2017 foi, até o momento, o melhor ano da minha vida. Eu poderia acreditar que essa sensação é apenas uma consequência do contraste com o ano anterior, já que 2016 foi, disparado, o pior que até então vivi. Porém, sei que não é isso. Este ano, mudei minha maneira de me relacionar com o mundo e, principalmente, de me relacionar comigo mesma, e essa mudança acarretou diversos benefícios na minha vida. Esses aprendizados — talvez só possíveis por todas as dificuldades que vivenciei anteriormente — agora carrego comigo e, por eles, pude desfrutar de um ano melhor.
Assim, não foram os grandes acontecimentos que fizeram do meu 2017 um bom ano, mas a maneira de como lidei com cada um deles, de como me abri para que eles pudessem chegar a minha vida. Obviamente, cada um vive uma experiência diferente e tem seu próprio tempo para assimilar seus próprios aprendizados; contudo, imaginei que não faria mal compartilhar com vocês algumas dessas percepções que me mudaram. Afinal, elas são bastante gerais e podem ser incorporadas por qualquer um.
Topam fazer de 2018 um ano melhor para cada um de nós?
Respeite os limites de seu próprio corpo
Esse foi um dos maiores aprendizados que a Yoga trouxe para a minha vida. Uma breve contextualização: sempre durante os exercícios, meu professor nos lembrava para não sobrecarregarmos nosso corpo. Se um alongamento começasse a doer, era porque havíamos ultrapassado o limite da dor — o intuito de cada exercício é que encontremos conforto para, assim, relaxarmos e harmonizarmos nosso ambiente interno. Porém, por causa de nosso estilo de vida ocidental, estamos competindo o tempo topo com os outros e com nós mesmos. Assim, é muito natural nos sentirmos mal, por exemplo, se não formos tão flexíveis quanto outras pessoas, o que nos força a nos alongarmos o máximo possível. Ou então, criamos na nossa mente aquelas situações de “ontem fui até tal ponto, hoje preciso me superar”. Com isso, desrespeitamos nossos limites e acabamos por nos desrespeitar. Passei, dessa maneira, a me exercitar durante as aulas sempre buscando ir até o máximo possível de cada posição que me permitisse ter uma sensação agradável e evitando qualquer tipo de desconforto, já que somente assim eu seria capaz de verdadeiramente me tranquilizar.
Quando dei por mim, havia incorporado essa perspectiva a minha própria vida. Muitas e muitas vezes eu saía para correr na praça e, por falta de prática, o exercício acabava sendo extremamente desgastante, o que acabava por me fazer sair cada vez menos, sempre buscando desculpas para evitar a corrida. Até que um dia cheguei na praça e prestes a começar a correr contra minha vontade, disse para mim mesma: “mas por que eu preciso disso? Por que eu tenho que correr, se não tenho vontade?” Foi quando percebi o quanto eu estava me impondo uma meta que eu não realmente queria, mas influenciada por uma ideia de que eu deveria fazer aquilo. Então resolvi simplesmente caminhar. Desde então, saio para andar na praça religiosamente todas as semanas e sinto muita falta se, em algum dia, não consigo ir. Caminhar ouvindo música se transformou em um dos meus momentos favoritos do dia, um instante absolutamente só meu, para entrar em contato comigo mesma. Gosto tanto, que posso facilmente andar por duas horas, sem sentir vontade de parar e voltar para casa.
Tudo isso para dizer: vamos respeitar os nossos próprios limites? Para que, por exemplo, nos forçarmos a continuar comendo alguma coisa quando claramente já nos sentimos saciados? Para que lutarmos contra o sono nos obrigando a continuar lendo um livro? Não é muito melhor se simplesmente nos servimos de porções que realmente são suficientes para nos saciar ou deixarmos para terminar a leitura no dia seguinte, quando já tivermos descansado? É claro que nem sempre isso é possível, considerando-se que muito do que fazemos depende de prazos, por exemplo, que nos forçam a lutar contra o cansaço que nos toma. Mas será que em todas as vezes não podemos pegar mais leve? Será que não há momentos que simplesmente podemos — e devemos — ouvir o que nossos corpos dizem?
