[Livros Na Telona] A Criança no Tempo – Ian McEwan - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
09

jan
2019

[Livros Na Telona] A Criança no Tempo – Ian McEwan


Sobre o Livro

Título: A Criança no Tempo
Título original: The Child In Time
Autor: Ian McEwan
Tradução: Jorio Dauster
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 288
Ano de Publicação: 2018
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A Criança no Tempo foi originalmente publicado em 1987 e recebeu sua primeira tradução para o português brasileiro em 1997 pela editora Rocco. Em 2018, ano em que Ian McEwan completou 70 anos, a editora Companhia das Letras publicou uma nova edição da obra.

Em A Criança no Tempo conhecemos a história de Stephen Lewis, escritor de livros infantis que tem sua vida modificada após o súbito desaparecimento de sua filha de três anos em uma ida rotineira ao supermercado. Entre os conflitos que a perda gera no casamento, o livro discorre sobre luto, culpa e, especialmente, sobre a passagem do tempo.

O crescimento de Kate tinha se transformado na própria essência do tempo. Seu crescimento espectral, o produto de uma tristeza obsessiva, era não apenas inevitável — nada era capaz de fazer parar o relógio fibroso — mas necessário. Sem a fantasia de sua continuada existência, ele estava perdido, o tempo pararia. Era o pai de uma criança invisível.

página 9

A escrita de Ian McEwan pode ser considerada uma mescla de sensibilidade e esmero. Com uma narrativa bem-construída, o enredo se desenvolve quase que sem diálogos e de maneira não-linear, combinando acontecimentos presentes com lembranças e digressões, o que faz da leitura mais lenta, já que exige certa atenção do leitor.

Tal narrativa, porém, exerce função fundamental na exploração de uma das temáticas da obra: a passagem do tempo e sua relatividade. Ao contrapor passado e presente, é possível não apenas apurar todas as modificações ocorridas entre um e outro, mas também como a sensação sobre o tempo é subjetiva. Enquanto alguns eventos quase não são captados por Stephen — como sua participação nas reuniões do subcomitê governamental de leitura e escrita — outros têm duração extendida — como sua constante rememoração sobre Kate e seu esmiuçamento dos eventos que levaram a seu desaparecimento. A não-linearidade, também, permite uma maior construção das personagens, uma vez que eventos passados são apresentados em ordem de demonstrar tudo aquilo que as constitui, sejam acontecimentos em si, sejam as formas de como tais acontecimentos foram experienciados por quem os viveu.

O dia em que ele agora se encontrava não era o dia em que acordara. Permanecia lúcido, decidido a avançar. Estava em outro tempo, porém não se sentia confuso. Era um sonhador que sabe que está sonhando e, embora receoso, permite que o sonho se desdobre por pura curiosidade.

página 75

O que, sem sombra de dúvidas, se destacou na leitura para mim foi a forma sensível de como impressões e sentimentos foram retratados. A ausência de Kate é uma presença constante na vida tanto de Stephen quanto de Julie, sua esposa, e a maneira de como ambos lidam com a dor é tanto comovente por si só quanto angustiante pelo que causa na relação entre eles. Ainda, ao longo da leitura nos é permitido refletir sobre tudo o que perdemos ou deixamos para trás, bem como naquilo em que nos transformamos, conforme o tempo passa. O tempo é agente de mudanças, assim como expõe muitas vezes fragilidades internas e nas relações humanas.

Embora A Criança no Tempo proporcione em muitos momentos uma leitura melancólica, não é esse o tom do final da leitura. E, ainda que o livro não tenha entrado para meus favoritos do autor, mais uma vez demonstrou o talento narrativo de Ian McEwan e seu olhar sensível ao retratar as dificuldades e anseios existentes em cada um de nós.

 

Sobre o Filme

The Child in Time foi produzido pela BBC, emissora de televisão do Reino Unido, em 2017. Com Benedict Cumberbatch no papel de Stephen, Kelly Macdonald no de Julie e direção de Julian Farino, a adaptação da obra homônima de Ian McEwan se revela bastante fiel à original, especialmente no que diz respeito às sensações que o livro desperta.

