Sobre o Livro
Título: O escaravelho do diabo
Autor: Lúcia Machado de Almeida
Editora: Ática
Número de Páginas: 192
Ano de Publicação: 2015
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O escaravelho do diabo é um dos meus livros favoritos da infância e pré-adolescência, tendo sido um dos mais marcantes dessa época. Com o lançamento do filme adaptado da obra de Lúcia Machado de Almeida, tive a oportunidade de fazer sua releitura e ter agora minhas impressões, já adulta, da trama como um todo.
Aqui temos a história de Alberto, estudante de medicina cujo irmão, Hugo, foi misteriosamente assassinado. Sem pistas sobre o que pode ter acontecido, ele estranha, apenas, o escaravelho que Hugo recebeu anonimamente pelo correio antes de sua morte. Passado um tempo, um novo assassinato acontece e, para surpresa de Alberto, a vítima não apenas também recebeu um escaravelho como também é ruiva, como Hugo, levando Alberto a procurar o Delegado Pimentel para juntos investigarem quem está por trás dos crimes.
Como o livro é bastante antigo, 1972, é natural que encontremos nele uma linguagem que, hoje, pode soar um pouco formal, principalmente devido à colocação pronominal enclítica, cada vez mais incomum sobretudo na fala. Por isso, a escrita destoa de livros infanto-juvenis atuais, ainda que seja bastante tranquila e de fácil envolvimento, mesmo com suas particularidades.
Outro detalhe é a velocidade presente no desenrolar do enredo. A narrativa em terceira pessoa foca em fatos e diálogos, não em detalhes e descrições, o que tanto imprime velocidade à leitura quanto à própria cronologia da história – a passagem de um considerável espaço de tempo é comum aqui, fazendo com que a trama se desenrole rapidamente.
Dessa maneira, agora como adulta, após ter amadurecido como leitora e ter tido contato com inúmeras obras, inclusive do gênero, a leitura em si não me proporcionou grandes encantamentos; ao contrário, senti meu senso crítico apurado, de forma a notar detalhes que, hoje em dia, são de caráter negativo em meu aproveitamento de um livro, principalmente por O escaravelho do diabo, agora, ter perdido em mim seu impacto de thriller.
Ainda assim, dois pontos devem ser considerados. O primeiro deles é o fato de que, hoje, o suspense do livro não funcionou para mim como se espera de uma narrativa do gênero, porém ela agiu com perfeição quando fui seu público-alvo – o que diz muito mais da história do que minha experiência atual. O segundo ponto é que, ainda que eu não tenha sentido o mistério e o envolvimento anteriores, continuei curiosa pelo desfecho, tanto por ter me esquecido da trama inteira quanto por ela ser inusitada e bem elaborada. A partir de certo ponto, passei a ter meu palpite – e estava certa sobre ele -, mas toda a motivação e as consequências dos crimes permaneciam obscuras a mim, esclarecidas apenas ao fim da leitura.
Acredito que O escaravelho do diabo se fez um clássico da literatura infanto-juvenil brasileira porque Lúcia Machado de Almeida não subestimou seus leitores ao escrevê-lo: a escrita precisou ser mais rápida e menos detalhada para atingir seu público-alvo justamente porque a história em si não é infantil. Boa parte das tramas de livros de suspense do gênero são adaptadas aos leitores, sendo ou fantasiosas ou mais leves e ingênuas, e a história aqui poderia ser facilmente reescrita, mantendo-se o mesmo plot, para um público mais velho. Não é a toa que tantos jovens leitores, eu entre eles, se apaixonaram pelos thrillers policiais a partir desse livro e de outros semelhantes da coleção Vagalume, como O mistério do Cinco Estrelas, O enigma da televisão e Um cadáver ouve rádio. Os livros de Pedro Bandeira, sobretudo da série Os Karas, também levam esse mérito.
Sobre o Filme
As diferenças – ou ao menos a sugestão de que elas existirão – na adaptação de O escaravelho do diabo se fazem evidentes desde seu trailer, já que Alberto não mais é um jovem estudante universitário, mas sim uma criança. Fiquei curiosa do motivo para essa alteração até começar a assistir ao filme, quando tudo, então, ficou mais claro.
Mencionei que o trunfo da obra de Lúcia Machado de Almeida está no fato da história em si não ser infantil, e sim seu desenvolvimento, e por isso causar furor entre os jovens leitores – e ao menos despertar curiosidade nos mais velhos. Tendo isso em vista, o filme foi desenvolvido fielmente ao espirito da trama e, assim, carrega os elementos de um bom suspense: cenas sombrias, trilha sonora propícia, e certo teor dramático pelo conteúdo criminal presente. Assim, ao substituir o protagonista adulto por uma criança, o filme recebeu a leveza que, no livro, se dá através da escrita da autora, podendo manter sua essência de ser, acima de tudo, uma obra infanto-juvenil.
E as diferenças não param por aí: ainda que o esquema de mortes tenha sido mantido, elas foram adaptadas ao contexto atual e à mudança da idade de Alberto, de forma que as personagens do filme não correspondem exatamente às do livro.
Também, gostei muito mais do desfecho do filme. O original, apesar de interessante, acaba não sendo tão impactante e, até mesmo, convincente, de forma que o do filme assumiu um novo significado, muito mais coerente à trama como um todo.
Os próprios detalhes, ausentes no livro, puderam ser incorporados no filme, já que o primeiro, por sua brevidade, permitiu um melhor manejo do segundo. Todo o impacto emocional originado pela morte de Hugo, por exemplo, se faz presente no filme, o que não acontece no livro.
De modo geral, adorei a adaptação de O escaravelho do diabo, desde a escolha dos atores ao próprio desenvolvimento da história como um todo. Esse é um filme que cumpre seu papel de suspense, com um enredo intrigante e que não deixa de lado a leveza característica de um filme destinado a um público mais jovem.
Assista ao Trailer!
Oi Aione. Eu amei o trailer do filme, ainda não assisti, mas fiquei bem curiosa pra ler o livro também.
Beijos