Respeitar as próprias vontades
Esse item acaba sendo bastante próximo ao anterior, simplesmente porque, quando passamos a respeitar nossos corpos, passamos também a respeitar a nós mesmos. Novamente, a sociedade em que vivemos nos dita a todo momento as coisas que devemos e não devemos fazer, aquilo que temos e não temos que ser, quando, na realidade, nós não devemos e nem temos que nada. Aliás, nós devemos fazer simplesmente aquilo que melhor couber a nós mesmos. Ninguém tem que entrar na faculdade assim que se forma no Ensino Médio, ou tem que casar e ter filhos, ou precisa fazer dieta para ter o corpo dito ideal. Saber escutar as próprias vontades e julgar as decisões que melhor couberem a si é essencial para se descobrir quem se é.
E não falo apenas de grandes decisões de vida. Está com vontade de dançar, mas tem vergonha do que as pessoas ao redor vão pensar? Dance. Acordou morrendo de vontade de comer um chocolate, mas acha que não pode, por estar de dieta? Coma. Não está com a menor vontade de fazer uma atividade que precisa entregar e está sobrecarregado de outras atividades? Não faça, encontre um tempo para descansar.
Longe de mim querer incentivar alguém a se tornar irresponsável. A ideia é apenas a de que tenhamos discernimento para saber quando podemos pegar mais leve com nós mesmos, já que, de modo geral, nos afundamos em um estilo frenético de vida e comumente nos colocamos de lado. É maravilhosa a sensação de perceber que podemos fazer algo que queríamos ou deixar de fazer o que não tínhamos vontade, mas, por algum motivo, tínhamos receio, e notarmos que o mundo não acabou por causa disso. Muitas vezes, as barreiras estão apenas dentro de nossas próprias mentes.
Permita-se sentir
Como seres humanos, estamos sujeitos às mais diversas sensações. Entretanto, algumas costumam ser mais valorizadas do que outras. Por exemplo, é muito mais fácil aceitarmos de braços abertos sentimentos como amor e alegria, e evitarmos tristezas a todo custo.
Ninguém merece uma vida de sofrimento e nem ao menos tem que viver imerso apenas em dor. Porém, é extremamente cruel essa imposição de felicidade a que somos submetidos, que mais nos afasta dela do que nos permite, de fato, sermos felizes. Está tudo bem se sentir triste quando algo de ruim acontece, ou simplesmente se sentir para baixo quando você acorda assim. Não caia naquela velha história de que “tem tanta gente em piores condições”. É verdade, há muitas situações terríveis ao redor do mundo, mas isso não significa que a sua dor e seu momento de tristeza devam ser desmerecidos. Tristeza é tanto um sentimento quanto felicidade o é, e só podemos viver cada um em sua máxima intensidade se nos permitirmos sentir os dois. Evitar um sofrimento por medo de senti-lo pode gerar problemas muito mais graves, como bloqueios e traumas, então permita-se sentir. Só assim você será capaz de superar.
Aceite também a felicidade quando ela chegar: não tenha medo de ser feliz. Momentos de felicidade podem ser passageiros, mas os de tristeza também o são. Permita-se viver e ser feliz, sem temer que a felicidade acabe. Até isso acontecer — e caso aconteça — você tem muito o que aproveitar, e não vale a pena se fechar para um sentimento pelo medo de que ele chegue ao fim.
Seja gentil com você
Não se cobre tanto. Não se culpe tanto. Você tem direito de sentir o que sente, de acreditar no que acredita, de viver o que vive. Dê sim o seu melhor sempre que puder, mas não se sinta mal por não ter conseguido completar uma tarefa ou meta a que se propôs. Você não é mais fraco ou menos capaz por isso.
Aprenda a dizer não. E também aprenda a dizer sim.
Quantas e quantas vezes aceitamos fazer algo apenas para não magoar alguém? Aprender a dizer não é basicamente lei em qualquer manual de auto-ajuda encontrado por aí, e por isso digo apenas que sim, é essencial que saibamos negar coisas e situações que não condizem com quem somos.
Porém, muito importante também é aprender a dizer sim. Abra-se a novas experiências, permita-se se conhecer e conhecer o mundo ao seu redor. Sair da nossa zona de conforto é essencial em diversos momentos da nossa vida, e só assim aprendemos a conhecer novas facetas de nós mesmos.
Seja sincero com você e com quem você é
Tão comum mentirmos para nós mesmos, pelos mais diversos motivos! Sabe quando não assumimos que gostamos de algo porque alguém nos disse que aquilo não é bom? Ou quando evitamos agir como normalmente agiríamos por medo de como a outra pessoa vai reagir ou pensar de nós? Fazer tudo isso é um desrespeito e um desserviço a nós mesmos.
