O Carteiro e o Poeta é um livro curto, mas, nem por isso, desprovido de conteúdo. Com suas poucas páginas, consegue falar de amizade, romance, política e, sobretudo, poesia.
Mário é um jovem filho de pescador que nunca se encontrou na atividade pesqueira, embora tenha crescido numa aldeia de pescadores. Quando seu pai o encoraja a procurar um emprego, ele se candidata à vaga de carteiro cujo único cliente seria o poeta Pablo Neruda. Embora sejam diferentes, com idades e educações diferentes, ambos compartilham a alma poética, mesmo que Mário nem ao menos se dê conta disso. Através da poesia, nasce a amizade entre ambos.
A narrativa de Antonio Skármeta é peculiar, isso porque, ao mesmo tempo em que consegue ser incrivelmente poética em diversos momentos, é crua e direta em outros, não poupando o leitor de um palavreado baixo que poderia beirar o vulgar se não fosse bem utilizado: como se a poesia da narrativa representasse a alma de Mário e, a outra faceta da escrita, a realidade de seu vilarejo.
Não apenas sobre o relacionamento entre Mário e Neruda, há um importantíssimo contexto político como pano de fundo da história, sendo que esse cenário é baseado em fatos reais do início da década de 70 do Chile. Embora a história entre os amigos seja fictícia, os fatos políticos não o são.
Por ser um livro realmente curto (123 páginas), os acontecimentos são acelerados, porém isso não faz deles inverossímeis. Aliás, encaro o tamanho da obra como algo positivo, uma vez que não sendo um lançamento ou um livro muito comentado no momento, pode não ser uma frequente opção de leitura e seria ainda menos frequente caso tivesse muitas páginas.
De modo geral, indico a leitura, porém com algumas ressalvas. Ressalto que o vocabulário do livro não é indicado para os mais jovens, bem como sua temática pode não agradar a todas. Contudo, esse não é um livro apenas para se ler, mas sim para também se apreciar.
Já havia assistido ao filme quando criança, o que significava que assisti-lo novamente foi o mesmo que assistir pela primeira vez – eu não me recordava de absolutamente nada, apenas dos personagens.
Quando começou, fiquei totalmente confusa. No livro, a história se passa no Chile, porém o que eu ouvia eram os personagens falando em italiano. Comecei a achar que meu inexistente espanhol era pior do que eu supunha, até que percebi que, no filme, a história realmente se passa na Itália, local onde Pablo Neruda foi exilado durante parte de sua vida.
Por conta da mudança do cenário e, consequentemente, da época – o livro se passa no início dos anos 70, enquanto o filme, nos anos 50 -, o desfecho da história e alguns outros momentos foram alterados. Contudo, a adaptação é extremamente fiel, a ponto de muitos diálogos originais terem sido exatamente representados nas cenas.
Não apenas alguns acontecimentos, senti que a atmosfera do filme também é diferente. Na adaptação, ela é muito mais poética, isso porque os momentos mais rústicos do livro não foram incorporados no roteiro. O filme, no resumo, é mais romantizado, enquanto o livro é mais politizado.
Philippe Noiret e Massimo Troisi estiveram perfeitos como Neruda e Mario, respectivamente, mesmo que as idades do personagem do último no livro e no filme sejam visivelmente discrepantes. No original, Mario é um jovem de 17 anos, e, embora sua idade não seja revelada na adaptação, o ator tinha 41 anos quando o interpretou. Porém, sua simplicidade e sua ingenuidade mantiveram a essência do protagonista de Antonio Skármeta – o que realmente importa.
Como já dito, o filme é mais romantizado e, por conta disso, acredito que seja mais fácil de emocionar. De qualquer forma, recomendo tanto assistirem à adaptação quanto realizarem a leitura do livro. Mesmo com suas diferenças, a essência em ambos é praticamente a mesma e a história contada é belíssima.
Curiosidades:
- O Carteiro e o Poeta foi o último filme de Massimo Troisi, que sofreu um ataque cardíaco fatal um dia após as filmagens terem sido encerradas. O ator, também, era poeta e diretor, e foi um dos roteiristas da adaptação.
- O francês Philippe Noiret precisou ser dublado no filme, uma vez que não falava nem espanhol nem italiano. Isso também aconteceu em Cinema Paradiso.
Confira o trailer do filme!
Parece interessante! Gostei do post!