[Vídeo Resenha] Os Quatro Ventos — Kristin Hannah - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
06

jun
2022

[Vídeo Resenha] Os Quatro Ventos — Kristin Hannah

Texas, 1921. Passada a Grande Guerra, uma nova era de abundância parece surgir no horizonte. Mas, para Elsa Wolcott, considerada velha demais para se casar numa época em que o matrimônio é a única opção das mulheres, o futuro parece sombrio. Até a noite em que conhece Rafe Martinelli e decide mudar o rumo de sua vida. Com sua reputação em ruínas, ela acaba tendo que se unir a um homem que mal conhece.
Treze anos depois, o mundo é bem diferente: milhões estão desempregados devido à Grande Depressão e à seca que devasta as Grandes Planícies, dizimando plantações e provocando tempestades de areia. Tudo está morrendo na fazenda Martinelli, inclusive o casamento de Elsa e Rafe, e cada novo dia é uma batalha pela sobrevivência.
Nesse momento incerto e perigoso, ela deve fazer uma escolha angustiante: lutar pela terra que tanto ama ou deixar tudo para trás e partir para o Oeste, rumo ao desconhecido, em busca de uma vida melhor para sua família.
Com o estilo apaixonante de Kristin Hannah, Os quatro ventos é uma história sobre resiliência e a força do espírito humano para sobreviver à adversidade, vista pelos olhos de uma mulher cujo sacrifício e cuja coragem representam toda uma geração.

 

Ficha Técnica: Os Quatro Ventos

Título: Os Quatro Ventos
Título original: The Four Winds
Autor: Kristin Hannah
Tradução: Claudio Carina
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 384
Ano de Publicação: 2022
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Vídeo Resenha


 

Resenha escrita

Os Quatro Ventos, mais recente lançamento de Kristin Hannah, foi o livro de ficção mais vendido nos EUA em 2021. Vencedor do Goodreads Choice Awards como melhor romance do ano, foi publicado no Brasil em 2022 pela Arqueiro, com tradução de Claudio Carina.

Após uma doença na adolescência, Elsa cresceu ouvindo dos pais que era frágil e desinteressante. Carente de atenção e afeto, engravida aos 25 anos, já considerada “solteirona”. Para não envergonhar a família, seus pais a expulsam de casa, forçando-a a viver com a família do homem que a engravidou. Treze anos depois, casada e mãe de dois filhos, as dificuldades são outras: a seca nas Grandes Planícies e as consequências da Grande Depressão ameaçam, sobretudo, a sobrevivência das famílias de agricultores que dependem da terra para se sustentar.

Em terceira pessoa, a narrativa se dá principalmente pela perspectiva de Elsa, mas assume a visão de Loreda, sua filha, em alguns capítulos. Como em praticamente todos os romances de Kristin Hannah, Os Quatro Ventos aborda a maternidade como um de seus temas centrais, e desenvolve com veracidade e sensibilidade a complexa relação entre as personagens. Por isso, a alternância narrativa é importante não apenas para demonstrar os pontos de vista de cada uma, mas para haver certa divisão de protagonismo que se torna muito importante no final da trama, em nível de significado e construção de personagens: uma dá sentido à existência da outra. Acima de tudo, há realidade nos sentimentos expostos, o que faz desse mais um romance doloroso da autora, sendo um dos que mais sofri ao longo da leitura.

“Vejo o mundo, ao menos em parte, pelos olhos dela. A história dela — que é a história de uma época e de uma terra, e da indomável vontade de um povo — é a minha história: duas vidas entrelaçadas.”

página 379

Porém, para além das questões individuais, Kristin Hannah desenvolve com habilidade o contexto de Os Quatro Ventos, que impacta diretamente na trajetória das personagens. Em sua nota, a autora informa que se baseou em fatos históricos diversos do período abordado, mas sem necessariamente seguir a cronologia real, para desenvolver o caráter ficcional da trama. Apesar disso, Elsa é um símbolo, uma representação de tantas figuras reais que viveram à época — e que continuam existindo, de certa maneira. Com esmero, Kristin Hannah demonstra o período de miséria enfrentado em consequência dos problemas econômicos e ambientais do país, elevando o sofrimento da protagonista a outro patamar. E foi justamente quando a autora inseriu o panorama sócio-político que Os Quatro Ventos de fato me ganhou: não fosse o caso, o livro traria apenas uma perspectiva individual de resiliência e resistência que, embora válida, não reflete a realidade como um todo — e correria o risco de romantizar essa trajetória. 

Boa parte das dificuldades sofridas por Elsa e outros como ela se dá em decorrência da dinâmica de classes dentro do sistema capitalista e pela falta de políticas de subsistência à população vulnerável. Quando a autora chama a atenção para a exploração da classe trabalhadora, demonstra que sua protagonista não é um caso isolado, mas uma representação de um problema que persiste até hoje sobretudo em países com maior desigualdade social, e que muito do que Elsa passa nem ao menos deveria existir. Ao demonstrar os sofrimentos e injustiças a que ela é submetida, Kristin Hannah cria um vínculo de empatia com o leitor, facilitando a compreensão de uma realidade tão facilmente ignorada. Gostei, também, de como a autora aborda com pés no chão as dificuldades de combate ao sistema: é muito difícil organizar uma população oprimida quando ela é tão miserável e dependente de quem a oprime.

Até boa parte da leitura, duvidei que Os Quatro Ventos de fato me conquistaria: o sofrimento das personagens, e que torna a leitura muito dolorosa, parecia arbitrário e eu odiaria encontrar na leitura apenas uma mensagem de superação. Contudo, quando Kristin Hannah chama a atenção para a discussão sócio-política, tudo ganhou um novo sentido. E, não bastassem as emoções e temas complexos desenvolvidos com esmero, os cenários e situações são descritos com tanta precisão que é quase impossível não sentir as variações de temperatura ou a sensação de areia impregnada na pele. Ao final, unindo as esferas individual e coletiva da obra, o romance se transformou em um dos meus favoritos da autora e um dos livros mais potentes e impactantes que li esse ano. 





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