Assumir quem somos, o que pensamos e o que gostamos, doa a quem doer, é um exercício de libertação. Não há maior sensação de liberdade do que fazer escolhas única e simplesmente baseadas em si próprio, ou de se deliciar com algo com que se identifica. Se alguém não vai gostar do que seja lá que você assumiu como melhor para si, o problema é da outra pessoa, não seu.
Aprenda a diferenciar o que é seu do que é do outro
Não é incomum que moldemos nossas atitudes e escolhas a partir do que outras pessoas vão dizer ou achar, no estilo “Não posso fazer isso, porque tal pessoa não vai gostar”. Como já disse anteriormente, é necessário que tenhamos discernimento para tudo, inclusive em saber o que diz respeito a nós e a outras pessoas. Sou completamente a favor de evitarmos atitudes que podem magoar alguém próximo de nós; porém, há situações que simplesmente não estão no nosso controle e cabe a outra pessoa lidar com o que sente e acredita. Não é sadio, por exemplo, começar a pisar em ovos em um relacionamento porque a outra pessoa se sente insegura quanto ao que você faz. Se você não está fazendo nada de errado para ela, cabe a ela lidar e resolver a própria insegurança, e não a você limitar as próprias atitudes para que ela se sinta segura. Até porque, se ela é insegura nesse nível, nada do que você fizer mudará isso. O problema está nela, não no que você faz.
Ame-se, em primeiro lugar
Ah, o famigerado amor próprio. Ouvimos tanto sobre ele por aí, mas ainda assim temos tanta dificuldade em conhecê-lo.
Absolutamente todas as dicas que coloquei nesse post foram exercícios que passei a aplicar na minha vida em busca desse amor próprio. Na realidade, não fiz essa busca de maneira consciente; quando dei por mim, percebi que era isso que havia acontecido. Cada uma dessas mudanças de atitude me permitiu conhecer e aceitar quem sou e, com isso, aprendi também a me amar e a me colocar em primeiro lugar em minha própria vida.
Quando respeitamos a nós mesmos, quando somos sinceros conosco, quando nos posicionamos diante das situações de acordo com o que acreditamos, quando entendemos as fronteiras entre nós e o mundo, passamos a entender quem verdadeiramente somos, e a única alternativa que nos resta é a de nos aceitarmos. E é aí que surge nosso amor-próprio. Afinal, não fará mais sentido fazer algo que vá contra nossos princípios. Não fará sentido nos colocarmos de lado. Amar a nós mesmos é também nos empoderarmos, e é essa força a responsável por nos impulsionar e nos fazer enfrentar seja lá o que aparecer diante de nós.
Vamos falar de consequências?
Não se engane: passar por esse processo é doloroso e pode implicar em mudanças radicais em nossas vidas. Assumir quem somos implica, também, assumir o que não somos. Escolher o que tem a ver com nossa visão de mundo implica, também, em deixar de lado aquilo que não combina mais com nós mesmos.
Nossa busca por nós pode nos levar a nos aproximarmos de algumas pessoas e situações, ao passo que nos leva a nos afastarmos de outras — pessoas e situações. E é por isso que se torna tão difícil passar por esse processo. Não é fácil deixar para trás aquilo que é cômodo, não é mesmo?
Vivemos em sociedade. Vivemos nos relacionando com outras pessoas. Mas, acima de tudo, vivemos sob nossa pele, sob nossa própria consciência. Aprender a se respeitar e se amar é também um exercício para se respeitar e amar o próximo: só temos consciência de que o outro é um ser tão complexo, com vontades e medos próprios, quando também reconhecemos que assim somos. Não é possível ser sincero com alguém se não formos sinceros com nós mesmos. E somente seremos capazes de construir relações verdadeiras e saudáveis quando a nossa relação conosco também for assim.
Olá Aione! Sábias palavras. 2017 não foi um ano tão bom como eu gostaria mas sem dúvida foi melhor que seu antecessor. Tive que lidar com muitas responsabilidades e me mostrar forte quando não estava bem. Seus conselhos são excelentes, vamos viver de uma maneira mais leve, conhecendo e respeitando os limites, ser honestos com nós mesmos. Definitivamente tenho que aprender a dizer não às vezes, e aumentar minha auto estima que está tão baixa que já chegou ao mundo inferior. Beijos