Título: Terra Sonâmbula
Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 208
Ano de Publicação: 2007
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Um ônibus incendiado em uma estrada poeirenta serve de abrigo ao velho Tuahir e ao menino Muidinga, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda parte em Moçambique. Como se sabe, depois de dez anos de guerra an-ticolonial (1965-1975), o país do sudeste africano viu-se às voltas com um longo e san-grento conflito interno que se estendeu de 1976 a 1992. O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também um outro corpo à beira da estrada, junto a uma mala que abriga os “cadernos de Kindzu”, o longo diário do morto em questão. A partir daí, duas histórias são narradas paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga e, em flashback,o percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra. “Terra Sonâmbula” – considerado por júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX e agora reeditado no Brasil pela Companhia das Letras – é um romance em abismo, escrito numa prosa poética que remete a Guimarães Rosa. Couto se vale também de recursos do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula.
Acredito que para quem esteja conectado de algum modo com o maravilhoso universo literário o nome Mia Couto não seja de todo estranho. Acontece que, por vezes, mesmo ouvindo tanto sobre um autor e sabendo que seus livros devem ser incríveis, acabamos por adiar a leitura. Até que chega o momento em que aquele nome tão familiar passa a fazer parte do nosso cotidiano de modo mais ativo e, no meu caso, foi através do espetacular Terra Sonâmbula.
Escolhi começar por esse porque pesquisei a ordem cronológica dos romances do autor e descobri que esse foi seu primeiro. E vejam só: esse livro é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Recebeu uma série de prêmios literários e, no ano de 2013, foi vencedor do prêmio Camões, o mais prestigiado da língua portuguesa. Realmente comecei com o pé direito e não me arrependi da escolha.
Numa terra assolada pela guerra, o menino Muidinga e o velho Tuahir caminham numa fuga a essa realidade. Desde então, eles só têm um ao outro e a constante e difícil busca pela sobrevivência. No caminho, Muidinga acaba por encontrar uns cadernos manuscritos dentro de uma mala ao lado de um cadáver: é o diário de Kindzu, uma pessoa que, supostamente, também teria sido vitimada pela guerra.
A partir de capítulos intercalados, vamos conhecendo, desse modo, as histórias tanto de Muidinga e Tuahir, quanto de Kindzu através dos cadernos que o menino Muidinga vai fazendo a leitura. A narrativa é mesclada em terceira e primeira pessoas, respectivamente.
O que o leitor precisa saber é que, em Terra Sonâmbula, Mia Couto deposita um grande arsenal de material místico e de cultura africana; desse modo, em meio ao sofrimento, dor, fome e todos os horrores de uma guerra, há algo de mágico que dá vias ao sonho e que mostra algo de profundo e misterioso naquele lugar, e essa mistura de realidade e fantasia faz toda a diferença. Ao final do livro, há um glossário que dá um ótimo suporte durante a leitura, pois o autor utiliza, em alguns momentos, um vocabulário mais regional. O simbolismo posto na trama e a forma como o autor retrata a realidade moçambicana são incríveis e pode surpreender qualquer leitor que não esteja adaptado ou que nunca tenha lido algo do autor; para mim, surpreendeu muito positivamente.
A escrita de Mia Couto é incrivelmente poética, criativa, envolvente, cativante e admirável. O modo como as histórias acabam se cruzando é simplesmente formidável e esse é um daqueles livros que dão gosto de ler, por ser tanto notável o talento do escritor que está por trás, quanto o seu esforço, dedicação e cuidado em escrever uma obra tão digna e que marcará para sempre o legado da literatura africana e mundial. Vale muito à pena conhecer, senão esse, outros livros do autor.
Apesar de ser um tema parcialmente interessante por abordar aspectos e costumes africanos o misticismo não é um assunto que me envolva,mesmo assim valeu a dica.Bjs!!!