[Resenha] Fera - Brie Spangler - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
30

maio
2017

[Resenha] Fera – Brie Spangler

Título: Fera
Autor: Brie Spangler
Editora: Seguinte
Número de Páginas: 336
Ano de Publicação: 2017
Skoob: Adicione
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Dylan não é como a maior parte dos garotos de quinze anos. Ele é corpulento, tem quase dois metros de altura e tantos pelos no corpo que acabou ganhando o apelido de Fera na escola. Quando ele conhece Jamie, em uma sessão de terapia em grupo para adolescentes, se apaixona quase instantaneamente. Ela é linda, engraçada, inteligente e, ao contrário de todas as pessoas de sua idade, parece não se importar nem um pouco com a aparência dele.

O que Dylan não sabe de início, porém, é que Jamie também não é como a maioria das garotas de quinze anos – ela é transgênera, ou seja, se identifica com o gênero feminino, mas foi designada com o sexo masculino ao nascer. Agora Dylan vai ter que decidir entre esconder seus sentimentos por medo do que os outros podem pensar ou enfrentar seus preconceitos e seguir seu coração.

Fera é o primeiro livro YA de Brie Spangler e um dos últimos lançamentos da editora Seguinte. Sendo uma releitura de A Bela e a Fera, garante seu diferencial e lugar de destaque não simplesmente por trazer a temática de valorizar cada pessoa por sua essência ao invés de julgá-la por suas aparências. Tal questão está presente na obra, mas trabalhada por meio do romance adolescente entre um garoto que sofre por sua fisionomia e uma garota transgênero.

Dylan, apesar de ter apenas 15 anos, tem quase 2 metros de altura e tantos pelos no corpo que foi apelidado de Fera. Assim, ele convive diariamente com as consequências – nada agradáveis – impostas por sua aparência. É quando ele acaba comparecendo a uma terapia em grupo, onde conhece Jamie, uma garota linda, simpática, inteligente, e que não apenas mexe com ele de forma única, como também parece vê-lo como ninguém jamais viu. Mas Jamie, assim como Dylan, não é como as demais adolescentes de sua idade: ela é transgênero, o que significa se identificar com o gênero feminino, ainda que tenha sido atribuído a ela o sexo masculino ao nascer.

Em primeira pessoa, a história é narrada pelo ponto de vista de Dylan, de forma que somos capazes de acompanhar os pensamentos mais íntimos do protagonista e compreender sua evolução no enredo. Adorei o personagem justamente por tê-lo amado em alguns momentos, desejando abraçá-lo para confortá-lo por sofrer pela forma de como ele é definido e reduzido ao seu tamanho e aparência, e odiado em outros, por Dylan se recusar a enxergar o que está em sua frente, em resistir tanto frente ao julgamento que ele mesmo realiza. Ao invés de sua condição despertar nele empatia na sua maneira de enxergar o outro, ele acaba por se fechar em uma situação de “vítima” e age com os demais do mesmo jeito que é tratado. E acompanhar a trajetória e amadurecimento do personagem foi interessante não simplesmente por seus aprendizados, mas justamente por todo sentimento de confusão que ele experiencia.

Essa sensação paradoxal que o protagonista desperta é expandida a basicamente todas as personagens centrais, em especial a mãe e o melhor amigo de Dylan. As personagens são complexas por acertarem e errarem, terem defeitos e qualidades, despertarem simpatia e antipatia dependendo de suas atitudes. Acima de tudo, foram personagens extremamente reais justamente por terem sentimentos tão confusos quanto possível diante de nossas próprias limitações e dificuldades. Jamie, por outro lado, foi certamente minha personagem favorita e a única por quem, em momento algum, senti qualquer espécie de sentimento negativo. Me encantei por sua clareza sobre si e sobre os demais ao seu redor, por sua personalidade forte e bem definida, característica de alguém completamente ciente de quem se é e inteiramente satisfeita por isso.

