[Resenha] A Fazenda dos Animais — George Orwell - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
13

jan
2021

[Resenha] A Fazenda dos Animais — George Orwell

A história é conhecida: cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Fazenda do Solar se rebelam contra seu dono e tomam posse do lugar, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário. Mas não demora para que alguns bichos voltem a usufruir de privilégios, fazendo com que o velho regime de opressão regresse com ainda mais força.
Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945, A Fazenda dos Animais é uma alegoria satírica sobre os mecanismos do poder e tudo aquilo que leva à corrosão de grandes ideias e projetos de revolução. Pela primeira vez no Brasil, o clássico de George Orwell é publicado com seu título original. Com nova tradução, de Paulo Henriques Britto, e projeto gráfico especialíssimo – com capa em tecido, corte impresso e obras da artista brasileira Vânia Mignone -, este A Fazenda dos Animais conta também com uma série de ensaios que cobrem a recepção crítica do livro desde o seu lançamento até os dias de hoje.

 

Ficha Técnica

Título: A Fazenda dos Animais
Título original: Animal Farm
Autor: George Orwell
Tradução: Paulo Henriques Britto
Editora:Companhia das Letras
Número de Páginas: 276
Ano de Publicação: 2020
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Resenha: A Fazenda dos Animais, de George Orwell

A Fazenda dos Animais foi o livro que consagrou George Orwell. Publicado originalmente em 1945, o romance satírico se valeu da alegoria para criticar o totalitarismo do governo de Stálin, pretendendo ser uma história simples e de fácil compreensão para qualquer público. Apesar disso, a obra deixa margem para inúmeros questionamentos e controvérsias, tendo sido erroneamente utilizada pela crítica conservadora, desde sua publicação, como propaganda de suas convicções, desconsiderando a filiação socialista do autor. No Brasil, o livro até então havia sido publicado como A Revolução dos Bichos, ganhando nova tradução pela Companhia das Letras ao final de 2020.

Os animais da Fazenda Solar se organizam para uma rebelião ao ouvirem os ensinamentos de Major, um velho porco que, após um sonho, decide compartilhar suas reflexões com os demais animais, antes de morrer. Major percebeu o quanto os animais são explorados pelos humanos, produzindo tudo o que é consumido pelos Homens, mas sem ter acesso a essa produção. Assim, quando os humanos são expulsos, a fazenda passa a ser a primeira unicamente comandada por animais, que se consideram iguais e compartilham do que produzem. Contudo, quando os porcos, que haviam liderado a rebelião, passam a reorganizar a fazenda a fim de aumentar sua produtividade, novas hierarquias começam a surgir e a dinâmica entre os animais se alterna, distanciando-se cada vez mais do ideal inicialmente proposto.

Assim como pretende ser, a leitura de A Fazenda dos Animais é ágil. A linguagem é direta e clara, bem como os personagens representam tipos, sem haver um aprofundamento em suas personalidades. Assim, a Revolução Russa é brevemente recontada, simplificando seus acontecimentos para torná-los compreensíveis, transpondo Karl Marx na figura do Major, e Stálin e Trotsky nos porcos Napoleão e Bola de Neve, respectivamente. Dessa forma, os artifícios típicos de um governo totalitário em ascensão ficam visíveis e funcionam como um alerta, havendo destaque para a manipulação da verdade. Os ideais propostos aos poucos são distorcidos, e os animais considerados menos inteligentes acabam por acreditar no que é dito a eles por confiarem em suas figuras de liderança. Contudo, se o propósito do romance é demonstrar a instauração de um governo totalitário, o que soa desesperançoso pelo óbvio fracasso de um ideal perdido, a última frase da narrativa reacende a chama da rebelião, na qual Orwell ainda crê: é a consciência da própria condição que leva à mudança.

Acredito que, mais até do que a história em si, o que muito me interessou em A Fazenda dos Animais foi a leitura crítica que acompanha essa edição. A inclusão do prefácio do autor à edição ucraniana de 1947 traz certa luz ao texto e rebate muito do que foi propagado pela crítica conservadora, uma vez que o autor reafirma seu descontentamento com o totalitarismo de Stálin, mas defende sua crença no Socialismo. Segundo ele, o que foi feito na URSS distanciou-se completamente do que poderia ser considerado, de fato, socialista. Além desse prefácio, a nova edição da Companhia das Letras traz posfácio de Marcelo Pen, bem como um compilado de ensaios críticos sobre a obra publicados ao longo dos anos. Cada um desses textos analisa uma diferente perspectiva do romance apontando tanto suas controvérsias quanto seus pontos altos, além do perigo contido em leituras redutoras, que partem da simplificação proporcionada pela alegoria sem se aprofundarem, podendo ocasionar interpretações imprecisas, senão incorretas. Cada ensaio certamente permite a percepção de uma nova camada na obra, demonstrando o quanto ela vai além da “fábula satírica” como muitas vezes é apresentada.

A própria questão da escolha do título em português interessa por si só e é debatida no posfácio. Se o anterior A Revolução dos Bichos apontava para a ação, para o ato da revolta, o novo A Fazenda dos Animais — mais próximo do original — refere-se ao local onde a ação é centrada — o que soa mais próximo do enredo, visto que a rebelião acontece logo nas primeiras páginas e o romance trata, na verdade, do que acontece após a ela. Além disso, foi interessante compreender as condições de recepção da obra quando primeiramente traduzida em 1964, em meio ao contexto do Golpe Militar, cujo interesse era mais por seu potencial como ferramenta psicológica anticomunista do que por relevância literária ou comercial, como aponta Marcelo Pen. No posfácio, também, são demonstradas algumas das diferenças entre a primeira tradução e a atual, de Paulo Henriques Britto.

No geral, adorei A Fazenda dos Animais como romance, cuja leitura foi certamente enriquecida pelo aparato crítico disponível na nova edição da Companhia das Letras. Além disso, o projeto gráfico está belíssimo, que inclui, além da capa dura em tecido, uma seção exclusiva com diversas capas da obra ao redor do mundo desde sua publicação.





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Uma resposta para "[Resenha] A Fazenda dos Animais — George Orwell"

Angela Cunha - 14, janeiro 2021 às (07:05)

Aquele clássico atemporal!
E por tudo que andei lendo no passar do tempo, uma escrita que sim, vale demais para os dias atuais.
Eu ainda não pude ler a obra,mas confesso que quero muito ler e sim, essa nova roupagem está um escândalo de linda!!!
Beijo

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