senti certo vestígio de julgamento que não afetou meu envolvimento com a obra, mas que me incomodou durante a leitura. Claudia nunca quis ter filhos, e seu relacionamento com Bem era perfeito até o instante em que ele muda de ideia e declara que deseja ser pai. Achei interessantíssimo a autora abordar a temática da maternidade não desejada pela mulher, e fiquei, até o fim, curiosa pelo desfecho porque, para que ele fosse feliz, alguém deveria ceder, como indica o título. Contudo, me desagradou o fato de justamente a família de Cláudia, mais precisamente sua mãe, ser desajustada, o que insinua ser essa a razão para ela não querer ter filhos.
O que me desagradou foi o fato de haver essa insinuação. Por mais que Cláudia afirme por todo o livro não ser sua mãe a razão de sua opção, paira a dúvida, como se fosse preciso haver um problema para ela não desejar ter filhos. Em minha opinião, uma mulher pode, perfeitamente, não querer ser mãe pura e simplesmente por não desejá-lo, sem que haja um trauma para isso – e isso não tem absolutamente nada a ver com minhas próprias vontades, desejo um dia ser mãe. Com essa lógica do trauma, há a insinuação de que não querer ter filhos é um problema, algo possível de ser curado, quando, na verdade, representa uma escolha e/ou uma vontade. O fato de encarar tal opção como um problema demonstra certo julgamento, e isso não me agradou, principalmente por me parecer atípico nas obras de Giffin.
Também, a escolha da tradução do título não me pareceu tão apropriada, uma vez que sugere o desfecho, como já mencionado, enquanto o título original – Baby Proof – deixa mais claro o sentido da provação passada por eles devido ao súbito desejo de paternidade de Ben, não compartilhado por Claudia.
Tirados esses pontos, e esclarecido o fato do título ser apenas uma observação e não um obstáculo de leitura, minha experiência com Uma Prova de Amor foi excelente. Novamente, me deliciei com a escrita fluida e reflexiva de Giffin, e pude rapidamente me envolver com o enredo, sem querer me afastar dele até ter terminado a leitura. E um breve comentário é que a rápida aparição de Ethan, além da menção de Darcy, personagens de O Noivo da Minha Melhor Amiga e Presentes da Vida, foi uma grata surpresa que não apenas me alegrou por me dar notícias sobre eles como também me deixou nostálgica e com a sensação de eles serem reais, como se suas vidas realmente estivessem acontecendo em paralelo a essas outras histórias.
Confesso que o final me surpreendeu e me agradou. Para me explicar, precisarei discorrer sobre o final dando spoilers, portanto, se você não desejar lê-los, não selecione o parágrafo a seguir.
Se o casamento de Claudia e Ben retomasse por ela ter cedido em favor do desejo de Ben, me sentiria revoltada e com a sensação reforçada de que ocorrera um julgamento. Por que ela é quem teria de mudar sua opinião para provar seu amor? Meu incômodo, no caso, seria pela sugestão de que sua opinião original fosse errada, algo que ela mesma questiona no enredo: ela se vê como vilã por não ter desejado ser mãe, uma tola por não ter mudado de escolha, como se ela fosse obrigada a querer ter filhos pelo fato de ser mulher, e não querer ser a consequência de um trauma. Contudo, quando Ben, antes de Claudia, afirma estar disposto a abdicar de sua vontade para tê-la de volta, Giffin passou a mensagem de que o que realmente importa é o amor entre eles, independentemente de terem ou não filhos. Nesse caso, ambos cederam para ficarem juntos, e o que realmente acontecerá não faz diferença para eles. Ponto para a autora!
Agora, já tendo lido todas as obras de Emily Giffin, posso afirmar sem sombra de dúvidas que ela está entre minhas autoras favoritas, algo que eu já dizia antes mesmo de ter entrado em contato com todos os seus livros. Seu estilo reflexivo, porém de fácil leitura, abordando temáticas universais e permitindo uma fácil identificação com as personagens apresenta todos esses pontos na medida certa para agradar o leitor. Já vi muitas pessoas dizerem que acham seus livros monótonos; contudo, se você gosta de leituras que permitem certa introspecção e, ao mesmo tempo, são bastante agradáveis para se passar o tempo, essa é a pedida certa.
Oi Mi, acho que perdi meu comentário 🙁
Antes não tinha muita curiosidade de ler os livros da Emily, tinha até certo receio (não sei dizer por que), mas suas resenhas tão apaixonadas me fizeram ficar bem curiosa. Solicitei esse livro para a Novo Conceito por causa disso, mas ainda não li. Espero gostar tanto quanto você 😉
Gostei de saber que o final surpreende (não li os spoilers), e concordo com sua opinião sobre as mulheres que não querem ter filhos, acho que é bem comum, e não advém necessariamente de um problema.
Beijos