O Sonhador é uma obra de ficção baseada na biografia e obra de Pablo Neruda.
A primeira coisa que me chamou a atenção no livro é a delicadeza com que foi escrito. Em terceira pessoa, a narrativa segue com a suavidade de um olhar infantil, fazendo da obra tão tenra quanto essa fase da vida. Nefatlí, que veio a se transformar em Pablo Neruda, é retratado como um garoto curioso, ingênuo, extremamente criativo, amável e apaixonado pela leitura, e todas essas características estão presentes na escrita de Pam Muñoz Ryan. A autora soube como desenvolver a história de maneira simples, ao mesmo tempo em que recheada de figuras de linguagem e de questionamentos, que fazem dela mais rica do que sua aparente leveza.
“Não fazia sentido. Como ele poderia ser distraído quando sua cabeça estava lotada de pensamentos?”
página 49
“Neftalí passou os dedos pelas capas. Seus olhos viajaram pela sala cheia de coisas, que era muito agradável. Não se importava se estava perdendo o bom tempo ao ficar dentro de casa. Não se importava se ler não deixasse seus músculos mais fortes. Não se importava se esse passatempo não aumentasse seu apetite.”
Também, foi incrível ver como Pam conseguiu conectar a vida do poeta com suas obras, criando cenas poéticas e capazes de transportar o leitor para o mundo particular de Neftalí. Ainda, o trabalho do ilustrador Peter Sís foi mais um fator que possibilitou o envolvimento e o encantamento com a leitura.
É interessante, além disso, observar o pano de fundo da história, responsável por transformar Neftalí em Neruda, como a rigidez da educação de seu pai e a repreensão sobre seu dom para a escrita. O cenário político do Chile do início do século XX também pode ser observado, mesmo que superficialmente, e entendido como importante fator na construção da personalidade e das escolhas de Neruda.
De modo geral, O Sonhador é uma leitura bastante rápida, porém muito proveitosa, tanto pelo encantamento provocado por ela quanto pela intrínseca conexão entre a riqueza e a simplicidade de suas páginas. Há, no final, um anexo com alguns poemas de Neruda e uma nota da autora. Nela, ela explica o surgimento de seu fascínio pela vida do poeta, principalmente ligado ao fato de Neruda conseguir tratar de assuntos quotidianos em suas obras, responsáveis por uma fácil identificação entre seus leitores, e ficou nítido, para mim, que Pam se baseou em sua admiração para criar seu livro. Aos que procuram por uma leitura delicada, interessante e sensível, O Sonhador é um prato cheio.
Oi Mi,
Nossa, adorei a resenha, principalmente porque esse era um livro que eu estava curioso para saber mais a respeito. Eu simpatizo muito com o Pablo Neruda, principalmente depois que assisti ao filme “O Carteiro e o Poeta”, que é uma adaptação do livro homônimo de Antonio Skármeta, eu estou querendo ler o livro em breve. Nesse livro o autor retrata a amizade do carteiro Mario Jiménez com o poeta e é ambientado numa casinha que é o refúgio do poeta em Ilha Negra, no Chile. Se você gostou da vida do autor, dá uma procurada depois, o livro é beeeem fininho.
Outra coisa que me agradou nesse foi saber que ele tem ilustrações, e só pela foto já vi que elas são lindas.
Beijos