As Esferas — Nelson Issa
Título: As Esferas
Autor: Nelson Issa
Editora: Autopublicação
Número de Páginas: 260
Ano de Publicação: 2019
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Eu desejo. E acho que você também deseja.
Esta obra discute limites para o desejo, usando uma linguagem de ficção científica, que parece mais fácil para apresentar um tema tão espinhoso.
Segue um trecho do livro:(…)
Entrevistador: Você pode falar outro dia, se quiser.
Deisi: Mas aí eu vou enrolar. Melhor eu falar agora (pausa). A Esfera mostrou coisas que eu penso e que eu sinto, mas que eu tenho vergonha de falar. Minhas raivas enormes, o desejo de namorar, a inveja que eu tenho das meninas bonitas, as masturbações que me acalmam… Tanta coisa!
Entrevistador: Olha só. Amanhã a gente pode continuar…
Deisi: Às vezes, eu quero matar a minha mãe, que eu sempre achei culpada de eu ter nascido cega. O ódio que eu tenho do meu pai, que foi tão covarde, fugiu da gente…
Entrevistador: Entendo. Que tal continuarmos amanhã?
Deisi: A raiva nos dias que eu durmo com fome. O ódio quando me chamam de ceguinha magrela feia preta macaca. A humilhação na escola, na rua, em qualquer lugar. Eu vi tudo isso. Por que ela me mostrou tudo isso?
Entrevistador: Deisi, hoje vamos parar. Pode ir dormir. Se quiser falar com a psicóloga, eu posso chamar. Quer um calmante?
(…)Espero que você tenha uma ótima leitura e que faça novas perguntas.
Enfim, peço que você considere que minha narrativa está distorcida pelo meu modo de pensar e de sentir.
Pois eu ainda não sei usar uma Esfera.
RESENHA EM VÍDEO
RESENHA ESCRITA
As Esferas é o romance de estreia de Nelson Issa autopublicado na plataforma KDP da Amazon. Mesclando a ficção científica com um panorama político e psicológico, a leitura é tanto ágil quanto instigante.
A trama se desenvolve em duas partes, que podem ser lidas de maneira separada e sem ordem específica. Seguindo a disposição feita pelo autor, na primeira parte a história acontece em um futuro próximo ao ano de 2020 no sítio arqueológico da Serra da Capivara, no Piauí, durante uma escavação feita por dois arqueólogos, que acabam por descobrir uma estranha esfera soterrada. Na segunda parte, a trama retorna a um passado longínquo e ficcional, muito mais tecnológico do que nossos dias atuais, no qual outra aparição das esferas remontaria a sua origem.
Em ambas narrativas, a escrita de Nelson Issa é ágil e imprime velocidade à leitura. Se, na primeira parte, somos motivados pelos momentos de ação e adrenalina que permeiam o instante da escavação, na segunda é a quebra do clímax criado ao fim da primeira parte que nos leva a prosseguir, ainda mais curiosos pelo mistério das Esferas. No resumo, a primeira parte da narrativa traz todo um cenário político mundial que nasce em consequência da descoberta das Esferas, seja por interesses diplomáticos, seja pelos efeitos sísmicos, de maneira que o próprio desconhecimento dos envolvidos a respeito das Esferas impossibilite o leitor de saber mais sobre elas. Assim, quando somos levados à segunda parte, estamos ávidos por essas informações — que tanto nos satisfazem quanto, em partes, nos frustram. Tal frustração, contudo, não se deve a alguma falha do livro, mas ao seu próprio caráter: há um mistério próprio que rodeia as Esferas, de maneira que não seja possível desvendá-las por completo.
A obra de Nelson Issa é, também, bastante informativa. O romance é repleto de notas de rodapé, que trazem as mais diversas referências: de literárias a políticas, das científicas às históricas. Embora, de modo geral, eu tenha uma preferência por não me ater muito a notas do tipo por sentir que elas quebram o fluxo narrativo, toda a informação contida nelas garante um acréscimo de conteúdo à leitura bastante interessante.
Os finais de cada uma das partes me pareceram abruptos, além de eu ter me sentido um pouco confusa em relação às linhas temporais, sobretudo pelo passado remoto da segunda parte me soar tanto como um futuro da primeira. Contudo, pensando em toda a simbologia das Esferas e na própria despedida do autor, tive a impressão desses aspectos serem propositais: há na leitura uma ideia de erros que se repetem e de acontecimentos que são cíclicos, de maneira que não caberia pensar em um antes e um depois ou então em um final, uma vez que esse seria sempre sucedido de um recomeço.
Em linhas gerais, As Esferas foi uma leitura instigante e que, apesar de seu conteúdo informativo e reflexivo, tanto não se fez pesada em momento algum, quanto manteve o interesse pelo virar de páginas. Ao abordar a questão do desejo humano e suas mais profundas consequências, as Esferas de Nelson Issa nos fazem pensar nas nossas próprias e nos perigos que nossas mentes podem suscitar.
Fiquei sumida esses dias, mas voltei hahahaha ?
E já chego com essa novidade, eu li recentemente matéria escura que também é ficção científica apesar desse “tempo” ter me deixado confusa no meio eu me situei na história rs! E acho que por também não ter costume de ler no começo é estranho , mas eu amei e já me interessei por esse que além disso tem reflexão , minha antena já ligou quando você falou de psicologia … enfim acho que já me perdi até no raciocínio ?? mas amei a dica, sair da zona de conforto trás grandes surpresas ?