[Resenha] Flores da Ruína/ Primavera de Cão - Patrick Modiano - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
08

maio
2015

[Resenha] Flores da Ruína/ Primavera de Cão – Patrick Modiano

CAPA

Título: Flores da Ruína
Autor: Patrick Modiano
Editora: Record
Número de Páginas: 144
Ano de Publicação: 2015
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Em 24 de abril de 1933, dois jovens cônjuges se suicidam em seu apartamento em Paris. Naquela noite, eles teriam se encontrado com diversas pessoas e foram dançar. Trinta anos depois, o narrador tenta reconstruir a história deles, que parece se cruzar com a sua própria. Cada pergunta suscita outras, como um eco, ao curso de andanças fantasmagóricas por Paris, de lembranças que retornam à memória…

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Patrick Modiano foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 2014 e ganhador de outros prêmios na França, como o Goncourt e o Grand Prix Du Roman da Academia Francesa. O livro Flores da Ruína, bem como, Remissão da Pena e Primavera de Cão são histórias independentes, mas formam a “trilogia essencial” da obra do autor.

Nos três livros o autor segue a mesma linha de raciocínio, que reúne elementos autobiográficos e ficcionais. Recuperando memórias em meio a circunstâncias imprevisíveis, o autor mostra que tem habilidade e conforto ao lidar com esse tipo de narrativa.

Flores da Ruína traz como mote central o suicídio de um jovem casal que aconteceu na década de 30 e o inicio das investigações e divagações a respeito do motivo para tal ato. Anos depois, o caso não resolvido é reaberto e, em meio a isso, nosso narrador em primeira pessoa corrobora com o enredo trazendo elementos da sua história e lembranças do seu passado que dizem respeito ou não com esse mote.

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A narrativa reconstrói as lembranças do narrador de um modo muito particular e em meio a um emaranhado de informações que até o leitor mais atento pode se confundir. O fato é que o resgate das memórias se sobrepõe ao caso do suicídio, que parece ser apenas a porta de entrada para trazer à tona recordações sobre lugares e pessoas.

A escrita de Modiano me agrada bastante, isso porque ela está longe de ser superficial; é o tipo de escrita que traz uma beleza e profundidade que não são tão fáceis de enxergar, a meu ver, dependendo muito do próprio leitor, que precisa ter sua mente livre para se deixar conduzir pelo quebra-cabeças que a obra apresenta. Apenas desse modo será possível enxergar a delicadeza de suas palavras e a importância das muitas reflexões que a obra nos traz.

Em termos de comparação com Remissão da Pena, que li antes desse, o primeiro me despertou maior impacto certamente por trazer sua infância à tona de modo tão singelo e peculiar – foi um livro que me encantou por completo. Com Flores da Ruína, demorei um pouco mais para me envolver com a história, mas, por fim, conclui a leitura mais uma vez com vontade de conhecer outras obras do autor.

floresdaruínaCAPA

Título: Primavera de Cão
Autor: Patrick Modiano
Editora: Record
Número de Páginas: 112
Ano de Publicação: 2015
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Aos dezenove anos, numa manhã da primavera de 1964, o narrador encontra o fotógrafo Francis Jansen. Ele trabalha em Paris para uma revista norte-americana, foi amigo de Robert Capa, encontrava-se com uma mulher chamada Colette Laurent que agora o procura incessantemente, guarda todas as suas fotos em três maletas, e desaparece sem deixar vestígios. Homem evasivo e misterioso, Jansen faz parte da galeria de tipos que, como só Patrick Modiano é capaz de descrever, prefere o silêncio e as reticências às palavras. O narrador retorna a bairros afastados, tenta reen-contrar pessoas perdidas, e busca romper a camada de silêncio e de amnésia ao seu re-dor. As silhuetas lhe escapam; depois de trinta anos, os rostos já não estão nítidos. Ele deseja recuperar o passado, para que se torne algo além de fragmentos distantes e ausen-tes. Tudo lhe causa uma sensação de irrealidade. E é na busca do passado, de Francis Jansen e de tantos outros, que sua identidade é rememorada.

 

“Certo dia, quando eu me assombrei com essa fingida desenvoltura, ele me disse que era preciso capturar as coisas com doçura e em silêncio senão elas se retraem.”

Pg. 88

 

Primavera de Cão apresenta a mesma estrutura narrativa dos outros dois livros e o centro da trama é um encontro ao acaso, em uma primavera, do narrador com o fotógrafo Francis Jansen, um homem enigmático que se aproxima através de uma sessão de fotos que faz do narrador e de sua namorada. A partir desse ocorrido, nosso narrador começa a frequentar o ateliê do fotógrafo e decide organizar todo o material disperso de Jansen, fazendo assim uma catalogação do mesmo. Entretanto, a relação entre eles é repentina e muito breve, pois Jansen acaba por desaparecer sem deixar notícias.

Anos depois, o narrador resolve reacender as lembranças dessa época com a intenção de escrever um livro e, para isso, ele revive lugares, pessoas e situações das mais variadas.

Dos três livros, esse foi o que li mais rapidamente, isso porque a narrativa, mais uma vez em primeira pessoa, é um pouco mais linear, pelo menos essa foi minha impressão. Contudo, o fato de já ter lido outros dois livros do autor também pode ter me ajudado a compreender melhor a história, por estar mais familiarizada com a escrita do mesmo.

