Sobre o Livro
Título: A Cor Púrpura
Autor: Alice Walker
Editora: José Olympio
Número de Páginas: 356
Ano de Publicação: 2016
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A Cor Púrpura, de Alice Walker, era um daqueles livros sobre o qual eu já havia ouvido inúmeros comentários positivos e que figurava em minha lista de leituras desejadas. Depois de lê-lo, ele se tornou um daqueles que nos perguntamos “Por que não li esse livro antes?”. Originalmente publicado no Brasil em 1982 pela editora Círculo do Livro, a obra foi posteriormente publicada pelas editoras Marco Zero, em 1989, e José Olympio, em 2009, ganhando dessa uma nova edição no início de 2016.
Em seu romance ganhador do Pulitzer de 1983, Alice Walker retrata a vida de Celie durante as quatro primeiras décadas do século XX. Através de suas cartas primeiramente para Deus, depois para sua irmã, Celie narra todas as dificuldades de sua vida quotidiana: inicialmente os abusos sofridos quando ainda adolescente pelo Pai, depois a violência de seu marido, além dos próprios obstáculos colocados nos caminhos daqueles que a cercam, principalmente no que se refere a suas condições sociais. Sendo mulher, pobre e negra, Celie sente na pele e na alma todas as dificuldades a ela impostas.
Por ser quase analfabeta, suas cartas refletem seus poucos estudos, permitindo, assim, que o leitor se aproxime muito rapidamente da personagem e de seu jeito simples de ser. Sua escrita e apelos a Deus são naturais e fluidos, e impregnados das injustiças enfrentadas diariamente. Foram inúmeras as citações que desejei marcar e memorizar para ler posteriormente, tamanha força da verdade nelas presentes e das reflexões que elas despertam a cada virar de páginas.
“Eu pensei, Eu nem posso me lembrar da última vez que fiquei com raiva, falei. Eu costumava ficar com raiva da minha mãe porque ela dava muito trabalho preu fazer. Depois eu vi que ela tava muito duente. Num pudia mais ficar com raiva dela. Num pudia ficar com raiva do meu pai porque ele era meu pai. A Bíblia fala, Honra seu pai e sua mãe num importa o quê. Então, depois de um tempo, toda vez queu ficava com raiva, ou começava a ficar com raiva, eu ficava doente. Tinha vontade de vumitar. Era horrível. Então eu comecei a não sentir mais nada.”
página 58
Alice Walker construiu brilhantemente sua obra. Desde a primeira página me vi envolvida pelo enredo e fui tomada pelos mais diversos sentimentos, principalmente agonia, tristeza e raiva por todos os abusos que Celie e outros em situações semelhantes acabam por sofrer. Mais do que o racismo, impera na obra as consequências de nossa sociedade machista e paternalista, o que significa encontrarmos, aqui, uma protagonista sem voz, submissa ao extremo, e crente de uma verdade distorcida sobre sua condição. Ainda, encontramos também os efeitos negativos da religião cristã, utilizada aqui não como instrumento de fé, mas como forma de doutrinação e controle, impregnando no imaginário da sociedade as noções de “Pecado” e “Proibição” a fim de domar os fiéis de acordo com os próprios interesses das figuras de poder que se encontram em seu comando. Por fim, temos, de modo geral, os efeitos da necessidade do homem de subjugar o outro para se manter no poder, seja entre gêneros, entre etnias ou culturas.
“Escuta, Deus ama tudo que você ama – e uma porção de coisas que você num ama. Mas mais do que tudo o mais, Deus ama a adimiração.
Você tá dizendo que Deus é vaidoso? eu perguntei.
Não, ela falou. Num é vaidoso, só quer repartir uma coisa boa. Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara.”
página 231
Com o passar dos anos e da evolução do enredo, pouco a pouco acompanhamos as transformações de Celie em sua ânsia de se libertar de seus sofrimentos e amarras que controlam sua vida, e foi simplesmente incrível presenciar sua trajetória. Cada mulher que passa a fazer parte de sua vida, principalmente Shug Avery – cantora cuja presença, talvez, seja a mais determinante das mudanças sofridas por Celie – e Sofia – esposa de seu enteado -, traz a ela uma nova perspectiva e uma nova compreensão de sua individualidade, de seus direitos e, principalmente, de seu valor, contribuindo, assim, para seu empoderamento. Também, Celie passa a adquirir uma noção de fé diferente da ensinada a ela, mas muito mais verdadeira e sensível, e foi impossível não me encantar com seus debates com Shug Avery acerca dessas questões.
A Cor Púrpura entrou, sem dúvida alguma, para minha lista de favoritos. Mais do que uma história de superação, temos um retrato infelizmente ainda muito atual de nossa sociedade. Ao mesmo tempo em que a vida de Celie nos serve de inspiração e força por vermos as diferenças entre sua época e a nossa, refletindo no quanto já conquistamos de lá para cá, ela também é um lembrete de que ainda há muito a se mudar, e que nossa luta não deve cessar jamais.
Sobre o Filme
A Cor Púrpura foi adaptado para os cinemas em 1985, tendo Steven Spielberg como diretor. Foi a estreia de Whoopi Goldberg nos cinemas e lhe rendeu a indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 1986. O filme recebeu outras nove indicações, incluindo a de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado, mas não ganhou nenhuma estatueta.
Durante quase todo o filme, é notável sua fidelidade ao livro. Vemos tanto cenas que ocorrem na obra original de Alice Walker quanto, até mesmo, diálogos e falas presentes nas cartas de Celie. Contudo, principalmente nos momentos finais da adaptação, essa fidelidade vai, aos poucos, diminuindo, o que significa que passamos a acompanhar cenas mais breves ou transpostas do livro, mas não em sua exatidão, como de costume aos roteiros adaptados. Tal processo é completamente comum, já que livro e filme são mídias diferentes, e não perde em nada a essência da história como um todo. Eu apenas senti falta de um maior detalhamento de acontecimentos finais, passados ao espectador com certa velocidade. Porém, isso também se torna compreensível pela própria extensão do filme, que conta, ao todo, com praticamente 2h30 de duração.
Não apenas Whoopi Goldberg esteve incrível como Celie, trazendo sua simplicidade, ingenuidade, medo e, pouco a pouco, a descoberta de seu valor e sua força interior, como também brilharam Margaret Avery e Oprah Winfrey, ambas indicadas ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. As personagens Shug Avery e Sofia já foram extremamente marcantes no livro de Alice Walker, e nas telonas foram imortalizadas por essas atrizes, que trouxeram momentos de risos, lágrimas e, sobretudo, sensibilidade ao filme.
Em linhas gerais, A Cor Púrpura não apenas foi uma excelente leitura quanto, também, sua adaptação cinematográfica não deixou nada a desejar. O filme me levou às lágrimas e me trouxe todos os sentimentos que o livro já havia trazido. Como sempre, enfatizo que a leitura da obra original sempre traz detalhes e reflexões próprias que são impossíveis de serem incorporadas a um filme, ao mesmo tempo que esse também tem suas peculiaridades, de forma que um é incapaz de substituir o outro; ao contrário, tornam-se complementares e maravilhosos por si só.
Assista ao Trailer!
Mi…que lindo esse post!
Sempre quis ler o livro, ja ouvi falar maravilhas e a sua resenha só confirma a necessidade de conhecer mesmo essa história.
Eu adoro comparações entre livros e adaptações e a riqueza de descrições, detalhes e fotos deixou tudo ainda mais interessante.
Amei! <3
Beijos