Inspirado num caso real, Vulgo Grace conta a trajetória de Grace Marks, uma criada condenada à prisão perpétua por ter ajudado a assassinar o patrão e a governanta da casa onde trabalhava, na Toronto do século XIX. Com uma narrativa repleta de sutilezas que revelam um pouco da personalidade e do passado da personagem, estimulando o leitor a formar sua própria opinião sobre ela, Atwood guarda as respostas definitivas para o fim. Afinal, o que teria levado Grace Marks a cometer o crime? Ou será que ela estaria sendo vitima de uma injustiça?
Ficha Técnica
Título: Vulgo Grace
Título original: Alias Grace
Autor: Margaret Atwood
Tradução: Geni Hirata
Editora: Rocco
Número de Páginas: 496
Ano de Publicação: 2017
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RESENHA: Vulgo Grace
Vulgo Grace é o romance histórico e psicológico de Margaret Atwood. Baseado em um caso real ocorrido no Canadá na década de 1840, foi originalmente publicado na década de 1990. No Brasil, ganhou nova edição pela Rocco em 2017 com tradução de Geni Hirata.
Grace Marks é uma criada condenada à prisão perpétua por supostamente ter ajudado a assassinar o patrão, Thomas Kinnear, e a governanta da casa onde trabalhava, Nancy Montgomery. Já presa, seu bom comportamento impressiona diferentes profissionais, que se dedicam a investigar o caso a fim de elucidar se ela foi ou não acusada injustamente.
A narrativa de Vulgo Grace se dá em diferentes vozes e perspectivas, além de intercalar diferentes momentos no tempo. A de Grace, em primeira pessoa, é a principal e não-confiável. Desde o início há declarações da protagonista sobre manipular seu discurso de acordo com o que é esperado dela, além de sua memória estar prejudicada. Embora a narrativa seja em primeira pessoa, não temos total acesso à Grace, existindo sempre uma barreira entre ela e o leitor — um dos trunfos de Margaret Atwood para manter o caso sem solução e estimular quem lê a tecer sua própria opinião.
Aliás, o que Vulgo Grace mais proporciona são questionamentos. A manipulação de Grace é deliberada, para encobrir sua culpa, ou é uma condição a que ela se habituou, seja por já ter sido condenada, seja por ser mulher — e ter sido criada para ser o que dela se espera? São diversas as camadas do romance, que versa sobre diferentes temas, como a dificuldade de diagnóstico de transtornos mentais, questões de gêneros e de classes sociais.
Além da narrativa de Grace, há a do Dr. Simon Jordan, médico estudioso de doenças mentais responsável por acompanhá-la. Em terceira pessoa, no presente, assume o tom semelhante a de um relatório, próprio de quem observa e analisa; porém, apesar da aparente objetividade, a voz do personagem expressa muitos de seus pontos de vista e de preconceitos, que ajudam a definir sua personalidade e as relações de poder das quais faz parte. Também, o romance conta com diferentes trechos de poemas como epígrafes dos capítulos e trechos dos documentos originais sobre o caso, com diversos depoimentos.
Em linhas gerais, Vulgo Grace foi uma leitura ainda mais interessante do que O Conto da Aia pela habilidade narrativa de Margaret Atwood em manter as pontas abertas do caso original, sendo fiel a ele, mas sem abrir mão do toque ficcional e artístico. A leitura prende, envolve e suscita mais perguntas do que o romance pode responder, causando o incômodo exato que deveria causar. Fiquei ainda mais curiosa pela minissérie adaptada do livro e lançada pela Netflix.