Título: Tudo que a gente sempre quis
Título original: All We Ever Wanted
Autor: Emily Giffin
Tradução: Marcelo Mendes
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 304
Ano de Publicação: 2019
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Casada com um membro da elite de Nashville, Nina Browning leva a vida com que sempre sonhou. Recentemente, o marido ganhou uma fortuna vendendo seu negócio de tecnologia e o filho adorado foi aceito em Princeton. No entanto, às vezes Nina se pergunta se ela se afastou dos valores com que foi criada em sua pequena cidade natal.
Tom Volpe é um pai separado que se divide entre vários empregos para criar a filha, Lyla. Ele finalmente começa a relaxar depois que a menina ganha uma bolsa de estudos na escola de maior prestígio de Nashville.
Filha de uma brasileira e de origem menos abastada, Lyla nem sempre se encaixa em meio a tanta riqueza e privilégios, mas, na maioria das vezes, ela é uma adolescente típica e feliz.
Então uma fotografia, tirada em um momento de embriaguez em uma festa, muda tudo. À medida que a imagem se espalha, as opiniões da comunidade se dividem.
No centro das mentiras e do escândalo, Tom, Nina e Lyla são forçados a questionar seus relacionamentos mais íntimos, percebendo que tudo que sempre quiseram talvez não fosse tão perfeito assim.
Tudo Que A Gente Sempre Quis marcou a estreia de Emily Giffin na editora Arqueiro no Brasil e meu retorno às suas obras. Apesar de muito fã dos livros da autora, fazia anos desde meu último contato com algum deles.
O casamento de Nina fez com que ela ascendesse socialmente, e o sucesso do marido com os negócios colocou o casal dentro da elite de Nashville. Ela, porém, vem repensando suas escolhas desde a estrondosa mudança do padrão de vida de ambos, uma vez que ela passou a reconhecer no marido características que antes não a incomodavam. Quando, em uma festa, seu filho se envolve em um conflito iniciado por uma foto tirada de Lyla, jovem bolsista da escola, ela, a garota e Tom, pai dela, se verão em meio ao escândalo, questionando tanto quem são quanto suas próprias relações.
Em primeira pessoa, os capítulos se alternam entre as perspectivas de Nina, Tom e Lyla, acompanhando principalmente a primeira. Não só a escrita da autora se mostra versátil em representar as diferentes vozes dos personagens, como também se faz completamente envolvente. Devorei Tudo Que A Gente Sempre Quis em pouco mais de um dia e não queria me afastar da leitura em momento algum. Vale ressaltar aqui o ótimo trabalho de tradução de Marcelo Mendes; além de transpor para o português a agilidade e o envolvimento da escrita de Emily Giffin, o tradutor também conseguiu manter na edição brasileira algumas das diferenças linguísticas que aparecem no texto original: há termos e vocábulos que são usados pelos personagens em determinados momentos para marcar diferenças etárias e sociais, e tais passagens tiveram o equivalente em português de forma a transmitir a mesma ideia ao longo da leitura.
O que mais gosto nos livros de Emily Giffin é a forma de como ela desenvolve bem os conflitos do enredo e suas personagens. As situações em suas obras costumam ser multifacetadas e complexas, demonstrando o quanto a vida em si se desdobra em tons de cinza ao invés de um prático preto ou branco. O que as personagens vivem nos causa reflexão e, principalmente, nos coloca em suas posições, buscando compreender as limitações de cada uma ao invés de assumirmos uma posição de julgamento. E isso, é claro, está presente em Tudo Que A Gente Sempre Quis, feito com maestria pela autora, especialmente pela forma de como os próprios papéis que os protagonistas assumem são também colocados em tensão: Nina, por exemplo, olha para o filho como mãe, mas seus valores como mulher e cidadã entram diretamente em conflito com isso. E eu adorei ver toda a reflexão que a personagem faz sobre si, indicada desde o título e pela excelente capa da edição brasileira: será que tudo aquilo que sempre quisemos é de fato o melhor para nós? Aquilo que sempre quisemos ainda conversa com quem nos tornamos? Com o passar do tempo, o quanto abandonamos as coisas que um dia quisemos?
Tudo Que A Gente Sempre Quis é, acima de tudo, um livro extremamente atual. Na época das últimas eleições nos EUA, em 2016, Emily Giffin postou uma foto no dia seguinte à vitória de Trump mostrando o quão devastada ela estava com a situação. Assumidamente “viciada por política”, como indica sua biografia no Instagram, a autora incorporou na trama do romance muitas temáticas que conversam com a situação atual não só dos EUA, mas também do Brasil, em certos aspectos, e outros países ocidentais. Machismo, xenofobia e desigualdade social são alguns dos tópicos mais centrais, debatidos sempre da posição de privilégio assumida pela protagonista — e mais um ponto positivo da leitura. O contexto do livro como um todo diz respeito a um grupo específico populacional e a autora soube situar muito bem essa posição que também é sua dentro desse círculo, além de demonstrar a posição desse círculo na sociedade como um todo. Minha sensação foi de que o romance foi uma resposta de Giffin a esse momento social e político tão inflamado.
Em linhas gerais, Tudo Que A Gente Sempre Quis foi um dos melhores livros que li esse ano tanto por conta do envolvimento que ele me proporcionou, quanto — e principalmente — pelos temas debatidos e pela forma de como eles foram discutidos. Foi ótimo relembrar o porquê de eu ser fã de Emily Giffin e de constatar que seu talento, ao que tudo indica, se intensificou com o passar do tempo.
Aione!
Faz tempo também que não leio um livro da autora e pelo visto, esse é bem completinho, ainda mais que faz críticas sobre os problemas que as nacionalidades passam em relação aos problemas em seus países.
Quando essa questão de julgarmos o comportamento dos outros e quando a história é conosco e agimos diferente, achei importante ser abordada no livro, assim podemos nos questionar.
Livro parece ótimo.
cheirinhos
Rudy