Post Surpresa da Semana da Literatura Fantástica: Por que ficção? - por Artur Prado - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
14

jul
2012

Post Surpresa da Semana da Literatura Fantástica: Por que ficção? – por Artur Prado

Oi gente!
Para o post surpresa dessa semana, convidei meu amigo e escritor Artur Prado!
Que tal olharmos para a ficção pelos olhos de alguém que escreve sobre ela?

Invariavelmente, a primeira pergunta que me fazem quando digo que escrevo ficção é “por que ficção?”. Grande parte dos meus amigos atua na área de TI (Tecnologia da Informação) – são garotos de programa como eu, ou atuam em áreas relacionadas – e é difícil para eles entender o que faz alguém gastar algumas horas lendo um livro que não é técnico. “Afinal, se for para ler que seja algo produtivo, que me ensine alguma coisa”, é o que dizem.

Por que, então, ler e escrever ficção? Por que adernar para os mundos da fantasia? Manuel Bandeira respondeu essa para nós:
“Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei”

Você está na livraria e pega das prateleiras um livro que chamou sua atenção. A sinopse diz que é um livro que irá mudar sua vida e ensinar sobre lealdade, coragem e companheirismo. Você automaticamente o coloca de volta. “Não quero ler esse livro de auto-ajuda”. Em seguida, muda de sessão e dá uma boa olhada em um dos famosos livro da J. K. Rowling, Harry Potter. Conheço poucas pessoas que leu Harry Potter e não gostou, as chances são grandes de que você (esse você hipotético da minha história, que nunca leu os livros da Rowling) vai gostar.
O primeiro livro, o de “auto-ajuda”, nos repele porque é como se alguém estivesse tentando nos ensinar algo que é parte de nós, costumamos nos sentir incomodados com outros tentando se meter em nossas vidas. Porém, os livros de Harry Potter não falam das mesmas coisas? Lendo as mensagens de forma impessoal, absorvemos com mais facilidade aquilo que os livros têm a nos ensinar.
Cada vez que acompanhamos a Jornada do Herói, compartilhamos do elixir que ele ganha ao vencer a provação final. O verdadeiro prêmio de um herói não é algo físico, mas aquilo que muda dentro dele ao longo da jornada. Nós também sofremos essa mudança durante a leitura. Assim, livro após livro, aprendemos e melhoramos com os personagens, e essa é a grande beleza da ficção.
Abro apenas um parênteses para lembrar que a Jornada do Herói não é, necessariamente, a estrutura de uma história com guerras, batalhas e coisas do gênero. Um herói é qualquer pessoa que aceita um chamado e parte para uma jornada que vai mudar sua vida para sempre, tragetória que Joseph Campbell encontrou em todas as grandes histórias e mitos da humanidade. Um herói pode ser um personagem de um romance ou um chick-lit, por exemplo.

Quando começamos a escrever nos deparamos com uma máxima que é muito difundida, mas pouco explicada: mostre, não conte. Li e ouvi esse conselho diversas vezes, mas poucos eram aqueles capazes de me explicar o que isso queria dizer. É basicamente isso que distingue a ficção dos livros técnicos. As mensagens nos são mostradas e nós as absorvemos por nos identificarmos com os personagens, com a trama ou com a situação – ou com alguma combinação desses fatores. O livro está no mostrando algo ao invés de nos contar, nos fazendo mergulhar em um mundo que nem sabíamos que poderia existir.

Para podermos escrever textos de qualidade temos que ter em mente três coisas: conhecer o assunto, o público alvo e as técnicas de escrita. Os dois últimos são abrangentes e fogem do tema deste post, mas há algo sobre o primeiro do qual eu gostaria de falar.
O mundo medieval sempre me inspirou e é a temática de fantasia que mais me atrai. É muito bom escrevermos sobre aquilo de que gostamos e isso faz toda a diferença. Porém, não é por se tratar de uma história fictícia em mundos fantásticos que podemos inventar qualquer coisa. Ficção exige pesquisa, dá trabalho e precisa ser refinada diversas vezes até estar pronta. Para escrever uma história em um mundo feudal, estou sempre lendo livros sobre a Europa medieval, sobre cavaleiros e seus costumes, sobre navegações, etc. Um livro de ficção e fantasia precisa ter um pé na realidade! Sem isso, ele se torna inverossímil e dificilmente fará com que um leitor se identifique com ele. A menos que a fantasia possa se relacionar com a realidade das pessoas que leem a história, ela não vai funcionar.
Em outras palavras, ficção e a fantasia são extensões da realidade e nos ajudam a entender melhor o mundo em que vivemos, bem como nos dão ensinamentos e energia para encararmos a vida de cabeça erguida. Afinal, não é o destino que importa, mas a jornada, e ela pode ser mais do que especial – pode ser fantástica.

O maior conselho que se pode dar para alguém que pretende escrever é o mais óbvio de todos, e ainda assim muitas pessoas não o levam à sério. Leia. Leia muito, leia todos os dias (e escreva, ao menos um pouco, todos os dias também). É da leitura que se extrai vocabulário, que se reconhece técnicas novas e observa como contornar algumas dificuldades. Leia o tempo todo, torne os personagens dos livros os seus melhores amigos.

