[Resenha] Amada — Toni Morrison - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
10

abr
2019

[Resenha] Amada — Toni Morrison

Título: Amada
Título original: Beloved
Autor: Toni Morrison
Tradutor: José Rubens Siqueira
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 368
Ano de Publicação: 2007
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Livro mais conhecido da escritora americana Toni Morrison, prêmio Nobel de Literatura de 1993, o romance, republicado agora no Brasil, ganhou o Pulitzer de 1988 e em 2006 foi eleito pelo New York Times a obra de ficção mais importante dos últimos 25 anos nos Estados Unidos. Em 1998 recebeu uma adaptação cinematográfica, com Oprah Winfrey no papel principal. A história se passa nos anos posteriores ao fim da Guerra Civil, quando a escravidão havia sido abolida nos Estados Unidos. Sethe é uma ex-escrava que, após fugir com os filhos da fazenda em que era mantida cativa, foi refugiar-se na casa da sogra em Cincinnati. No caminho, ela dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história. “Amada” tem uma estrutura sinuosa, não-linear: viaja do presente ao passado, alterna pontos de vista, sonda cada uma das facetas que compõem esta história sombria e complexa. Considerado um clássico contemporâneo, faz um retrato a um tempo lírico e cruel da condição do negro no fim do século xix nos Estados Unidos.

Amada é o romance mais conhecido de Toni Morrison, primeira escritora negra a receber o Nobel de Literatura (1993). Publicada no Brasil pela Companhia das Letras, a obra venceu o Prêmio Pulitzer de Melhor Ficção em 1987 e é considerado, junto de Jazz e Paraíso, como participante de uma trilogia da autora que narra a história do racismo nos EUA, em diferentes momentos da História.

Sethe é uma ex-escrava que atualmente vive com a filha, Denver, em uma casa assombrada pelo espírito da outra filha de Sethe, falecida ainda bebê. Após vários anos, Sethe reencontra Paul D., com quem havia trabalhado na fazenda onde eram mantidos cativos. A história se passa nos anos posteriores ao fim da Guerra Civil, retratando as dificuldades vividas pelos negros não apenas durante a escravidão, mas também após sua abolição.

A narrativa de Amada é não-linear e fragmentada mesmo quando feito o exercício de se alinhar em ordem cronológica os fatos retratados. Dessa maneira, ainda que seja possível compreender a trama em si, não é possível saber em detalhes todos os acontecimentos. Isso acontece porque a narrativa é completamente atrelada à memória das personagens, cujos pontos de vista são apresentados de maneira alternada: a fragmentação e a dificuldade narrativa remetem tanto à impossibilidade de se expressar o horror vivido quanto à dificuldade de se lembrar de acontecimentos traumáticos. Mais do que tudo, a própria Sethe como Paul D. afirmam por diversas vezes no romance seu desejo de não se lembrar do passado, enquanto Denver, nascida após a escravidão, procura se agarrar à história do início de sua vida.

A consequência disso, para o leitor, é uma leitura que desafia e que convoca sua participação ativa. Amada não promove uma leitura passiva, na qual apenas recebe-se o que está sendo lido; ele exige que o leitor reflita, junte as peças que pouco a pouco são dadas e se esforce para compreender o que está sendo dito. Mas não se assuste, porque Toni Morrison faz tudo isso sem deixar de entregar uma escrita completamente poética e arrebatadora. A sensibilidade de suas palavras intensifica com ainda mais veemência passagens extremamente duras, além de promover a beleza de um jeito que apenas a arte é capaz de fazer.

Amada me proporcionou uma experiência de leitura intensa e provocante, na qual eu me via encantada mesmo nas passagens em que sentia mais dificuldade de prosseguir por entre as páginas. Ao final, senti aquele misto de impacto e vazio deixado pelas grandes obras, que alteram parte de quem somos e de como enxergamos o mundo.

Se ao final da década de 1980, quando a problemática das questões raciais nos EUA parecia começar a caminhar para vias de enfrentamento, Amada se fazia necessário para que a história da escravidão e suas marcas não fossem esquecidas, agora, quase 30 anos depois, o romance é ainda mais urgente. O esquecimento do horror só pode se dar quando questão de sobrevivência, em nível individual; em termos de História e coletividade, deve ser um lembrete constante e vergonhoso de um passado ainda não reparado.





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6 Respostas para "[Resenha] Amada — Toni Morrison"

Scheila - 10, abril 2019 às (13:54)

Oi, Aione!

Que história ein? Amada parece trazer algo muito forte, uma experiência vivida por uma escrava, sofrimentos, entre outros. Isso me fascina.

Que bom que a Toni conseguiu trazer nessas páginas momentos de reflexão, de que o leitor tenha que parar e pensar.. Não esquecendo de trazer essa escrita ‘poética e arrebatadora’.

Ótimo livro e resenha!,
Beijinhos.

Tereza Cristina Machado - 10, abril 2019 às (17:46)

Quando eu vi o nome da autora eu comecei a ler a resenha pensando já conheço essa autora (mais sou péssima de casar nome de livro e autor 🤦🏻‍♀️😉) mais lendo a resenha sobre escravidão, fim da guerra e sobre a história questão racial no EUA, lembrei, não li amada mas já li o olho mais azul que trata sobre a questão racial também … como vc disse a autora sabe muito bem trabalhar a escrita e esse livro até agora to meio assim com aquele final … vou anotar essa indicação pq amei a autora. Prêmio Nobel com louvor.

Angela Cunha - 11, abril 2019 às (08:31)

Um tema tão necessário ainda hoje. Já havia lido sobre este livro, mas nunca pude o ter em mãos.
Agora lendo a resenha, a gente entende os motivos da autora ter ganho tantos prêmios e creio que não somente isso, mas sim, ter nos mostrado uma história que pode muito bem ter sido real, tanto quanto tantas outras acontecidas nesta época turva da nossa história.
A parte triste é saber que há ainda muitos casos desta segregação e parece que vivemos ainda, num pós período escravidão e lamentavelmente, numa escravidão ainda ;/
Com certeza, quero muito ter a oportunidade de mergulhar nesta obra que não só apresenta um enredo, mas que coloca o leitor para refletir.
Beijo

Anna Mendes - 11, abril 2019 às (14:00)

Oi Aione!
Amei a resenha!! <3
Nossa, esse deve ser um livro muito profundo e intenso! Eu não o conhecia. Também não conhecia a autora e nem a adaptação que foi feita para o cinema.
Porém, já fiquei muito curiosa para fazer a leitura! Gosto muito de ler livros com essa temática, pois, como você comentou, a escravidão faz parte de um passado que ainda não foi reparado, e acho muito importante refletir sobre esse tema e as consequências que ele acarretou para o presente no qual estamos. Não só nos EUA, mas no Brasil também.
Bjos!

RUDYNALVA - 12, abril 2019 às (22:27)

Aione!
O que mais me chamou atenção e de certa forma o interesse em poder conhecer o enredo do livro, é justamente essa forma ‘desordenada’ da narrativa, porque gosto de desafios e imagino que esse livro seja um.
Sem contar que falar sobre escravidão, mesmo que seja doloroso, sempre nos traz algo de fascinante e enriquecedor.
cheirinhos
Rudy

Ana I. J. Mercury - 30, abril 2019 às (20:32)

Oi, Aione!
Não conhecia esse livro, mas pela sua resenha deu pra ver o quão impactante e necessário ele é!
É importantíssimo lermos mais sobre escravidão, por mais triste que seja.
Vou querer lê-lo em breve!
bjoss

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