O que me agradou bastante na trama, além dos cenários repletos de livrarias e cafés, é que nesse livro senti ter sido capturada pelas emoções que os personagens transmitiam: as reflexões sobre as coincidências da vida, sobre a infância, as descrições dos lugares, os arrependimentos, desconfortos, descobertas. Tudo isso, em meio a lembranças de conversas em cafés ou alusões há outros tempos, me fizeram divagar pelas minhas próprias lembranças.

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É incrível como o autor tem a capacidade de lidar com esse tipo de narrativa que envolve ficção e não ficção. Por vezes me perguntei até onde essa história seria ficcional, pois em várias ocasiões durante a leitura parecia que eu estava acompanhando relatos de uma vida, mas acabei por me deixar envolver sem tentar desvendar seus reais motivos de existência.

Remissão da Pena, Flores da Ruína e Primavera de Cão podem ser lidos separadamente, pois são histórias independentes, então, caso haja o interesse em algum dos livros em específico, não haverá nenhum problema em fazer sua leitura individualmente.

O autor foi uma grata surpresa para mim esse ano e não terei dúvidas quanto a futuras leituras de suas obras assim que tiver oportunidade.





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11 Respostas para "[Resenha] Flores da Ruína/ Primavera de Cão – Patrick Modiano"

Diane Ramos - 08, maio 2015 às (15:40)

Olá …

Adorei a sua resenha , você mostrou livros bem legais 🙂
Me interessei muito em ler “flores da ruina” parece ser um livro bem interessante …

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Edilza - 08, maio 2015 às (18:54)

Oi, Clívia!
Fiquei bem interessada nessa trilogia, por ter bastante reflexões e esse cenário ótimo com livrarias e cafés. ;D
Achei legal também essa parte das recordações.
Amei a resenha! Bjs <3

Aciclea Vieira - 09, maio 2015 às (10:14)

Essa narrativa parece ser bem interessante ,para começar o fato de misturar ficção e não ficção e como você elucidou e retratou a colocação dos fatos no desenrolar de todas as três histórias.Ja entrou com certeza em minha lista de metas de leitura.Bjs!!!

Fátima Do Coutto - 09, maio 2015 às (14:51)

Gostei da sua crítica em relação aos três livros, que tive a honra de traduzir. Considero o ofício de tradutor importantíssimo, pois serve como ponte para levar o pensamento/fala do autor para leitores que não dominam o idioma de partida. Por isso, sempre fico triste ao ver que nosso trabalho não é valorizado, quando o nome do tradutor não é mencionado nas resenhas.

Rudynalva - 11, maio 2015 às (21:57)

Clívia!
Interessante como as pessoas tem percepções diferentes sobre um mesmo autor. Ainda ontem li uma resenha de um dos livros e a pessoa ficou totalmente incerta quanto ao conteúdo, mesmo achando que a escrita é boa.
Sua resenha foi totalmente diferente, trazendo uma percepção mais sensível e se identificando com o enredo.
A mim me pareceu uma trilogia muito filosófica e interessante,
Semaninha cheia de luz e paz!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

Brenda Amorim - 13, maio 2015 às (21:59)

Não conhecia os livros, essa é primeira vez que vejo algo sobre eles, e sinceramente não me interessaram por não serem o meu gosto de leitura. Vou passar essa, mas obrigado pela dica.

Bia Felix - 17, maio 2015 às (14:04)

Oi Clivia, gostei das resenhas! Acontece que embora esses livros, por meio das suas resenhas, pareçam ótimas apostas para uma boa leitura acredito que precisam ser lidos no momento certo. Digo isso por causa do seu comentário sobre os livros exigirem concentração, devido ao emaranhado de informações.
De qualquer forma, mesmo não acreditando que este seja para mim o momento certo, anotei a dica.
Bjos.

Lary C - 18, maio 2015 às (18:14)

Oi, Clivia.
Eu não conhecia o autor, mas… Uau… Parece ser um estilo tão singular. Fiquei com muita vontade de ler, principalmente Flores da Ruína. Construção interessante do enredo. E eu adoro uma escrita mais profunda, que te faz parar alguns momentos para absorver a história.
Abraço!

Rosana - 19, maio 2015 às (15:27)

Gostei dessa mistura de ficção e não ficcção. Gostei dos pontos que você ressaltou na resenha, parece ser uma leitura bem interessante mesmo.

Patrini Viero - 29, maio 2015 às (01:07)

Não conhecia os livros ou o autor, mas achei muito interessante os motes de recuperar lembranças do passado, sempre trazendo para um objetivo específico na obra. Não é qualquer escritor que se sente bem fazendo isso e é preciso ter muito talento para ser bem-sucedido. Achei interessante também o fato de misturar elementos biográfico e ficcionais, o que eu sempre considero uma riqueza a mais num livro. Achei as tramas interessante, mas acho que eu iria gostar mais do lado investigativo a fundo da coisa, como boa fã de policial rs

Becca Martins - 31, maio 2015 às (12:59)

Oi Clivia,
Eu não gosto muito de livros deste gênero não. Acho que não combina comigo, é muito raro eu ler livros assim.
Tenho certeza que não vou animar a ler, o que é uma pena.
Eu tenho tantos livros para ler que se eu acrescentar uma na minha lista sabendo que eu não vou ler vai ser desnecessário.
Beijos.

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