Leia.
Talvez eu não seja a melhor pessoa para dar conselhos sobre isso uma vez que não publiquei nenhum livro (o que, espero, vai mudar em breve. O Legado de Joran já está nas editoras para avaliação!), mas esse é também um conselho que quase todos os escritores famosos dão em sua lista de “como escrever um livro”. Não leia apenas sobre aquilo que vai escrever. Vai fazer um livro de ficção? Leia história, filosofia, sociologia, psicologia… Aprenda, adapte, teste e inove.
Não sou blogueiro, mas ler e escrever são atividades tão importantes para mim que ocupam um grande espaço na minha vida. Fiquei muito feliz quando recebi o convite da Aione para publicar aqui no Minha Vida Literária por ser, para mim, um dos melhores blogs de literatura que conheço. Não é fácil brilhar no meio de tantos concorrentes, mas este blog em especial parece fazer isso naturalmente. Muito brigado, Aione!




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6 Respostas para "Post Surpresa da Semana da Literatura Fantástica: Por que ficção? – por Artur Prado"

Lili - 14, julho 2012 às (21:35)

É verdade, esse blog é o meu preferido dentre os de literatura.
Artur, adorei seu post e te desejo sorte para logo podermos estar comprando seu livro.

Você me conquistou com a citação de Manoel Bandeira. Adoro ele. E isso fez com que você ganhasse minha admiração com todas as palavras que se seguiram (hehe).

Bom fim de semana (e boa viagem, Mi)
liliescreve.blogspot.com

leitoracompulsiva - 14, julho 2012 às (23:12)

Oi Artur,
Adorei o seu texto e fiquei muito feliz de saber que seu livro já está pronto! Vou ficar na torcida!
Sobre o que você falou sobre livros de auto-ajuda e livros de ficção, acho que a grande questão é como tratar de um tema sem tocar na ferida das pessoas. Quando lemos livros de auto-ajuda, já partimos da premissa que temos um problema na nossa vida. Isso deprime! É muito mais confortável aprender observando os erros alheios do que olhar para nossos próprios erros! Acho que isso é da natureza humana! hehehehehe
Beijos
Camis – Leitora Compulsiva

JennyCullen - 14, julho 2012 às (23:42)

Um dos melhores posts que já li,sem dúvida!
É mesmo muito bom ler ficção,eu amo o gênero fantasia,e gostei da forma como mencionou que a ficção nos ensina a mesma coisa que a auto-ajuda,mas de uma maneira que nos envolve sem se ‘meter em nossas vidas’.
Eu sigo esse conselho,’Se quer escrever melhor,leia. Leia.’ Eu não escrevo livros,sou só uma estudante do ensino médio,mas me dou bem na escola porque sei escrever bem de tento que eu leio (o que é raro hoje em dia,uma pessoa de 15 anos gostar de ler um livro,ainda mais uns de 400 paginas),e se alguém me perguntar porque escrevo tão bem e me saio bem nas leituras orais,eu teria orgulho de mostrar a minha estante.

Artur,parabéns pelo post,ficou muito bom mesmo. E boa sorte na sua jornada como escritor,espero que dê tudo certinho com seu livro!

Beijooss,

Jennifer

Ana Ferreira - 16, julho 2012 às (04:11)

Essa citação do Manuel Bandeira não poderia ter caído melhor ao contexto. Gostei muito, a propósito.
Artur, achei o seu texto extremamente interessante e verdadeiro, para todos nós, leitores. Posso estar errada, mas, no que me consta, nunca li um livro de autoajuda. Simplesmente porque o gênero repele as crenças e as nossas manias do ego, tentando nos ensinar a ser algo diferente daquilo que somos.
A fantasia e a ficção podem fazê-lo eventualmente, no entanto de maneira intrínseca, sutil e sempre mesclada às maravilhas da imaginação humana.
Ler abre muitas portas. Nada como uma mente arejada de conhecimento e aprendizado, não?
A propósito, boa sorte com a avaliação do seu livro pelas editoras. Não desista do seu sonho =)
Beijos!

Artur - 16, julho 2012 às (18:24)

Muito obrigado a todas pelos comentários, fiquei muito feliz. Confesso que não estava muito seguro de que o texto estava bom, a Aione que me convenceu a mantê-lo.

Lili, espero que em breve você possa mesmo ter meu livro em mãos! É uma longa jornada conseguir uma publicação e fazer um livro dar certo, o importante é não desanimar. Manoel Bandeira é demais, não é? Não conhecia seu blog, vou acompanhar de agora em diante.

Camila, é mesmo natural do ser humano achar que o problema é sempre com os outros. Pelo menos a ficção ajuda a quebrar algumas barreiras nesse sentido. Obrigado pela torcida, vou mantendo você informada! Nos vemos no próximo Vap.

Jenny, muitíssimo obrigado! Ler faz mesmo muita diferença na nossa vida, pena que as pessoas não percebam isso, normalmente não somos incentivados a ler desde pequenos. Fiquei curioso para ver sua estante agora. Obrigado pela torcida pelo meu livro também!

Ana, fique bem feliz com seu comentário! Acho mesmo que ler abre muitas portas, bem mais do que a gente imagina. A Fantasia ajuda a gente ver as coisas de uma forma bem menos intrusiva. Seu blog é bem interessante! Você tem toda razão, “o mundo pertence àqueles que acreditam nas belezas de seus sonhos”

Beijos!

Lucas Martins - 17, julho 2012 às (05:56)

O Artur é escritor estreante, Mi? Não me lembro de ter ouvido falar dele..
Enfim.
Eu adorei a post! Interessante essa visão de quem escreve literatura fantástica. Eu gosto de fantasia, nada em demasia, mas alguns livros me chamam atenção. Nesse estilo não gosto de livros estilo Senhor dos Anéis e etc.. realmente não costumo me interessar muito.
Mas adorei o texto do Artur, ficou ótimo!
Beijão!

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