Sobre o Livro
Título: Se A Rua Beale Falasse
Título original: If Beale Street Could Talk
Autor: James Baldwin
Tradução: Jorio Dauster
Editora: Companhia da Letras
Número de Páginas: 224
Ano de Publicação: 2019
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Se A Rua Beale Falasse é o quinto romance de James Baldwin. Publicado originalmente em 1974, aborda questões como o racismo e as injustiças sociais ao narrar a trajetória do jovem casal Tish e Fonny.
A história começa com Tish indo visitar Fonny cadeia e dando a ele a notícia de que está grávida. Fonny foi preso injustamente, acusado de estuprar uma latina, e, desde então, Tish e sua família se mobilizaram para provar a inocência do rapaz. Mesclando presente e passado, o leitor acompanha tanto o desenrolar da saga que busca a libertação de Fonny quanto o desenvolvimento da relação do casal até o ponto em que ele foi preso.
Embora a Rua Beale apareça no título da obra, ela não é seu cenário. A história se passa nos bairros negros de Nova York, representando a cultura, os hábitos e os aspectos sociais dessa população. A Rua Beale, por outro lado, fica no sul do país, no Tennessee, e é o berço do Blues, estilo musical considerado o pai dos demais afro-americanos. Foi nessa rua, também, que Martin Luther King foi assassinado, de maneira que o título por si só antecipa duas características do romance: a musicalidade e a luta negra. A primeira aparece não só nas muitas referências musicais, mas na própria narrativa, cujo tom melancólico remete ao próprio Blues. A segunda está no cerne do enredo como um todo.
As questões ligadas ao racismo são várias: do corpo hipersexualizado da mulher negra ao colorismo, que garante tratamentos sociais distintos a negros de tons de pele diferentes, sendo os mais embranquecidos menos injustiçados; do mito do “homem negro estuprador” às diferentes condições de vida entre brancos e negros, além da própria questão do encarceramento. Dessa maneira, James Baldwin tocou em temáticas essenciais no contexto em que a obra foi escrita, considerando todo o movimento negro político dos anos 1960 e 1970, período no qual, também, passou-se a questionar a eficácia do modelo das prisões nos EUA.
Contudo, apesar da forte presença dos temas sociais, Se A Rua Beale Falasse é, acima de tudo, uma história de amor. O fato de a narrativa se desenvolver a partir das memórias de Tish garante um aspecto lírico a ela — a melancolia do Blues —, uma vez que as lembranças da personagens estão atreladas aos sentimentos que ela tem por Fonny e à angústia de seu atual estado de vida. E o final da obra reforça a ideia de luta e paixão: ao mesmo tempo em que há a presença do ciclo da vida, na qual nascimento e morte são reunidas, há também um sopro de esperança e de compensação dos esforços sofridos.
Em linhas gerais, Se A Rua Beale Falasse me conquistou não apenas pela temática retratada, mas pela forma com que James Baldwin a desenvolveu, considerando as tantas passagens belamente escritas e a própria estrutura narrativa. Apesar do final parecer um pouco corrido, ele complementa muito bem o tom assumido em todo o romance de “esperança tragicômica”, termo cunhado pelo filósofo Cornel West e presente no excelente posfácio de Márcio Macedo.
Sobre o Filme
A adaptação de Se A Rua Beale Falasse para os cinemas em 2018 rendeu ao filme três indicações para o Oscar, além de para outros prêmios, vencendo na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante com Regina King, que interpreta Sharon, mãe de Tish.

Criador: Tatum Mangus / Annapurna Pictures | Direitos autorais: ©2018 Annapurna Releasing, LLC. All Rights Reserved.
O tom melancólico e musical da narrativa de Baldwin se faz presente nas telas tanto pelas escolhas de fotografia quanto pela condução do enredo como um todo, que se centra nos dramas pessoais enfrentados pelas personagens. São muitos os takes mais próximos dos atores, focando em trocas de olhares e toques, com a trilha sonora taciturna e emocional de fundo. Contudo, se no livro há a conexão com a musicalidade negra, no filme a composição é branca, de Nicholas Britell, que já havia trabalhado com o diretor Barry Jenkins em Moonlight.

Imagem: Divulgação
O que destoa bastante do original é o final. Se no livro há um importante acontecimento ligado ao destino de um dos personagens secundários, além da própria conclusão dada ao casal, o filme parte para outro caminho, omitindo o primeiro aspecto e modificando o destino de Tish e Fonny. Assim, o fim da adaptação reforça a mensagem em nível de injustiça pessoal e do próprio melodrama desenvolvido.

Imagem: Divulgação
Em termos de temáticas, o racismo continua sendo central na história, mas é menos desenvolvido do que no livro. Se a obra de Baldwin abrange diversos aspectos do preconceito racial, o filme foca mais na condenação injusta de Fonny e na questão do privilégio branco, sem entrar em tantos detalhes como o colorismo, a representação sexual etc, que aparecem no romance.

Imagem: Divulgação
De modo geral, a adaptação é bastante fiel ao original em termos de desenvolvimento de história, exceto por seu fim. É possível reconhecer no longa diversas das passagens escritas por Baldwin, tanto em relação ao que ocorre — e como ocorre — no livro quanto em relação à narrativa. O voice-over de Tish traz passagens da obra literária, assim como tantos dos diálogos trocados entre as personagens também variam dos escritos de Baldwin. É um filme de ritmo não muito acelerado e de aspecto bastante emocional, interessante sobretudo em conversa com o romance que o originou, em termos de se pensar como a linguagem de um foi transposta no outro.
Olá,
Não conhecia nem o livro nem o filme, mas só de saber que tem a Regina King, já ficou louca para assistir.
A história parece ser pesada, tratando de racismo e estupro, entre outros assuntos, mas é muito bom ver filmes com negros tendo destaque.