Sinto como se tivesse perdido as palavras para descrever minha experiência com Todo Dia. Fui arrebatada de tal forma que precisei de alguns minutos para me recompor após finalizar a leitura e ainda não sei muito bem como começar essa resenha, porque acho que nada do que eu disser será suficientemente fiel para reportar tudo o que senti, pensei e vivi junto de A, protagonista dessa obra de David Levithan. Tentarei começar da parte mais fácil e objetiva, distanciando-me das emoções em um primeiro instante.
Primeiramente, a proposta do autor foi extremamente criativa. Anão tem corpo, acorda a cada dia em um diferente hospedeiro. Não sabe o porquê de ser assim, só sabe que essa é sua vida. Assim, tal premissa já é suficiente para instigar o leitor a continuar a leitura pela própria curiosidade de descobrir o que ela lhe reserva, sem contar o fato de que, com isso, diferentes histórias e situações serão narradas. Ainda, a escrita de Levithan é impecavelmente construída, sendo ao mesmo tempo fluida, convidativa e recheada de frases de impacto. Acho que nunca marquei tantos quotes em um só livro, porque cada frase me parecia incrível e brilhante, merecedora de ser destacada. Talvez, a maior característica tanto da história quanto da escrita do autor seja a sensibilidade nelas presente.
“Não sei como isso funciona, nem o porquê. Parei de tentar entender há muito tempo. Nunca vou compreender, não mais do que qualquer pessoa normal entenderá a própria existência. Depois de algum tempo é preciso aceitar o fato de que você simplesmente existe. ”
página 8
David Levithan conseguiu, com maestria, destacar diferentes pontos de reflexão. Primeiro, ao fazer de A alguém sem corpo, desvincula-o de um gênero. A é a essência, não é homem ou mulher, apenas existe de acordo com a vida que habita a cada dia, sempre havendo a separação entre ele e seu hospedeiro. Há dias em que vive como um garoto que gosta de garotas, outros nos quais vive uma garota que gosta de garotas. Nada disso, entretanto, importa para ele, porque o que ele é não é definido pelo que ele mostra ser e, com isso, consegue passar com clareza sua mensagem, bem como a dificuldade em que temos de aceitar tal ideia. Ainda, há também a forte distinção entre a essência e o corpo, nem sempre feita por nós, o que torna mais difícil compreender, por exemplo, muitas doenças que acometem uma dessas partes. Também, explorou o conceito de passado, presente e futuro, mostrando que apesar de ser importante viver o agora, porque ele é a única coisa real entre os três, são os outros dois que contribuem na construção do que somos e dos laços que criamos. Sem um passado e um futuro, somos apenas nômades em nossas próprias vidas.
“- É só que, sei que parece um modo horrível de se viver, mas eu já vi muitas coisas. É muito difícil ter uma noção verdadeira do que é a vida quando se está num único corpo. Você fica tão preso a quem você é. Mas quando quem você é muda todos os dias, você fica mais próximo da universalidade. Mesmo os detalhes mais triviais. Você percebe que as cerejas têm gosto diferente para pessoas diferentes. Que o azul parece diferente. (…) Você aprende o valor de um dia, porque todos os dias são diferentes. (…) Ao enxergar o mundo de tantos ângulos, percebo melhor a dimensão dele”.
páginas 93 e 94
Não bastasse ter achado Todo Dia brilhante por seu desenvolvimento de modo geral – o que inclui a criatividade de sua premissa e as reflexões construídas ao longo do enredo – foi seu romance que me arrebatou desde o momento em que apareceu. O amor sentido por A foi incrivelmente real, sincero e intenso, e foi impossível permanecer imune a ele. Quando o livro terminou, precisei de vários minutos para me recompor, porque as lágrimas continuaram teimando a cair, e tenho certeza de que esse foi um dos livros que mais mexeu comigo dentre todos os que já li.
Acredito que o único ponto que poderia ser considerado como “negativo” foi o fato de muitas perguntas não terem sido respondidas, tanto sobre a própria situação de A, quanto sobre o relacionamento inicial de Rhiannon, a garota por quem A se apaixona, e Justin, o primeiro corpo habitado por A no enredo. De qualquer maneira, isso não chegou a afetar a minha opinião sobre o livro nem o impacto que ele teve sobre mim. Tais respostas pareceram irrelevantes, contrapostas ao efeito geral da obra em mim.
Não sei o quão clara consegui ser, e provavelmente ainda deixei muito de fora para ser dito. Contudo, acredito que o mais forte indicador do que Todo Dia foi para mim é exatamente esse misto de pensamentos, palavras e sentimentos arrebatadores, possíveis apenas quando uma obra verdadeiramente nos toca. Tentar transpor tudo o que pensei sobre ele será, talvez, tirar parte da mágica que ele poderá trazer para cada um que ainda o deseja ler. Assim, finalizo dizendo que esse foi, provavelmente, o melhor livro que li esse ano e um dos melhores lidos em minha vida, um daqueles que me marcou para sempre. Recomendo, recomendo e recomendo.
Oi Mi!
Tenho visto todo mundo amando essse livro.
A premissa é mesmo originalíssima e não tem como não ficar curiosa para saber qual o rumo que o personagem irá tomar porque é o tipo de situação em que a expressão “o céu é o limite” pode ser aplicada.
Impossível não ficar contagiada com a sua resenha. Adorei ver a sua dúvida sobre se conseguiu expressar tudo que queria ou não (me solidarizo, porque issso acontece muito comigo, hehe) e com certeza isso é um indicador de quanto o livro mexeu com você e do quão amplo o autor conseguiu ser. Tendo deixado coisas de fora ou não, uma ótima resenha.
Beijos