O ponto alto do livro certamente consiste na mensagem transmitida e nas questões abordadas. É essencial haver obras falando sobre identidade de gênero e todos os pontos envolvidos, ainda mais direcionados a um público jovem. Tanto Dylan quanto Jamie passam por períodos de extrema confusão interna, ainda que o de Dylan seja aquele que, de fato, acompanhamos ao longo da narrativa e, o de Jamie, já consolidado, apresentado a nós, então, a partir de sua perspectiva presente com relação ao passado. Essa confusão de ambos, ao ser apresentada, permite que muitos leitores se identifiquem, e passem também a se sentir um tanto quanto mais esclarecidos conforme a dos personagens também vai sendo elucidada. Ainda, a beleza do amor entre os jovens é um elemento essencial em Fera: além de mostrar a pureza em si do sentimento e como ele está envolvido em todo contexto, traz belíssimas passagens à história, cumprindo seu papel de romance.

A linguagem utilizada na narrativa é bastante simples e direta, e exemplifica muito bem os pensamentos e sentimentos de Dylan, assumindo a voz do adolescente confuso e revoltado que o garoto é. Assim, a leitura é bastante rápida e simples de se acompanhar. Contudo, esse também foi o ponto baixo da leitura, para mim. Em determinados momentos, senti falta de maior aprofundamento, principalmente em situações de transição, no sentido de, em um instante, as personagens sentirem algo e, no capítulo seguinte, terem passado já por todo um processo responsável por elas já não mais se sentirem da mesma forma, mas sem que o tenhamos acompanhado. É como se elas fossem de um ponto a outro sem que o percurso tenha sido demonstrado, e senti falta justamente de fazer parte dessa trajetória.

No resumo, Fera ganha destaque pelas questões abordadas e pela clareza com que são trabalhadas. Ainda, a complexidade das personagens demonstra muito bem como a realidade pode ser confusa, justamente pelos tantos preconceitos e limitações socialmente impostos, que acabam por barrar atitudes e compreensões, quando não há a disposição de eliminar essas barreiras. Não foi um livro que me emocionou ou que se aprofundou tanto quanto poderia, de acordo com todo o material disponível e que poderia ser mais desenvolvido. Ainda assim, foi uma leitura fluida e indubitavelmente válida, que recomendo sobretudo pelas mensagens capazes de transmitir.





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4 Respostas para "[Resenha] Fera – Brie Spangler"

Márcia Saltão - 30, maio 2017 às (21:03)

Oi.
Releituras sempre são interessantes. Uma pena não ter um enredo mais aprofundado e com um enredo mais bem desenvolvido.
Mas de qualquer forma, fiquei curiosa e espero ter a oportunidade de conferir.
A edição está bem bonita e suas fotos deram um destaque todo especial.
Resenha, como sempre, perfeita!
Beijos.

rudynalva - 31, maio 2017 às (00:11)

Aione!
Mais uma releitura do conto A Bela e a Fera que tanto amo.
E que udança feita pelo autor, trazendo a essência da Fera e vários questionamentos que devem mesmo ser discutidos, principalmente entre o público mais jovem, para entender melhor determinadas questões que ocorrem e para discutir a questão do preconceito e da diversidade das relações.
Desejo uma semana tranquila!
“Uma pergunta prudente é metade da sabedoria.” (Francis Bacon)
Cheirinhos
Rudy

suzana cariri - 31, maio 2017 às (10:50)

Oi!
Ainda não conhecia esse livro, mas foi só ver essa capa para logo fiquei curiosa sobe essa historia, gosto muito das releituras dos contos de fadas e essa foi uma historia que me surpreendeu e me deixou bem interessada, gostei bastante de todos esse enrendo e se tiver oportunidade quero ler esse livro !!

Paloma Monteiro - 31, maio 2017 às (14:33)

Amo llivros que são releituras de algum conto clássico que já li mil vezes, a bela e a fera é a minha historia preferida da Disney rsrsr , e cada vez que vejo uma releitura dele fico super empolgada e NUNCA ME CANSO rsrrs …este parece ser ainda mais interessante por abordar temas tão “pesados” (Se possamos assim dizer) …

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