[Vídeo Resenha] O Ódio Que Você Semeia – Angie Thomas - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
28

fev
2019

[Vídeo Resenha] O Ódio Que Você Semeia – Angie Thomas

Título: O Ódio Que Você Semeia
Título original: The Hate U Give
Autor: Angie Thomas
Tradução: Regiane Winarski
Editora: Galera Record
Número de Páginas: 378
Ano de Publicação: 2017
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Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo.
Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos – no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.

Resenha Em Vídeo

 

Resenha Escrita

Eu nem sabia que ia escrever essa resenha até começá-la, porque minha ideia inicial era apenas fazê-la em vídeo. Mas depois de me acalmar de tanto chorar, sentei para anotar as ideias e sentimentos despertados pela leitura, a fim de me organizar para a gravação futura, e, quando dei por mim, as palavras estavam saltando.

O Ódio Que Você Semeia é o livro de estreia de Angie Thomas. Eleito como Melhor Young Adult e Melhor Romance de Estreia pelo Goodreads Choice Awards em 2017, e o Melhor dos Melhores na premiação de 2018, foi adaptado para as telonas pela Fox. Apesar de todo seu sucesso, o filme quase não foi distribuído pelos cinemas nacionais — o que corrobora a própria mensagem transmitida por Starr.

Starr é uma jovem de 16 anos dividida entre dois mundos diferentes: mora na periferia com a família e estuda nos subúrbios, onde precisou aprender a não ser “a garota negra do gueto”. Tudo em sua vida entra em conflito quando testemunha a morte injusta de seu melhor amigo por um policial, gerando consequências diretas a ela e aos que a cercam.

Não é difícil se envolver com a leitura. A escrita de Angie Thomas é simples, direta e sem floreios, retratando muito bem a voz de Starr: a jovem sabe identificar o que realmente importa e vai direto ao ponto em seus argumentos. Vale o destaque ao trabalho de tradução de Regiane Winarski, que consegue passar muito bem para o português as modificações linguísticas na narrativa durante a transição entre os “mundos” de Starr. Mas mais do que a escrita, é a força que emana do livro o que realmente nos envolve. A história já começa intensa e revoltante e essa característica só se intensifica no passar de páginas. O Ódio Que Você Semeia traz um tapa na cara atrás de outro.

A protagonista, para começo de conversa, é muito bem construída, já que são várias as camadas de conflitos que a compõem e fazem dela alguém real. Ao mesmo tempo que sofre com o luto pela perda do melhor amigo e com toda injustiça da situação, Starr também encara os conflitos de não sentir pertencer por inteiro a nenhum dos lugares que habita: em seu bairro, é a garota que foi estudar na escola dos brancos; na escola, é a garota negra do gueto. Com isso, o conflito também se estende às suas relações, já que há partes dela que dificilmente poderão ser divididas com as pessoas que fazem parte ou de um mundo ou de outro. Assim, ela é uma jovem em luta por uma causa maior, mas é também uma adolescente buscando entender quem é e qual seu lugar no mundo.

Nada disso seria possível sem a sensibilidade de Angie Thomas em transmitir os conflitos ao leitor. A autora, inclusive, pontua com maestria diversas passagens explicitando as muitas formas assumidas pelo racismo — temática central do livro —, ao mesmo tempo que consegue contrabalançar o peso de O Ódio Que Você Semeia com momentos mais leves e ternos. A família de Starr, por exemplo, é completamente apaixonante e vê-la tão rodeada de amor serve também como um conforto para nós, que lemos sua vida. Não só por isso, há muitos diálogos travados entre seus familiares e amigos mais próximos que me arrancavam risos, mesmo que, instantes antes, eu estivesse entre as lágrimas.

O que posso dizer é que O Ódio Que Você Semeia é impactante e necessário. Ao ser direcionado a um público jovem e em formação, a autora diz a ele a relevância e a importância das vozes que o formam e de quão mais sonoras elas são quando unidas. E, embora seja um Young Adult, esse é um livro para todos, independentemente de preferências literárias, porque o que importa é a mensagem que ele traz ao representar um mundo tão pouco representado. Como branca, me senti envergonhada em diversas passagens simplesmente pela consciência de gozar de privilégios oriundos apenas da cor da minha pele. Como ser humano, me revoltei em cada virar de página. Foi impossível não terminar o livro aos prantos, ainda mais ciente de quão necessárias — e urgentes — são as mudanças sociais. Porém, há um alívio: se eu estou resenhando essa história, assim como muitas outras pessoas já fizeram isso, é porque ela encontrou sua voz para chegar até nós.  





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2 Respostas para "[Vídeo Resenha] O Ódio Que Você Semeia – Angie Thomas"

Ana I. J. Mercury - 28, fevereiro 2019 às (22:03)

Oi, Aione!
Aii como eu quero esse livro!
Esse livro parece ser muito maravilhoso e ao mesmo tempo doloroso, complicado de ler.
É sempre triste e difícil ler sobre preconceitos =(
Mas é muito bom ter um livro forte assim, que mostra abertamente esses conflitos, precisamos através da leitura conscientizar, sempre!
bjs

Angela Cunha - 01, março 2019 às (07:47)

Eu não li o livro, ainda. Mas vi a adaptação duas vezes e com certeza, foi um dos meus melhores filmes no ano passado.
A autora soube colocar numa história dita até comum, algo ou muitos algo de valiosos.
A família de Starr é um show à parte, tanto pela união, cumplicidade, mas também por se apoiarem, apesar das diferenças tão nítidas.
Um grito silencioso ecoa por todo o filme e acredito que pelo livro também.
Infelizmente não será o último livro ou filme sobre o assunto, já que o racismo anda voltando com tudo, você mesma citou o caso do Extra e teve outro num shopping esta semana ;/
Ouviremos e sentiremos na alma tudo que ainda está por vir.
Com certeza, quero muito ler o livro!
Beijo

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