Antes mesmo de chegar à metade, eu já imaginava que o livro estaria entre meus favoritos. Faz muito tempo desde que reli P.S. Eu Te Amo pela última vez, então não me recordava da narrativa da autora. Talvez, ela não tenha me marcado ou chamado tanto a minha atenção, ficando em segundo plano se comparada à história.
Contudo, dessa vez, senti como se as palavras de Cecelia me enfeitiçassem. Não apenas me envolvi rapidamente com a história, como também fiquei admirada com sua escrita. Cada frase parece ser bem trabalhada, sentimentos e ações se mesclam perfeitamente entre si e, também, com impressões, divagações e descrições. Não posso, também, deixar de citar o humor irônico presente principalmente nas falas de Tamara. Não é um humor evidente, nem daquele que te faz gargalhar, mas é presente e certamente contribui de maneira favorável com o livro.
Um dos pontos que mais chamou minha atenção desde o início foi a sensibilidade da autora para construir suas personagens. A história é narrada em primeira pessoa pelo ponto de vista de Tamara, uma garota de 16 anos. Minha primeira surpresa aconteceu quando descobri sua idade; seus pensamentos e análises sobre sua família nos primeiros parágrafos me fizeram crer que ela seria muito mais velha. Depois, notei que a garota narrava uma história já acontecida e, portanto, quando exerce o papel de narradora, situa-se em um período futuro, o que a diferencia de seu papel de personagem enquanto o enredo se desenvolve. Dessa forma, ainda que seu papel de narradora se mescle ao seu de personagem, há uma nítida diferença entre ambas, separadas pela maturidade adquirida pela narradora após a vivência pela qual a personagem passará.
Não apenas Tamara foi bem construída, a ponto de haver essa distinção entre seus momentos, como sua visão sobre todos os personagens também foi. Ainda que vistos pelo seu ponto de vista, podendo ser influenciado pela sua opinião e sentimentos sobre cada personagem, é possível construir uma imagem sobre o caráter de cada uma não apenas por causa da narração de suas atitudes, mas também pelas próprias reflexões de Tamara sobre elas.
Até mais da metade do livro, eu estava achando a leitura interessante, estava fascinada pela escrita da autora e estava curiosa para compreender os mistérios sugeridos desde o início da história. E então, tornou-se impossível parar de ler quando atingi a proximidade das 100 páginas finais. O ritmo assumido pelo enredo é frenético conforme as revelações são feitas e, ainda que eu já tivesse suposto parte delas, não pude deixar de me sentir surpreendida ao final.
Vi alguns comentários nas redes sociais de pessoas que acharam o início da história tedioso e, também, que não gostaram de Tamara por suas atitudes. De fato, o enredo se desenvolve de maneira mais lenta no início, tendo-se em conta que a função das primeiras páginas é a de apresentar as personagens para que possamos compreender o cenário e a situação em que vivem. Ainda, Tamara não é uma adolescente fácil de lidar; por toda sua vida foi mimada e teve um relacionamento conflituoso com seus pais, e sua atitude natural com os outros é a de ser respondona e a de magoar, principalmente quando ferida. É esse seu mecanismo de defesa. Entretanto, Cecelia expõe que as atitudes de Tamara não necessariamente condizem com o que ela tem por correto.
Levando-se em conta esse ritmo mais lento e a própria personalidade da protagonista, acho compreensível que o livro não agrade desde o início como fez comigo. Em minha opinião, todas essas características contribuíram ainda mais para o meu encantamento. Acho incrível quando as personagens são humanas dessa maneira, compostas por virtudes e falhas, além de ter me deliciado com a exposição do panorama do enredo, tanto por ter apreciado a escrita da autora quanto por ter sido possível fazer as primeiras conjecturas sobre cada personagem.
Acho que já deixei claro o quanto o livro me encantou. De qualquer maneira, ressalto: me apaixonei tanto pela sua estrutura quanto pela história em si. Há uma interessante reflexão surgida pelo paralelo entre o “hoje” e o “amanhã”, mas não foi essa a que mais me agradou, e sim aquelas sobre as próprias pessoas e suas atitudes durante a vida. O Livro do Amanhã não foi, para mim, um livro sobre um misterioso diário, mas sim sobre uma garota em uma busca não intencional sobre si mesma. O diário é apenas uma ferramenta para isso e um artifício interessante no enredo como um todo.
Aos que gostam de histórias bem construídas e escritas, que mesclam dramas e mistérios, suavizados por pitadas de romance e de humor, O Livro do Amanhãé um prato cheio e totalmente indicado.
Eu estou com vontade de ler esse livro. Acho a capa dele muito bonita e a sinopse também me interessa bastante. Já li Ps: eu te amo mas não gostei tanto. Preferi o filme, acho que deu pra sentir mais no filme do que no livro. Mas quero ler outros livros da autora. O livro do amanhã está na minha listinha e como você falou com tanto carinho da autora e do livro acho que vou comprar. 😀
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