“Vozes Negras” é um livro que se faz resistência. Um grito de liberdade de mulheres duplamente silenciadas (pelo gênero e pela cor) que reivindicam seu protagonismo e ampliam suas vozes pela escrita. Através de ilustrações da Limão e quatro histórias de ficção, as autoras Amanda Condasi, Flor, Priscila, Isa Souza, Maria Ferreira e Pétala Souza narram a trajetória de personagens em busca de seus sonhos e de se verem representadas.
Ficha Técnica
Título: Vozes Negras
Autor: Maria Ferreira; Flor, Priscila; Isa Souza; Pétala Souza e Amanda Condasi
Editora: Se Liga
Número de Páginas: 161
Ano de Publicação: 2019
Skoob: Adicione
Compre: eBook ♥ Físico
Resenha: Vozes Negras
Vozes Negras é a antologia de contos da editora Se Liga, escrita, ilustrada e revisada por pessoas negras. A obra, inicialmente impressa via financiamento coletivo em 2019, está disponível em eBook na Amazon e em formato físico no site da editora.
Os contos são de autoria de Maria Ferreira, responsável pelo “Coincidências”; Flor, Priscila, que escreveu o “Carimbos e Memórias”; Isa Souza e Pétala Souza, que assinam juntas o “Não existem sinônimos suficientes para o futuro”; e Amanda Condasi, autora do “Na ponta dos sonhos”. Além disso, há o prefácio de Ana Rosa, co-autora de Você Por Aqui?, que reflete sobre a importância da representatividade negra nas histórias, além do pouco espaço que elas recebem no mercado editorial.
Assim como as autoras, os contos de Vozes Negras são diversos em estilos e conteúdos, embora todos reflitam a vivência de pessoas pretas. Em “Coincidências”, Maria Ferreira fala sobre a solidão da mulher negra através de Amara, uma jovem universitária que sai da Bahia para estudar em São Paulo e conhece um rapaz, por quem acaba se apaixonando. Com uma escrita leve e convidativa, a autora traz um cenário bastante atual, repleto de referências de artistas negros. O ponto alto da leitura é a forma de como ela trabalha as emoções e constrói a narrativa avisando o leitor o tempo todo de que a conclusão da história não será romântica. Mesmo que o foco do conto seja a protagonista, é possível também enxergar sobre a vivência do homem negro e seus conflitos.
“Carimbos e Memórias”, por sua vez, traz a trajetória de Glória, que conquistou sua profissão dos sonhos. Flor, Priscila mescla passado e presente, tornando possível enxergar, na mulher do presente, a menina do passado, tão influenciada e motivada pela leitura de Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Com isso, o conto reforça a importância da representatividade, de se reconhecer — ou reconhecer semelhantes — em outras histórias e fazer disso uma motivação.
Já “Não existem sinônimos suficientes para o futuro”, conto mais longo e exigente da antologia, foi o que mais me surpreendeu. Isa Souza e Pétala Souza criaram uma ficção científica distópica futurista, na qual o mundo existe após uma contaminação viral que colocou a população em isolamento social total — o que traz ainda mais pontos de contato com nossa realidade, ainda que tenha sido escrito anteriormente à pandemia do Coronavirus. A sensibilidade da escrita aliada às diversas referências do texto fazem da narrativa complexa e encantadora, que se alterna entre os pontos de vista das duas protagonistas, Enyin e Aleduma.
Por fim, “Na ponta dos sonhos” de Amanda Condasi traz a trajetória emocionante de Dandara, jovem negra, moradora do Complexo do Salgueiro em São Gonçalo e que sonha em ser bailarina desde que encontrou com sua mãe, no lixo, uma sapatilha de ponta. Dandara treinou a vida toda sozinha, com o auxílio de vídeos na Internet, e suas dificuldades ficam evidentes, seja pelo racismo sofrido na escola, seja pelo descaso das operações policiais em sua comunidade, que coloca a vida de inocentes em risco — como aconteceu há poucas semanas com João Pedro Mattos, baleado dentro de casa no mesmo Complexo onde a personagem vive. As conquistas da protagonista são um grito de esperança aos jovens que com ela se identificam, fechando a antologia com esse poderoso sentimento.
Em linhas gerais, Vozes Negras proporciona uma leitura de extrema importância por amplificar vozes que são historicamente silenciadas. São histórias rápidas e prazerosas de se ler, com aspectos próprios que fazem delas singulares. Mesmo que proporcionem leituras ágeis e de narrativas, em sua maioria, leves, são histórias de peso, com relevância que merece e precisa ser reconhecida.
Eu baixei o ebook… a edição física pelo que vi foi muito bem elaborado.
No atual momento ler sobre vozes e identidade agrega muito significado. Quero muito fazer essa leitura e fico grata aqui por todas as vezes que vc avisa sobre os e-books