[Resenha] Vox — Christina Dalcher - Minha Vida Literária
Minha Vida Literária
19

dez
2018

[Resenha] Vox — Christina Dalcher

Título: Vox
Título original: Vox
Autor: Christina Dalcher
Tradutor: Alves Calado
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 320
Ano de Publicação: 2018
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O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo…
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
…mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.

Vox chamou minha atenção desde que soube de seu lançamento: uma distopia situada em um futuro próximo nos EUA que além de falar sobre a opressão às mulheres ainda se dá em um volume único com certeza me deixaria intrigada. Esse é o romance de estreia de Christina Dalcher, linguista que já publicou também diversos contos.

Após a eleição de um governo de extrema-direita ultra conservadora nos EUA, as mulheres — e todos aqueles que fogem do ideal de “Puros” — perderam seus direitos. Elas, agora, só podem falar até 100 palavras ao longo do dia, não podem trabalhar fora, recebem estudos limitados e voltados exclusivamente ao regimento do lar, assim como devem obedecer aos homens e se dedicarem às próprias famílias. Então, quando a neurolinguista Dra. Jean McClellan é convocada para trabalhar em uma missão por ser uma das únicas profissionais da área capacitadas nesse sentido, ela se vê na oportunidade de lutar por sua voz e pela de todos aqueles que foram silenciados.

Vox me despertou diversas sensações: não só me vi revoltada com as muitas das situações expostas na leitura quanto senti receio sobre o que eu lia. Apesar de estarmos falando de uma situação extrema e hipotética, foi impossível não estabelecer os pontos em comum entre a ficção e a realidade, especialmente no que diz respeito a como tudo começou na história e aos muitos dos pensamentos propagados na leitura. Aliás, esse foi um dos trunfos de Christina Dalcher, já que ela partiu de problemas e ideais distorcidos encontrados em nossa sociedade ocidental para levá-los ao extremo, mostrando as consequências de um posicionamento autoritário, opressor e centrado em um único modelo aceito de sociedade.

Não apenas pela temática e pelas problemáticas expostas, Vox conquista por sua própria construção. A narrativa em primeira pessoa nos torna mais próximos de Jean, o que permite um rápido envolvimento com a leitura. Ainda, os capítulos curtos dão agilidade ao enredo, fazendo com que o leitor não sinta vontade de desgrudar das páginas. Não demorei a me sentir na pele da protagonista e adorei como a autora trabalhou seus conflitos emocionais, principalmente no que diz respeito ao que ela sente em relação aos homens da sua família. As personagens, inclusive a própria Jean, não são perfeitas, e essa gama de aspectos torna tudo mais palpável, mesmo que o contexto da trama seja mais distante por ser distópico. Também, adorei enxergar a crítica a quem Jean representava, já que no alto de seus privilégios, ela considerava exagerado o posicionamento de quem lutava pelas minorias. Agora, sendo ela uma minoria, ela compreende o que antes criticava, servindo de exemplo para possibilitar uma abertura na visão de quem está no mesmo lugar que ela antes ocupava.

Minha única crítica a Vox fica para sua resolução. Os acontecimentos finais do livro se dão muito rapidamente e, de certa forma, até muito facilmente. Assim, ao mesmo tempo em que algumas passagens ficaram inclusive um pouco confusas, devido à agilidade com que acontecem, finalizei o livro sem sentir o impacto que ele poderia causar se seu final fosse mais desacelerado. Foi uma ótima leitura, sem dúvida alguma, mas que não me marcou ao ser finalizada.

Vox me agradou por tocar em temáticas urgentes e por ter explorado muito bem as emoções da protagonista. Também, adorei ter encontrado no livro noções de linguística tão presentes, por ser essa a formação de Christina Dalcher — a autora certamente soube aplicar com habilidade sua realidade para combiná-la com importantes aspectos da trama. No geral, é uma leitura que recomendo a todos para que seja possível refletir sobre muitos dos pontos em que ela toca; além de um excelente entretenimento em termos do que o livro proporciona, possibilita uma reavaliação de muitos dos pensamentos que nos cercam ao questioná-los.





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5 Respostas para "[Resenha] Vox — Christina Dalcher"

Angela Cunha - 20, dezembro 2018 às (07:12)

Não vejo a hora do meu exemplar chegar!
Um tema forte, pesado que certamente joga o leitor ao enredo de O Conto da Aia(série que amo)
O limite da voz. E isso infelizmente, não está fora de nossa realidade né? Quantas mulheres limitam não só sua voz, mas também seus sonhos!
Mesmo com esta ressalva do final corrido, com certeza, lerei!!!!
Beijo

Anna Mendes - 20, dezembro 2018 às (08:09)

Oi Aione!
Amei a resenha! <3
Fiquei muito curiosa para ler esse livro! Parece ser uma leitura muito intensa, impactante e que proporciona muitas reflexões sobre nossa sociedade atual e sobre como o mundo pode se tornar no futuro.
Vou adicioná-lo na minha lista de desejados! 🙂
Bjos!

Ana I. J. Mercury - 31, dezembro 2018 às (15:05)

Aione, quero demais ler Vox,
mas confesso que estou com medo.
Depois de todos esses problemas terríveis que tivemos nos últimos meses no Brasil (e o pior ainda está por vir….), ainda estou muito aflita e acho que essa realidade do mundo de Vox não está não tão distante de nós.
É importante lermos esse tipo de livro, questionar, lutar para que não percamos nossos direitos.
Vamos ver se tomo coragem e leio logo, rs
bjs

Cassia - 11, março 2019 às (19:41)

Nossa, exatamente essa a sensação que eu tive nos últimos capítulos… acontece tudo tão rápido e tão confuso que me pareceu que ficaram algumas “pontas soltas”.. mas o restante do livro é muito bom.. Apesar do final, vale a pena a leitura, com certeza.

Edvania - 27, fevereiro 2020 às (13:29)

Se a autora tivesse trabalhado um pouco mais nesse final esse livro com certeza teria um impacto ainda mais profundo. Ainda assim, foi uma daquelas leituras que são necessárias e deveria ser feita por todos sem distinção.

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