[Resenha] Mulheres negras não deveriam morrer exaustas — Jayne Allen - Minha Vida Literária
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04

ago
2023

[Resenha] Mulheres negras não deveriam morrer exaustas — Jayne Allen

“Mulheres negras certamente morrem exaustas” é algo que Tabitha Walker ouvia de sua avó. É claro que sua avó (que, por acaso, é branca) se referia à década de 1950 e ao que ela observava nos tempos em que surgiam os direitos civis. Aos 33 anos, Tabitha é uma mulher negra com uma checklist bem encaminhada para a vida dos seus sonhos. Educação? Check. Um bom trabalho? Check. Dinheiro para dar entrada em uma bela casa? Check. Experiência em relacionamentos antes de se casar? Check, Check e Check. Com um horário fixo na cabeleireira todo sábado, um cargo cobiçado de repórter de notícias local e um namorado como Marc (o homem perfeito “em teoria”), Tabitha nunca imaginou que a frase repetida por sua avó poderia se aplicar a uma mulher negra vivendo na contemporaneidade como ela – até tudo mudar.
Um diagnóstico médico inesperado desperta Tabitha para um perigo antes despercebido, ameaçando a única coisa que sempre importou para ela: ter filhos. Com a ajuda de suas melhores amigas, as irreverentes e teimosas Laila e Alexis, a ex-“Sexy Lexi”, Tabitha deve explorar os mecanismos da medicina moderna e testar os limites de seus relacionamentos para lutar contra o tempo e alcançar o seu sonho de ser esposa e mãe – antes que a frase “mulheres negras certamente morrem exaustas” ganhe um significado novo e indesejado em sua própria vida.

 

Ficha Técnica: Mulheres negras não deveriam morrer exaustas

Título: Mulheres negras não deveriam morrer exaustas
Título original: Black girls must die exhausted
Autor: Tabitha Walker
Tradução: Cynthia Costa
Editora: Universo dos Livros
Número de Páginas: 384
Ano de Publicação: 2022
Skoob: Adicione
Compre: Amazon

Mulheres negras não deveriam morrer exaustas abre a trilogia de Jayne Allen protagonizada por Tabitha Walker. Traduzido por Cynthia Costa, o livro foi publicado no Brasil pela editora Universo dos Livros.

Tabitha Walker é negra, tem 33 anos e está exausta. Não é fácil conciliar vida pessoal com o trabalho como repórter buscando a sonhada promoção, sobretudo com seu concorrente, um homem branco, fazendo de tudo para desestabilizá-la. Para piorar, ela descobre que, em poucos meses, ficará infértil. Embora esteja namorando Marc há mais de um ano, nunca falaram sobre filhos, e se ela quiser recorrer ao congelamento de óvulos, precisará abrir mão de suas suadas economias, destinadas à entrada na casa que ela sonha comprar.

A narrativa em primeira pessoa entrega uma leitura bastante leve e fluida. O enredo foca no cotidiano de Tabitha, demonstrando questões ligadas à sua carreira e ligadas às relações que ela cultiva: o namoro com Marc, a conexão com familiar, principalmente com a avó — que é branca —, e a dinâmica com suas duas melhores amigas, também mulheres negras. Tanto Tabitha quanto elas vivem os próprios dilemas, e é interessante como a autora demonstra situações tão diferentes, mas igualmente difíceis para as personagens. Em especial, gostei muito da relação entre a protagonista e a avó. Além de entregar momentos emocionantes, provoca diálogos interessantes sobretudo por conta de dois paralelos: 1) o entre a vivência de uma mulher negra e de uma mulher branca; 2) o histórico, demonstrando a evolução dos direitos civis nos EUA.

As questões raciais permeiam toda a construção da história e aparecem desde o primeiro capítulo, quando o contexto da violência policial estadunidense contra a população negra, por exemplo, é demonstrado. A solidão da mulher negra é outro tópico subentendida por meio das trajetórias de Tabitha e das amigas, mas não chega a ser diretamente mencionado na história ou mesmo aprofundado. Assim, o que mais gostei foi como a autora ilustrou o desgaste psicológico e emocional decorrentes do racismo a partir da construção da personalidade de Tabitha, fazendo com que ela questione a todo momento inclusive as próprias conquistas, alerta sobre estar ou não sendo alvo de algum tipo de discriminação.

Embora seja um bom livro, deixa a desejar em alguns aspectos, sobretudo em relação ao final. Os conflitos são desenvolvidos até o limite, quando eclodem deixando Tabitha ainda mais desestabilizada. Nesse momento, o esperado seria que as resoluções fossem trabalhadas a partir daí, mas os desfechos são apenas informados em um rápido epílogo. O fim aberto, e que, portanto, não responde a algumas perguntas importantes, não é um problema, até porque o livro tem uma continuação que oferece essas respostas, mas era necessário que a resolução dos dilemas construídos em Mulheres negras não deveriam morrer exaustas fosse aprofundada e demonstradas nesse volume.

De qualquer maneira, achei a leitura bastante proveitosa e relevante, ainda mais por ser difícil encontrar romances contemporâneos nesse estilo escritos e protagonizados por mulheres negras. Para quem procura uma leitura fluida, atual e com discussões pertinentes que não pesam a leitura, Mulheres negras não deveriam morrer exaustas é uma boa recomendação.

 

Capas originais dos livros da trilogia Mulheres negras deveriam





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