Bela Maldade é um thriller psicológico que se desenvolve a partir da amizade surgida entre Katherine e Alice. A primeira linha do livro já entrega como a história terminará, mas isso não significa que ela não tenha suas surpresas.
Através da narrativa em primeira pessoa sob o ponto de vista de Katherine, acompanhamos, principalmente, o desenvolvimento da amizade das duas amigas, tendo, também, flashs do presente vivido por Katherine, cinco anos após ter conhecido Alice, e do passado, dois anos antes de Katherine ter se mudado para Sidney.
Ainda que, de antemão, já tenhamos uma noção do que ocorreu no passado de Katherine e já saibamos, em partes, como toda a história que ainda será apresentada se finaliza, nenhum desses pontos diminuiu meu envolvimento com a leitura. Eu poderia saber superficialmente o que aconteceu, mas os detalhes só foram entregues para mim aos poucos. Também, o final contou com uma revelação que realmente me surpreendeu.
O livro me deixou assustada não pela loucura de Alice, mas pelos sentimentos controversos de Katherine por ela: a montanha russa emocional oscilando entre gostar e desgostar da amiga; sentir-se horrorizada por suas atitudes e, em seguida, se culpar por isso, questionando sua conduta e fidelidade; a quebra da percepção do que seria um relacionamento saudável por ter-se acostumado ao doentio. Acredito que a autora explorou muitíssimo bem todo esse lado e fez jus ao caráter psicológico de seu livro, principalmente por essas emoções conflituosas terem me parecido reais.
Confesso que, em alguns momentos, o passado de Katherine me soou forçado e um pouco desnecessário, como se ela só tivesse se permitido viver a amizade de Alice por causa dele. Em meu ponto de vista, independentemente de um trauma ou não, sociopatas são perigosos exatamente por conseguirem conquistar e manipular os sentimentos das pessoas, mesmo aquelas que não têm um passado traumático em suas vidas e, dessa maneira, Katherine poderia igualmente ter se aproximado de Alice. Contudo, acabou sendo esse, também, o ponto para me surpreender ao final, então não sei dizer se realmente o desaprovei ou não.
Tentando me explicar melhor para não passar uma impressão errada: o passado em si de Katherine dá uma enorme carga emocional à história e contribui – e muito – tanto para sua personalidade atual quanto para os desdobramentos do enredo como um todo. O que me pareceu um pouco forçado foi a necessidade disso no livro, uma vez que, para mim, a parte mais interessante foi a exploração dos sentimentos de Katherine por Alice, esse poder exercido por sociopatas, parte essa que não depende dos fatos passados. Talvez eu esteja sendo injusta, mas fiquei com a sensação de que tudo, somado, acabou levando a história para algo mais distante da realidade, uma vez que são acontecimentos demais na vida de Katherine. Seu passado é provável, sua amizade com Alice e as consequências dela são prováveis. Agora, tudo com uma só pessoa?
Como disse, porém, acabou sendo esse o gancho da autora para conectar todo o enredo, fazendo dele surpreendente e abrindo a possibilidade para alguns questionamentos. Há um diálogo, próximo do final, em que ocorre uma ponderação de todo o ocorrido com relação à amizade de Alice e Katherine, e senti, nele, um pouco da provável reflexão da própria autora sobre o assunto. Senti como se ela tivesse aproveitado aquelas linhas para pensar sobre o tema e dividir seus pensamentos com os leitores, o que, consequentemente, também me fez pensar. Ao mesmo tempo em que parte da loucura se faz mais compreensível, há o perigo dela se tornar justificável – o que, novamente, me fez questionar a existência do passado de Katherine na história.
Em suma, Bela Maldade não foi um livro que me deixou estarrecida ou que me fez considerá-lo excelente ao final, mas que me agradou bastante e, principalmente, conseguiu me perturbar, ainda que levemente, como um thriller psicológico deve fazer.
uhaush resumindo , é meia boca mas é legal de ler. – Marcelo Lima