Foto: Pinewood Television, SunnyMarch TV and MASTERPIECE for BBC One and MASTERPIECE

Tanto a cena inicial quanto a final são súbitas, relacionadas à própria temática da história: boa parte dos eventos que alteram irrevogavelmente o curso de nossas vidas acontecem de forma inesperada, quase que de uma hora para outra. Também, embora haja uma maior linearidade na ordem dos eventos apresentados no filme, há também a justaposição de cenas passadas às presentes, de forma a representar o que é feito no livro em relação à sensação da passagem do tempo. Ainda, a presentificação da ausência de Kate é sentida pela inserção da garotinha em momentos diversos, de forma que muitos elementos essenciais na leitura se fazem presente no filme por meio de tais recursos.

Foto: Pinewood Television, SunnyMarch TV and MASTERPIECE for BBC One and MASTERPIECE

A adaptação, embora bastante fiel, acaba sendo mais resumida em certos aspectos em relação ao livro. Como a narrativa é composta por muitas digressões e acabamos sabendo mais, inclusive, da história de personagens secundários, o livro sem dúvida alguma é mais lento e também mais completo. No filme, a opção foi a de manter os acontecimentos principais e apenas mencionar — ou sugerir — aqueles secundários; caso contrário, o filme não só correria o risco de ficar demasiadamente longo como também poderia perder o foco daquilo que foi escolhido ser retratado. Dessa maneira, há momentos que são melhor compreendidos caso tenha sido feita a leitura prévia da obra, uma vez que ela oferece explicações mais bem detalhadas daquilo retratado mais superficialmente no filme.

Foto: Pinewood Television, SunnyMarch TV and MASTERPIECE for BBC One and MASTERPIECE

De modo geral, The Child in Time é um filme bastante sensível e que capta a essência da obra de Ian McEwan. Nele, as reflexões sobre a passagem do tempo e de como ele nos afeta, seja pelo que deixamos para trás, seja pelo que passamos a adquirir, é talvez ainda mais evidente.

 

Assista ao Trailer!





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6 Respostas para "[Livros Na Telona] A Criança no Tempo – Ian McEwan"

Anna Mendes - 09, janeiro 2019 às (17:46)

Oi Aione!
Amei a resenha!! <3
Ainda não li nada do autor, mas já coloquei como meta de leitura para esse ano ler Reparação!
Gostei bastante da premissa de A Criança No Tempo! Parece ser uma leitura muito sensível e tocante, capaz de proporcionar muitas reflexões.
O filme parece ser muito bonito e emocionante. O Benedict Cumberbatch é um ótimo ator e já fiquei curiosa tanto para ler o livro quanto para assistir ao filme!
Bjos!

RUDYNALVA - 09, janeiro 2019 às (22:53)

Aione!
Gosto de livros assim, carregados de tensão e dramático, embora aqui, pareça doloroso também, já que acompanhar um sequestro de menor incapaz, é algo que sempre mexe com nossas emoções.
Se o filme é fiel ao livro, deve ser tão bom quanto. É normal que seja uma versão mais resumida do livro, afinal, é uma adaptação.
cheirnhos
Rudy

Angela Cunha - 10, janeiro 2019 às (05:45)

Doida para ler este livro desde que o vi pela primeira vez! Agora lendo também sobre a adaptação e ainda mais com Benedict(amo o trabalho dele) essa vontade de conhecer o enredo aumentou ainda mais!!!
Acredito que dramas assim, de perdas, de recomeços, de busca da verdade sempre rendam enredos fascinantes e não é a toa que o livro causou quando foi lançado né?
Com certeza, verei e lerei!!!
Beijo

Dandara Machado - 10, janeiro 2019 às (13:00)

Obrigada pela dica, fiquei curiosa e vou assistir o filme.
Abraços,
Dandara

Ycaro Santana - 11, janeiro 2019 às (17:12)

Nossa! Fiquei derrotado quando soube do sumiço da criança, ainda mais imaginando o desespero dos pais e, pra completar, quando vi a imagem toda sorridente da atriz que a interpreta, tudo acabou de desmoronar. A história não parece ser das mais envolventes, me pareceu ter uma narrativa lenta, mas gostei da situação passado-presente e de retratar bem a passagem de tempo e a falta da criança.

Lara Caroline - 14, janeiro 2019 às (09:21)

Olá Aione.
Que premissa interessante, e emocionante, e envolvente tudo ao mesmo tempo hehehe
Eu confesso que fiquei bem curiosa para conhecer o livro, e assistir ao filme, e fico feliz que ele tenha sido fiel a obra do autor.
Beijos

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