Título: A mulher que roubou a minha vida
Autor: Marian Keyes
Editora: Record
Número de Páginas: 476
Data de Publicação: 2015
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Um dia, andando de carro em meio ao tráfego pesado de Dublin, Stella Sweeney, mãe e esposa dedicada, resolve fazer uma boa ação. O acidente de carro que resulta disso muda sua vida. Porque ela conhece um homem que lhe pede o número do seu celular para o seguro, plantando a semente de algo que levará Stella muitos quilômetros para longe de sua antiga rotina, transformando-a em uma superestrela e também, nesse processo, virando a sua vida e a de sua família de cabeça para baixo. Em seu novo e divertido romance, Marian Keyes narra a história de uma mudança de vida. É tudo muito bom quando se passa de um cotidiano banal para dias cheios de eventos glamorosos — mas, quando essa vida de sonhos é ameaçada, pode-se (ou deve-se) voltar a ser a pessoa que se costumava ser?
Os livros de Marian Keyes costumam, sobretudo, trazer histórias de superação. Suas mocinhas, normalmente mais velhas do que 30 anos ou próximas disso, costumam viver diferentes tipos de crises e problemas, e nós, leitores, acompanhamos seus altos e baixos de forma leve e descontraída, mesclando momentos de diversão com aqueles mais tristes, em decorrência dos obstáculos descritos.
Em A mulher que roubou a minha vida, o clima da trama é basicamente esse. Nela, temos Stella Sweeney, cuja vida foi arruinada – embora, inicialmente, não saibamos o que de fato aconteceu a ela. Nossas informações são de que ela está morando novamente em Dublin após uma temporada em New York, onde viveu durante o período de divulgação de seu livro auto-ajuda que virou best-seller. Agora, enquanto tenta vencer um bloqueio e escrever seu segundo livro, a fim de dar a volta por cima, ela também precisa lidar com todas as dificuldades que sua vida assumiu após sua queda, inclusive um relacionamento conturbado com seu filho mais novo, Jeffrey, e uma ideia maluca de seu ex-marido, Ryan, para provar a existência do carma.
Pouco a pouco, temos a história de Stella revelada, principalmente por meio de flashbacks. Nos capítulos situados no tempo presente, temos um acompanhamento maior de sua rotina atual, além das lembranças que auxiliam a preencher as lacunas sobre sua história. Tais lembranças funcionam, sobretudo, como um artifício a fim de aumentar o suspense da trama e a curiosidade do leitor, que passa avidamente a desejar conhecer toda a trajetória da protagonista.
“Eu sempre achei que se crescia nos momentos de coração despedaçado; que quanto mais velha a pessoa ficasse, menos a coisa doía, até deixar por completo de provocar algum impacto. Mas descobri da maneira mais difícil que o coração partido é igualmente ruim, mesmo quando a pessoa é mais velha. A dor continua sendo horrível.
(…) Mas ficar lamentando e vagando por aí com o coração partido é algo muito menos digno na minha idade. Depois que você passa dos quarenta, espera-se que você seja sábia, filosófica, leve uma vida tranquila em suas roupinhas coordenadas da Eileen Fisher e diga: “É melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado. Alguém quer chpa de camomila?””
página 88
Como a narrativa se dá em primeira pessoa, é a visão de Stella sobre os fatos que predomina na obra, e é possível, assim, nos sentirmos mais próximos a ela. Os eventos iniciais que desencadeiam o enredo concentram-se, basicamente, em uma grave doença sofrida pela personagem (e contada inicialmente na história, não constituindo, assim, em um spoiler), e Marian Keyes soube dosar muito bem a fatalidade do momento com uma escrita divertida, proporcionando uma leitura ao mesmo tempo leve e angustiante. Eu simplesmente não pude evitar me sentir agoniada por essa vivência de Stella, ao passo que não houve nada narrado de forma excessivamente dramática, capaz de alterar o estilo do livro.
Essa sensação de agonia, aliás, predominou por praticamente toda a leitura. Fui tomada por um forte sentimento de indignação, principalmente pela maneira de como Stella precisa enfrentar injustiças sobre seus familiares e pela forma de como ela se porta sobre tudo isso. A protagonista aceita, inclusive, culpas que não lhe cabem, e sofre o tempo todo, não só pelos próprios obstáculos surgidos, mas também por tentar conciliar e aceitar os sentimentos alheios, mesmo quando há pouca consideração dos outros com os dela própria. Ao mesmo tempo em que achei interessante a maneira de como Marian Keyes demonstrou o fato de cada pessoa reagir muito particularmente frente a uma dificuldade, muitas vezes de forma oposta ao que seria considerado ideal, também senti certo exagero em como isso foi refletido em Stella.
“- (…) não se pode batizar alguma coisa de amor até tudo dar errado e as pessoas sobreviverem à crise. O amor não se trata apenas de coraçõezinhos e flores. E também não é só um sexo maravilhoso. O amor tem a ver com lealdade. Resistência. Enfrentar as batalhas como soldados, lado a lado.”
página 290
Por conta disso, de ter passado quase que o livro inteiro sofrendo com a protagonista (ainda que da maneira a la Marian Keyes de se sofrer com uma história), acabei me decepcionando um pouco com a leitura. Ao invés de uma história de superação, como nas outras obras da autora, encontrei uma de mudanças, com transformações acontecendo o tempo todo e Stella tentando sobreviver a elas. Ainda que haja, sim, períodos em que demonstrem a vitória da protagonista sobre as adversidades, não foi esse o sentimento que predominou em minha leitura, e achei o final um tanto quanto “corrido” nesse sentido – não porque os acontecimentos se deem de forma demasiadamente veloz, mas porque o leitor acompanha as conclusões positivas da história durante um período muito curto, se considerados todos os negativos anteriores. Além disso, tive, inicialmente, a sensação de que a narrativa em primeira pessoa ocultava algum problema enfrentado por Stella e ainda não assumido por ela, o que explicaria, principalmente, sua relação conturbada com o filho. Contudo, essa suposição se mostrou infundada, frustrando minhas expectativas nesse momento de suposta revelação e, consequentemente, de superação por parte da personagem.
Por outro lado, o romance da trama foi um de seus pontos positivos em minha leitura. Gostei de como Marian Keyes desenvolveu essa parte, criando uma conexão tão íntima e inexplicável entre as personagens. Consegui compreender como nasceu o sentimento entre elas, como isso afetou seus próprios julgamentos sobre a situação vivida, e como acabaram se rendendo à própria paixão.
Em linhas gerais, A mulher que roubou a minha vida foi uma leitura divertida e envolvente, ainda que bastante angustiante, com uma trama bem desenvolvida acerca dos altos e baixos encontrados por Stella Sweeney. Mais do que um livro sobre superação, essa é uma história sobre mudanças e sobre como viver durante cada uma delas, ainda que, para isso, seja inevitável sucumbir um pouco.
Nossa eu não sabia que Marian Keyes escrevesse livros de superação, eu adoro, fiquei encantada com a sua resenha.
Nunca tinha lido nada da autora, vou pegar tua indicação para minhas próximas leituras.